Crise climática explica aceleração do furacão Helene com mais chuva e mortes nos EUA

Para cientistas, águas mais quentes do Golfo do México fizeram furacão passar da categoria 1 para 4 em menos de 24 horas; número de mortos passa de 130

Por Oscar Valporto | ODS 13 • Publicada em 1 de outubro de 2024 - 08:56 • Atualizada em 3 de outubro de 2024 - 09:52

Destruição provocada pelo furacão na Flórida: com águas mais quentes pela crise climática, Helene foi de furacão categoria 1 para 4, avançou mais pelo continente e provocou chuvas mais intensas (Foto: Chandan Khanna / AFP – 28/09/2024)

“Histórico”, “trágico”, “catastrófico” – cientistas e autoridades buscam adjetivos para o furacão Helene, que matou mais de 100 pessoas nos Estados Unidos, desde a noite de quinta-feira (26/09), quando atingiu o estado da Flórida. Ventos, chuvas, enchentes e deslizamentos alcançaram cinco estados do leste do país, deixando um rastro de destruição e quase quatro milhões de pessoas sem energia em suas casas. A devastação explica o catastrófico e o trágico; o histórico fica por conta da rapidez com que o furacão se intensificou, da quantidade de chuva despejada e pela distância que Helene percorreu do sul da Flórida, na costa do Golfo do México, até estados mais ao sudeste dos EUA.

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A crise climática está no centro da explicação para o histórico furacão. “No passado, os danos causados por furacões eram principalmente causados pelo vento, mas agora estamos vendo muito mais danos causados pelas chuvas e isso é resultado das águas quentes, que são resultado das mudanças climáticas”, afirmou, em entrevista à rede CBS, a administradora-geral da Agência Federal de Gestão de Emergências dos EUA (FEMA), Deanne Criswell.

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Helene é o oitavo furacão de categoria 4 ou 5 (as maiores em intensidade de ventos) do Atlântico a atingir os EUA nos últimos oito anos; é o mesmo número desses furacões intensos que atingiram o país nos 57 anos anteriores. “Esta tempestade demorou um pouco para se desenvolver, mas quando se desenvolveu, intensificou-se muito rapidamente – e isso é por causa das águas quentes no Golfo que estão criando mais tempestades que estão atingindo esse nível de categoria principal”, destacou a administradora da FEMA.

De acordo com os especialistas da agência, essas temperaturas crescentes no Golfo estavam criando condições que levaram a “danos significativos à infraestrutura” em vários estados. Deanne Criswell disse ainda à CBS que a “enchente histórica” ​​na Carolina do Norte provocada pelas tempestades remanescentes do furacão Helene foi além do que qualquer um poderia ter imaginado na área. “Não sei se alguém poderia estar totalmente preparado para a quantidade de inundações e deslizamentos de terra que estão enfrentando agora”, acrescentou Criswell.

Helene atingiu a região rural de Big Bend, na Flórida, como um furacão de categoria 4 com ventos de 225 km/h na noite de quinta-feira – a tempestade mais poderosa já registrada a atingir esta região. Apesar de ter enfraquecido, pela medição dos ventos, na sua trajetória pelos estados da Geórgia, das Carolinas (do Sul e do Norte) e do Tennessee, Helene continuou gerando fortes tempestades, o que provocou enchentes e deslizamentos. Chuvas remanescentes de Helena chegaram até o estado do Kentucky, a 217 quilômetros do local onde o furacão atingiu o solo na Flórida. “Em algumas dessas áreas, é preciso voltar mais de 100 anos para o registro de inundações tão graves. Em alguns pontos, mais de 300 anos”, disse o meteorologista Brian Hurley, do Centro de Previsão do Tempo dos EUA, à Agência Bloomberg.

Até a noite de segunda-feira, foram confirmadas, pelo menos, 132 mortes provocadas pela passagem do furacão nos cinco estados; ainda há dezenas de desaparecidos. A maioria das mortes confirmadas até agora ocorreu na Carolina do Norte, onde chuvas torrenciais causaram inundações e deslizamentos de terra devastadores: são, pelo menos, 56 mortos no estado e outros 30 na vizinha Carolina do Sul. Milhões de pessoas também ficaram sem eletricidade na região. Cidades inteiras ficaram completamente isoladas em partes do oeste da Carolina do Norte e leste do Tennessee depois que as águas da enchente varreram, destruindo pontes e estradas principais.

A região montanhosa do oeste da Carolina do Norte foi a mais violentamente atingida pelas chuvas trazidas por Helene. Casas e pontes foram levadas pela água, vilas arrasadas e a cidade turística de Asheville ficou isolada. As autoridades do Condado de Buncombe, na mesma região, calculam em pelo menos 30 vítimas fatais em um deslizamento de terra que também arrastou pontes e parte da estrada. Socorristas estão concentrando seus esforços para chegar a essas comunidades, mas o resgate está difícil com tantas estradas intransitáveis. O governador da Carolina do Norte, Roy Cooper, previu que o número de mortos aumentaria à medida que equipes de resgate e outros trabalhadores de emergência chegassem a áreas isoladas por estradas destruídas, infraestrutura defeituosa e inundações generalizadas. “A tempestade trouxe uma devastação catastrófica… de proporções históricas””, afirmou.

A cidade de Asheville, na Carolina do Norte, submersa pelas chuvas remanescentes da passagem do furacão Helene: número de mortos passa de 130 (Foto: Melissa Sue Gerrits / Getty Images via AFP - 29/09/2024)
A cidade de Asheville, na Carolina do Norte, submersa pelas chuvas remanescentes da passagem do furacão Helene: número de mortos passa de 130 (Foto: Melissa Sue Gerrits / Getty Images via AFP – 29/09/2024)

Águas mais quentes, furacões mais devastadores

Meteorologistas nos EUA alertam que tempestades enormes são alimentadas pelo calor do oceano, convertendo-o em energia cinética na forma de vento. Temperaturas oceânicas mais altas significam mais combustível para os motores da tempestade. De acordo com o relatório mais recente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, a proporção de furacões que se enquadram nas categorias 4 e 5 mais intensas provavelmente aumentará à medida que o planeta se aquece.

As temperaturas da superfície do mar ao longo do caminho que Helene percorreu pelo Caribe e Golfo do México estavam cerca de 1 a 2°C mais altas do que a média, de acordo com dados do Coral Reef Watch, da NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration, Administração Nacional Oceânica e Atmosférica). Helene foi o oitavo furacão de categoria 4 ou 5 do Atlântico a atingir os EUA nos últimos oito anos.

Os cientistas acreditam que as mudanças climáticas farão com que furacões como Helene também provoquem mais chuva. Pesquisadores nos EUA apontam que, à medida que as tempestades se tornam mais fortes, elas não se dissipam tão rapidamente, o que significa que podem avançar mais para o interior, como aconteceu com Helene, e despejar chuva em lugares que não estavam preparados.

Meteorologistas do Centro de Previsão do Tempo dos EUA alertaram ainda que aas mudanças climáticas também estão fazendo com que furacões de rápida intensificação como Helene se tornem mais comuns. Essas tempestades que se fortalecem rapidamente antes de atingirem o solo são perigosas porque podem pegar os meteorologistas desprevenidos e dar às populações locais menos tempo para se preparar ou evacuar. Helene passou de uma tempestade de categoria 1 para uma tempestade de categoria 4 em menos de um dia. É uma das 10 tempestades desde 1950 que se fortaleceram em cerca de 65 km/h nas 24 horas antes de atingirem a costa; cinco dessas 10 tempestades ocorreram nos últimos sete anos.

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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