Rio 44 graus: cidade em estado de alerta para calor extremo

Outros 17 municípios fluminenses também foram alertados para as altas temperaturas; onda de calor atinge outros estados do Sudeste, Sul e Centro-Oeste

Por Agência Brasil | ODS 13 • Publicada em 17 de fevereiro de 2025 - 10:01 • Atualizada em 19 de fevereiro de 2025 - 10:30

Cariocas se protegem do calor no Centro do Rio: temperatura chegou aos 44 graus na segunda-feira, 17/02 (Foto: Tânia Rego / Agência Brasil)

As previsões meteorológicas apontam para temperaturas elevadas na cidade do Rio de Janeiro, principalmente, estas segunda-feira (17/02) e terça-feira (18/02). O Sistema Alerta Rio indica que esses dias podem ser os dias mais quentes da semana, podendo bater o recorde de dia mais quente já registrado em fevereiro, que é 41,8 graus Celsius (°C), no ano de 2023*. “A gente está em um fevereiro muito seco, com pouca chuva. A atual média [de chuva] agora no dia 16 de fevereiro é de apenas 5 milímetros (mm). Teremos mais uma semana sem chuva, e as previsões para o fim de fevereiro não indicam uma quantidade muito grande de chuva. Podemos ter um dos fevereiros mais secos da história”, informou Raquel Franco, a meteorologista chefe do Sistema Alerta Rio.

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Diante desse cenário, a Prefeitura do Rio anunciou que a população poderá contar com a abertura de 58 pontos de resfriamento. “São áreas que possibilitam sombra, pontos de hidratação e banheiros em Naves do Conhecimento e parques municipais, vilas olímpicas e outros equipamentos municipais”, indicou o chefe-executivo do Centro de Operações e Resiliência (COR-Rio), Marcus Belchior, acrescentando que a lista dos locais estará disponível no aplicativo do COR. As informações foram dadas em entrevista coletiva no fim de semana, convocada pelo próprio prefeito do Rio, Eduardo Paes. No domingo (16/02), a escola de samba Beija-Flor de Nilópolis cancelou ensaio previsto para a orla de Copacabana por conta do calor extremo.

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A rede de saúde municipal estará preparada para o aumento de atendimentos de casos decorrentes das altas temperaturas. A recomendação é aumentar a ingestão de água, fazer uso de roupas leves e evitar a exposição direta ao sol nos horários de pico de calor; também deverá ser respeitada a parada para hidratação de funcionários que trabalham expostos ao sol. “Nós estamos no Calor 3 e temos uma probabilidade e possibilidade enorme de irmos para o calor 4 nesta semana”, apontou o prefeito Eduardo Paes, na coletiva no fim de semana. O monitoramento dos níveis de calor pelo COR-Rio começou em junho do ano passado. A classificação tem cinco níveis de risco que variam conforme a temperatura e a umidade relativa do ar registradas na cidade.

A previsão do prefeito se confirmou: nesta segunda-feira (17/02) o Rio de Janeiro registrou uma temperatura máxima de 44°C, em Guaratiba, na Zona Oeste, estabelecendo um novo recorde histórico desde o início das medições do Sistema Alerta Rio em 2014. A marca supera o recorde anterior de 43,8°C, registrado em novembro de 2023. O município ativou o Nível de Calor 4 (NC4), o segundo mais alto do Protocolo de Enfrentamento ao Calor Extremo.

As preocupações de calor no Rio não estão restritas à capital. A secretaria estadual de Saúde emitiu um alerta de “calor extremo” para 17 municípios neste domingo. Na lista, há cidades da Região Metropolitana como Duque de Caxias e do interior. O alerta foi emitido pelo Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde às prefeituras dos 92 municípios fluminenses. Segundo o documento, o cálculo para definir o estágio do aviso leva em conta a temperatura média dos últimos três dias em comparação com uma série histórica de 10 anos.

Os municípios em alerta de calor extremo são Aperibé, Barra Mansa, Belford Roxo, Cachoeiras de Macacu, Casimiro de Abreu, Duque de Caxias, Guapimirim, Iguaba Grande, Magé, Mangaratiba, Nilópolis, Nova Iguaçu, São Pedro da Aldeia, São Sebastião do Alto, Sumidouro, Três Rios e Volta Redonda.

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) informou que, a partir desta segunda, o país enfrenta uma nova onda uma nova onda de calor, a terceira deste ano, que afeta, além do Rio de Janeiro, os estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, com a possibilidade de se estender para os estados de Goiás e Bahia. O estado de São Paulo tem um alerta emitido pela Defesa Civil em vigor até quarta-feira (19) para as altas temperaturas. As máximas podem chegar a 38°C.

