Lockdown climático: negacionistas usam pandemia para alimentar fake news ambiental

Laura Ingraham em anúncio de seu programa com foco no “próximo lockdown climático”: teoria conspiratória impulsionada por grupos negacionistas (Foto: Reprodução)

Estudo mostra como manchetes mal formuladas ajudaram a impulsionar falsa narrativa de que governos preparam bloqueios para enfrentar crise climática

Por Oscar Valporto | ODS 13 • Publicada em 26 de outubro de 2021 - 09:51 • Atualizada em 2 de novembro de 2021 - 09:15

Laura Ingraham em anúncio de seu programa com foco no “próximo lockdown climático”: teoria conspiratória impulsionada por grupos negacionistas (Foto: Reprodução)

Lockdown climático: se você ainda não ouviu falar disso, provavelmente vai ouvir em breve desta nova teoria da conspiração, baseada em fake news e manchetes infelizes. Negacionistas da crise climática e outros radicais – que, por exemplo, atacaram o lockdown durante a pandemia e levantaram suspeitas sobre as vacinas contra a covid-19 – estão promovendo, desde o ano passado, uma nova onda de desinformação sobre a suposta organização de governos e agências internacionais de lockdows contra as mudanças climáticas.

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Estudo do Institute for Strategic Dialogue (ISD), organização internacional que luta contra o extremismo e a polarização, explica como essa teoria da conspiração, baseada em fake news, vem divulgando que os governos vão privar as pessoas de suas liberdades sob o pretexto de combater a mudança climática. “A disseminação da teoria do ‘Climate Lockdown’ é uma lição sobre como qualquer mensagem pode ser transformada em arma por aqueles com objetivos escusos – seja para lucrar com a desinformação e indignação fabricadas, para alimentar a desconfiança nas instituições ou para confirmar preconceitos existentes sobre certos grupos e causas”, afirma o relatório, divulgado esta semana.

Em setembro de 2020, os analistas do ISD começaram a perceber uma tendência de crescimento do termo em inglês ‘climate lockdown’ (lockdown, ou bloqueio, climático) nas redes sociais. “Este aumento no volume parecia ser impulsionado principalmente pelos céticos do clima, que alegaram que a pandemia de covid-19 era apenas um precursor para a futura ‘tirania verde’ e que tanto os governos quanto as elites globais restringiriam as liberdades civis sob o pretexto da mudança climática”, afirma o relatório, produzido pelos pesquisadores Eisha Maharasingam-Shah e Pierre Vaux, do ISD.

O estudo identificou que, desde março de 2020, dedicados negacionistas da crise climática vinham tentando gerar uma onda em torno da teoria do lockdown climático, mas receberam pouca ou nenhuma atenção nas redes sociais. Essa teoria conspiratória, sem nenhuma base e apoiada em fake news, acabou conseguindo impacto meses depois. “A narrativa só ganhou impulso online após uma série de manchetes e postagens mal elaboradas de instituições convencionais, incluindo veículos de comunicação como o The Guardian, e entidades internacionais como o Fórum Econômico Mundial, que forneceram munição para um ecossistema de mídia reacionário”, apontam os analistas do ISD.

O estudo destaca que a teoria do lockdown climático foi disseminada de maneira diferente de outras ondas de desinformação, baseadas somente em fake news e informações distorcidas divulgadas em nichos extremistas, que depois acabam disseminadas pelas redes sociais e chegando até a grande veículos de comunicação “Pelo contrário, a narrativa foi aproveitada pelos meios de comunicação de direita e seus chamados especialistas apenas depois de citações enganosas no ‘mainstream liberal'”, reforçam os autores.

A disseminação da teoria conspiratória começou a explodir a partir de um artigo da economista Mariana Mazzucato, do University College of London na Project Syndicate, organização de mídia que publica online e distribui artigos para outros veículos, com o título ‘Evitando o lockdown climático”. O texto de Mazzucato não defendia a implantação de bloqueios para frear a crise climática mas apontava o que os governos precisavam fazer agora para evitar que, no futuro, o agravamento das condições climáticas levasse a medidas radicais.

O estudo mostra que artigo ganhou mais atenção ao ser reproduzido no site de notícias financeiras Marketplace e viralizou ao ganhar um enquadramento sensacionalista pelo Newsbusters, site que se apresenta o “principal cão de guarda da mídia na América, especializado em documentar, expor e neutralizar o preconceito da mídia liberal”. Os analistas do IDS explicam como, a partir daí, a teoria da conspiração foi incendiando as redes sociais até chegar a TV no fim do ano passado. Laura Ingraham, apresentadora da Fox News, escreveu que “os lockdows climáticos seguiriam os lockdows da covid-19” nas redes sociais e passou a incluir o tema em seu programa – O Ângulo Ingraham – na rede de TV americana, com convidados militantes do negacionismo climático.

