Pior seca da história leva região de Barcelona a declarar emergência hídrica

Reservatório de água seco na Catalunha: pior estiagem da história leva região de Barcelona a declarar estado de emergência (Foto: Luis Gene / AFP – 15/01/2024)

Plano do governo da Catalunha prevê multas para quem lavar carros ou regar jardins; indústria e agricultura também terão restrições no consumo de água

Por Oscar Valporto | ODS 13 • Publicada em 2 de fevereiro de 2024 - 10:18 • Atualizada em 5 de fevereiro de 2024 - 09:42

Reservatório de água seco na Catalunha: pior estiagem da história leva região de Barcelona a declarar estado de emergência (Foto: Luis Gene / AFP – 15/01/2024)

A região espanhola da Catalunha declarou estado de emergência ao enfrentar a pior seca de sua história. A partir desta sexta-feira, os moradores serão proibidos de lavar seus carros, regar jardins e encher piscinas vazias, como medida adotada para enfrentar a crise. Mais de seis milhões de catalães – 80% da população da região – serão afetados em 200 vilas e cidades, incluindo a capital, Barcelona.

Estamos entrando numa nova realidade climática. É mais do que provável que vejamos mais secas, que serão mais intensas e mais frequentes

Pere Aragonès
Presidente regional da Catalunha

As restrições foram anunciadas depois que os reservatórios caíram para perto de 16% de sua capacidade – são 40 meses (mais de três anos) de estiagem – a pior seca desde que há registros começaram em 1916.  O anúncio de que a região estava entrando na fase mais rigorosa do Plano Especial de Seca (PES)  foi feito nesta quinta,  pelo presidente da Generalitat (governo) da Catalunha, Pere Aragonès, em entrevista coletiva quando apelou aos cidadãos para que lutem juntos contra a seca, como aconteceu no enfrentamento da covid-19: “A crise climática está a pôr-nos à prova como na pandemia”, afirmou.
Esta fase do PES impões as restrições mais severas para a indústria, a agricultura e o consumo doméstico das casas. “É a pior seca já registrada”, reforçou o presidente.

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O abastecimento destas 239 localidades em situação de emergência são responsabilidade da Generalitat, na gestão das bacias internas da região – o restante da população da Catalunha (20%), ao contrário das populações que são alimentadas pelo rio Ebro – no oeste da Província, perto da divisa com Aragão – sob responsabilidade da Confederação Hidrológica, do governo federal, e onde a situação é melhor.

As autoridades catalãs já haviam declararado estado de pré-emergência em novembro. Agora, as altas temperaturas, para o inverno, reduziram os já baixos níveis de água nos reservatórios. “Estamos entrando numa nova realidade climática”, disse o presidente regional da Catalunha, Pere Aragonès, ao anunciar a emergência. “É mais do que provável que vejamos mais secas, que serão mais intensas e mais frequentes”. As multas previstas nesta fase do plano são pesadas. Lavar um carro, regar um jardim ou encher uma piscina pode resultar em multas até 50€ (50 euros, quase R$ 300 reais). Se um cidadão em Barcelona cometer uma “crise hídrica” grave, poderia ser multado em até 3 mil euros (cerca de R$ 17 mil reais)

Na próxima semana, as autoridades catalãs reunir-se-ão com Teresa Ribera, Ministra da Energia e Clima de Espanha, para discutir a possibilidade de retirar água de outros territórios, se necessário, nos próximos meses. “Nossas reservas estão abaixo de 16%. A situação é crítica em Barcelona e nos arredores de Girona, por isso temos que tomar medidas mais fortes”, disse Laura Vilagrà, autoridade hídrica do governo catalão.

A Espanha está familiarizada com condições de seca extrema e outras áreas do país também passam por estiagens prolongadas, incluindo a Andaluzia, no sul, e a região oriental de Valência. No entanto, a Catalunha, que faz fronteira com o sul de França, está menos habituada a essas condições, forçando as autoridades a considerarem trazer água de navio para Barcelona, medida que foi adotada anteriormente em 2008.

Outras restrições iniciais de emergência incluem uma redução acentuada na utilização de água para a agricultura e a indústria, e a limitação do abastecimento de água por habitante por dia. As autoridades da Catalunha também planejam reduzir a pressão da água. No entanto, a cidade de Barcelona não espera que esta medida seja implementada nos agregados familiares até julho.

O plano elaborado pelas autoridades está dividido em três fases, que irão variar dependendo do agravamento da seca. Na primeira fase, o consumo de água está limitado a 200 litros por pessoa por dia; na segunda fase, cairá para 180 litros; e na fase mais grave, para 160 litros. Para contextualizar, um banho de 10 minutos consome em média 200 litros de água. Segundo os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística, os espanhóis utilizam em média 133 litros de água por dia.

A agricultura e a indústria também enfrentarão cortes. A declaração de emergência regional visa reduzir a água para irrigação das culturas em 80%, para a pecuária em 50% e para a indústria em 25%. “Barcelona e seus arredores abrigam cinco ou seis milhões de pessoas e essa densidade populacional a torna uma área muito vulnerável”, disse Anna Barnadas, secretária de ação climática do governo catalão, à BBC. Ela acrescentou que uma estratégia de seca do governo catalão, elaborada em 2021, já diversificou o abastecimento de água da região, tornando-a menos dependente de reservatórios e poços. Algumas restrições ao uso da água já foram implementadas.

A Catalunha registrou 40 meses consecutivos de chuvas abaixo da média. Especialistas asseguram que as mudanças climáticas estão impulsionando a seca extrema na província, preveem que toda a região do Mediterrâneo aqueça mais rapidamente do que muitas outras partes do mundo nos próximos anos. “O Sul da Europa está enfrentando condições de seca potencialmente críticas. As regiões mais afetadas são a costa mediterrânica de Espanha, o centro e sul de Itália, a Grécia e as ilhas mediterrânicas”, informou, em nota à Euronews, o Serviço Copernicus. “Estas condições, combinadas com a baixa pluviosidade e a cobertura de neve, levantam preocupações para a próxima Primavera e Verão. A gestão dos recursos hídricos deve ser monitorizada e planejada”.

Annelies Broekman, especialista em gestão de água do instituto de pesquisa CREAF , em Barcelona, lembrou que  as secas são naturais no padrão climático mediterrânico. “O que é muito dramático são as projeções das alterações climáticas. … O que estamos a ver é um aumento na intensidade e frequência das secas”, afirmou à agência Associated Press.

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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