Caminhos para a economia verde no Brasil

Transição eficaz para uma economia de baixo carbono só será possível com o envolvimento de governos, setor privado e sociedade civil

Por Gláucia Fernandes | ArtigoODS 12ODS 9 • Publicada em 27 de maio de 2025 - 09:32 • Atualizada em 27 de maio de 2025 - 11:47

Usina eólica na Paraíba: políticas de fomento à energia solar e eólica têm fortalecido a matriz energética renovável (Foto: Ricardo Stuckert / PR / Agência Brasil – 22/03/2023)

As mudanças climáticas representam um dos maiores desafios globais do século XXI, com impactos diretos sobre a economia mundial. Eventos extremos, elevação do nível do mar e alterações nos padrões de temperatura afetam setores como agricultura, infraestrutura, turismo e saúde, impondo custos expressivos às nações. Além dos danos físicos e sociais, há riscos crescentes de desvalorização de ativos vinculados a combustíveis fósseis e a urgente necessidade de investimentos em adaptação e mitigação.

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No Brasil, os efeitos econômicos já são significativos. De acordo com o Banco Mundial, secas e enchentes têm causado perdas anuais estimadas em R$ 13 bilhões, o equivalente a 0,1% do PIB de 2022. Além disso, entre 800 mil e 3 milhões de brasileiros correm o risco de cair na pobreza extrema até 2030 em decorrência de choques climáticos. Esses dados reforçam a necessidade de uma transição eficaz para uma economia de baixo carbono, que só será possível com o envolvimento coordenado de governos, setor privado e sociedade civil, apoiados por instrumentos financeiros inovadores e ações educativas consistentes.

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Nesse contexto, as parcerias público-privadas (PPPs) desempenham um papel fundamental ao viabilizar projetos sustentáveis sem sobrecarregar os orçamentos públicos. Ao aliar a expertise operacional e a capacidade de investimento do setor privado ao poder de articulação e regulamentação do setor público, as PPPs têm potencial para acelerar a implementação de soluções em energia limpa, infraestrutura resiliente e tecnologias de baixo carbono. Iniciativas bem estruturadas nesse formato têm resultado em avanços concretos, como redes inteligentes de energia, transporte sustentável e projetos de captura e armazenamento de carbono.

No Brasil, o Programa Nacional de Mobilidade Urbana Sustentável incentiva o uso de ônibus elétricos e a ampliação de ciclovias, enquanto políticas de fomento à energia solar e eólica têm fortalecido a matriz energética renovável. Em 2024, o país avançou em políticas climáticas, com destaque para ações de controle do desmatamento, precificação de emissões e restauração florestal – esta última com potencial de reduzir até 80% das emissões em comparação aos níveis de 2005.

O financiamento climático surge como motor central dessa transição. Investimentos em energias renováveis, eficiência energética e infraestrutura resiliente exigem instrumentos financeiros escaláveis, como títulos verdes, fundos sustentáveis e subsídios públicos. Organizações multilaterais, como o Banco Mundial e o Fundo Verde para o Clima, têm papel estratégico no apoio aos países em desenvolvimento, enquanto o setor privado aumenta sua participação por meio de novas oportunidades de mercado associadas à economia de baixo carbono. No Brasil, o BNDES oferece linhas de crédito específicas para energia limpa e o mercado de títulos verdes superou US$ 1 trilhão globalmente em 2023, evidenciando o crescente interesse dos investidores. Paralelamente, o país avança na criação de um sistema de precificação de carbono, que poderá ampliar os incentivos à redução de emissões.

Além das políticas e dos investimentos, a transformação rumo à sustentabilidade exige mudanças culturais profundas. A educação ambiental deve ser promovida em todos os níveis, desde o ensino básico até a formação profissional e corporativa. A inclusão de temas ambientais nos currículos escolares, conforme previsto no Plano Nacional de Educação, é essencial para preparar as novas gerações. Ao mesmo tempo, empresas têm investido na capacitação de seus colaboradores, promovendo treinamentos sobre práticas sustentáveis e uso eficiente de recursos. Essa conscientização amplia a adoção de soluções inovadoras e fortalece o compromisso coletivo com a transição verde.

Para que essa nova economia seja efetiva e justa, é fundamental que ela promova inclusão e bem-estar social. O reinvestimento social deve garantir que os benefícios da transição sejam amplamente distribuídos, com foco em emprego digno, acesso à energia limpa e redução das desigualdades. Políticas como o Programa Bolsa Verde incentivam práticas sustentáveis em comunidades vulneráveis, contribuindo para a justiça climática. Programas de transição justa também têm papel relevante ao apoiar a reconversão profissional de trabalhadores oriundos de setores poluentes, fortalecendo a resiliência econômica e social.

A transição para uma economia de baixo carbono representa, ao mesmo tempo, um imperativo ambiental e uma oportunidade de desenvolvimento. Com políticas estratégicas, financiamento adequado e educação para a sustentabilidade, é possível mitigar os impactos das mudanças climáticas enquanto se promove um crescimento mais inclusivo, resiliente e equilibrado. O êxito dessa jornada dependerá da colaboração entre governos, empresas e cidadãos, em um esforço conjunto para construir um futuro sustentável para as próximas gerações.

Gláucia Fernandes

Gláucia Fernandes é professora adjunta de Finanças no Coppead/UFRJ; é formada em Economia pela UFV, mestre em Economia pela UFJF e doutora em Administração pela PUC-Rio, onde também realizou pós-doutorado. Foi Visiting Scholar na Universidade do Texas, atuou como pesquisadora na FGV Energia e coordenou o MBA de Negócios do Setor Elétrico na FGV.

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