De acordo com o relatório do ISD, o tema pegou fogo de vez agora em 2021 a partir de duas publicações infelizes. Em fevereiro, o Fórum Econômico Mundial (WEF) excluiu e se desculpou por um tweet que sugeria que os bloqueios estavam “melhorando discretamente as cidades”, apesar da postagem estar vinculada a um artigo discutindo sensores de terremoto. “Seu tweet mal formulado em fevereiro levou alguns meios de comunicação conservadores, como Sky News Australia, a apresentar ‘bloqueios climáticos’ como uma ameaça genuína ligada a esta conspiração”, destacam os autores.

Em seguida, em março, foi identificada a maior viralização do tema lockdown climático por negacionistas e seus aliados a partir da postagem pelo jornal britânico The Guardian com uma manchete enganosa sugerindo que seria necessário implantar bloqueios “a cada dois anos” para cumprir as metas climáticas do Acordo de Paris. “Após a reação do Twitter por causa dessa linguagem alarmista, o jornal revisou a manchete para uma alternativa neutra. No entanto, essa revisão levou ao maior pico (até então) no conteúdo de bloqueio climático desde que a narrativa emergiu”, mostra o estudo. Foram milhões de citações nas redes sociais.

De lá para cá, a teoria da conspiração de bloqueio climático voltou a viralizar com novos programas dos apresentadores Laura Igraham e Carson Tucker na Fox News, e chegou até a campanha eleitoral no Canadá com a líder do Partido Conservador, Cheryl Gallant, distribuindo material acusando o governo do Partido Liberal de estar preparando uma legislação para promover “bloqueios contínuos em resposta a uma emergência climática mal definida”.

O relatório da IDS alerta que essa campanha de desinformação e conspiração sobre lockdown climático pode acabar provocando atrasos na agenda climática. “Postagens nas redes sociais estão criando a perigosa impressão de que as ambições dos líderes climáticos são demais”, afirmou Jeanne King, gerente de política do IDS, que supervisionou o estudo em entrevista a Euronews, destacando que a COP26 – a Conferência do Clima em Glasgow a partir de 1º de novembro – deve ser alvo de ataques. “Resta saber se os ataques de informação contra a COP se concentrarão em artigos específicos de negociação, como alvos para a eliminação do carvão, ou se as coisas sairão do curso por este enquadramento de guerra cultural mais amplo que vimos no lockdown climático”, acrescentou.

O estudo aponta cuidados a serem tomados por ambientalistas, cientistas e todos preocupados com a crise climática. “Portanto, é fundamental para aqueles que se comunicam, não apenas sobre o clima, mas também sobre saúde pública e política em geral, estarem cientes dessa estrutura narrativa e da maneira como tais frases são transformadas em armas. O setor de clima e os ativistas não devem alimentar esse motor, evitando usando linguagem dramática ou ameaçadora para capturar manchetes”, alertam os autores.

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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10 comentários “Lockdown climático: negacionistas usam pandemia para alimentar fake news ambiental

  1. Adamastor Magalhães disse:

    Boa tarde, gostei da matéria, mas gostaria de deixar uma reclamação acerca do uso correto e adequado da lingua portuguesa. Podemos parar de escrever Fake news, que de não fazer sentido em português e já ter sido tão banalizado como expressão, perdeu todo o valor?
    Vamos escrever corretamente em português claro o que se refere este problema de fake news? São notícias falsas, mentirosas, caluniosas. Dito e escrito assim em português, percebem o quanto a informação fica mais grave e objetiva para atingir o público?
    Estamos no Brasil, logo escrevam em português! Não faz sentido usar expressões de outro idioma se temos o equivalente na nossa língua.

    Obrigado
    AP

  2. Marcos disse:

    As mudanças Climáticas existem. Não nego nego isso. O ponto é que já realizam um domingo pelo clima e a própria carta papal laudato si de 2015 trata sobre colocar o dia de guarda deles como um dia de descanso. Artigo [ublicado na Yale University trata da imposição de um dia de descanso pelo clima. E tal imposição vai contra a liberdade religiosa dos indivíduos.

    E de acordo com minha fé não devemos seguir mandamento humano quando esse vai contra os mandamentos de do Criador do Universo. Vemos que um líder religioso, de um religião tem sido agente de união sobre o clima entre cientistas, governos e religiosos. O risco é voltarmos a a sermos coagidos por decisões de uma liderança religiosa que construiu doutrinas com sangue de seus membros durante a idade média. Líder que é visto com infantilidade. O catecismo não é e não deve ser implantado para o mundo todo, contra a liberdade religiosa e não apoiamos perdas do direito de escolher seguir o dia de guarda separado por Jesus Cristo, que identifica que Ele é o Criador e nossos Senhor. Aqueles que querem adorar ao planeta são livres para tal.

    Mas seguir a proposta de não trabalharmos no 1o dia da semana por decisão governos não será sábio..

  3. Maria disse:

    Quando acontecer vcs verão que não é conspiração,afinal se a três anos alguém dissesse que o mundo entraria em uma pandemia já iriam publicar NOVA FAKENEWS

  4. Joe biden disse:

    Hj está provado q não e conspiração nem fale news. A maior fale news e isso q vcs fazem com quem quer passar a verdade para o mundo. Vem mto mais coisa aí e q vcs mascaram e tentar calar as pessoas q pesquisam de verdade e expõe a podridão desses governos e o controle global q vcs estão implantando no mundo.

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