Praia cheia até de noite no verão do Rio: a repetição de dias com o calor intenso e a sensação térmica têm sido as maiores da história (Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil - 22/01/2025)
Praia cheia até de noite no verão do Rio: a repetição de dias com o calor intenso e a sensação térmica têm sido as maiores da história (Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil – 22/01/2025)

Calor intenso e prolongado no Rio

Na capital, o prefeito destacou que o verão carioca sempre foi muito quente e que não é novidade a cidade atingir 40° C nesta época do ano. Essa situação tem se repetido neste ano, mas agora com o agravante de que a intensidade, a repetição de dias com o calor intenso e a sensação térmica têm sido maiores do que o verificado na história. “A gente busca trazer para a população um alerta da semana que vai chegar. Tomara que a meteorologia confirme o sol, mas jogue as temperaturas para baixo. Eu seria o homem mais feliz do mundo se a gente disser que a semana foi inteira de sol, passaremos com sol até o mês de abril, mas a temperaturas permanecerão entre 25°C e 32°C na cidade do Rio de Janeiro. Não é o mais provável”, completou.

Outra observação feita pelo prefeito é que o avanço da ciência permitiu dispor atualmente de mais elementos que mostram os impactos na vida e saúde das pessoas. “No passado, sem as informações que a ciência, a medicina, nos dão hoje, pessoas morriam de calor no Rio de Janeiro em consequência das elevadas temperaturas, e o diagnóstico daquela doença que a pessoa enfrentava não era creditado ao calor. Na medida que a ciência avançou, nós conseguimos identificar os malefícios trazidos pelas temperaduras excessivas na saúde das pessoas “, disse, contando ainda que o avanço da ciência permitiu aprimorar as análises de dados meteorológicos que conseguem hoje prever com certeza maior as temperaturas de períodos mais longos.

O secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, disse que as unidades de saúde municipais registraram um aumento na procura por emergências para o atendimento de pessoas por questão de desidratação. “Só no mês de janeiro, a gente estima que 3 mil pessoas foram atendidas por problemas ligados ao calor ou à desidratação. Tem uma preocupação muito grande com idosos e crianças que têm menos sensação de sede, sentem menos sede e pedem água com mais dificuldades. A gente teve intenções de dois bebês por problema de roupa em excesso. É importante as mamães, principalmente as de primeira viagem, estarem atentas à desidratação das crianças “, disse , apontando ainda a preocupação da secretaria com o uso de ceras de cabelo e filtro solar caseiro, que causam queimaduras de pele. No caso das ceras, elas escorrem com o calor e podem provocar queimaduras de retina, segundo o secretário. “Isso tem sido muito comum, muito frequente nas emergência”, completou.

Os cuidados devem ser redobrados também em pessoas com problemas cardíacos, diabéticos e hipertensos que são mais propensos a descompensação mais rápida. O secretário pediu ainda atenção com os pets para evitar queimaduras nas patas ao serem levados em calçadas e ruas muito quentes.

O calor extremo provoca sintomas como aumento da taxa de respiração, piora na alergia e da asma, agravamento de doença pulmonar obstrutiva crônica, lesões hepáticas, câimbras, espasmos musculares, fraqueza, dores de cabeça, tonteira, irritabilidade, perda de coordenação, confusão mental, delírio, ansiedade, perda de consciência, convulsões, derrames, arritmia, aceleração dos batimentos redução do fluxo sanguíneo para o coração, ataque cardíaco. Além disso, doença e falência renal.

O prefeito Paes e secretários em coletiva sobre o calor: aumento na procura por emergências nos hospitais do Rio para o atendimento de pessoas por desidratação (Foto: Marcos de Paula / Prefeitura do Rio)

Aumento da mortalidade

Pesquisa desenvolvida na pós-graduação da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) indica que as altas temperaturas no Rio de Janeiro estão relacionadas com o aumento da mortalidade na capital fluminense. O calor extremo representa maior risco para idosos e pessoas com diabetes, hipertensão, Alzheimer, insuficiência renal e infecções do trato urinário.

O trabalho é de autoria do doutorando João Henrique de Araujo Morais, que atua como pesquisador do Centro de Inteligência Epidemiológica, da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro. Os números foram analisados separadamente conforme a classificação de Níveis de Calor (NC) do protocolo da Prefeitura do Rio de Janeiro, lançado no ano passado. Os NC variam de 1 a 5 e indicam riscos e ações que devem ser tomadas em cada um deles.

O registro de Nível de Calor 4, quando a temperatura é maior que 40°C durante 4 horas ou mais, está relacionado com um aumento de 50% na mortalidade por doenças como hipertensão, diabetes e insuficiência renal entre idosos. “Em Nível 5, de 2 horas com Índice de Calor igual ou acima de 44°C, esse mesmo aumento é observado e é agravado conforme o número de horas aumenta. Portanto, o estudo confirma que, nesses níveis extremos definidos no protocolo, o risco à saúde é real”, explica o autor do estudo.

Os resultados do estudo alertam para as consequências da emergência climática e para a necessidade de que as cidades criem planos de adaptação ao calor. “Populações específicas estão em alto risco, como trabalhadores diretamente postos ao sol, populações de rua, grupos mais vulneráveis (crianças, idosos, pessoas com doenças crônicas), e populações que vivem nas chamadas Ilhas de Calor Urbano”, diz João Henrique.

*Texto atualizado às 17h de 17/02 para acrescentar que a temperatura na cidade alcançou 44 graus de acordo com o Sistema Alerta Rio

Agência Brasil

A Agência Brasil é uma agência de notícias pública, fundada em 1990 e gerida pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC), estatal do governo brasileiro

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