Amazônia, lugar de potência

Plantação de café em projeto agroflorestal no Amazonas: geração de riqueza com a floresta em pé para garantir a potência da Amazônia (Foto: Michel Mello / Secom/AM -01/10/2020 )

É urgente atualizar o modelo econômico com a geração de riqueza com a floresta em pé a geração de riqueza e sanando as desigualdades na região

Por Marina Grossi | ArtigoODS 12 • Publicada em 8 de agosto de 2023 - 09:24 • Atualizada em 21 de novembro de 2023 - 19:44

Plantação de café em projeto agroflorestal no Amazonas: geração de riqueza com a floresta em pé para garantir a potência da Amazônia (Foto: Michel Mello / Secom/AM -01/10/2020 )

A Amazônia está em alta. A confirmação da realização da Conferência do Clima da ONU, a COP30, em Belém, em 2025, já atrai os olhares do mundo para a região e será uma grande oportunidade para o Brasil mostrar empenho na ação climática e para frear a perda da biodiversidade. Antes, veremos a Cúpula da Amazônia, marcada para os dias 8 e 9 de agosto na capital paraense, que vai reunir, pela primeira vez em 45 anos, chefes de Estado dos países membros da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) – Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela. Na pauta estarão perspectivas de preservação da Amazônia, manejo de sua bacia hidrográfica, combate à pobreza, fome e desigualdades regionais e ao crime, além da atração de recursos para a região.

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Um dos objetivos do evento é construir uma posição conjunta dos países amazônicos para ser levada à COP28, nos Emirados Árabes, em novembro. O bloco prepara uma declaração e deve assumir o compromisso de zerar o desmatamento na região até 2030, tal como a meta assumida pelo Brasil e antecipada para 2028. Existe a intenção por parte do governo brasileiro de construir um observatório regional da Amazônia, com o objetivo de produzir dados sobre a região para orientar políticas públicas nos oito países com territórios cobertos pela floresta.

Além dos representantes governamentais, é esperada uma participação ampla da sociedade civil em eventos paralelos durante a Cúpula da Amazônia. O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) vai participar de vários debates, antes e depois da cúpula. Um deles é o seminário promovido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), onde serão discutidas inovação, escala e novas soluções financeiras para mobilização de capital e atração de investimentos. O CEBDS também está organizando eventos sobre soluções climáticas naturais e biodiversidade, sendo um deles em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas e outras organizações.

A Amazônia é peça-chave para que a humanidade alcance o objetivo do Acordo de Paris, que é evitar que a temperatura média global se eleve acima de 1,5ºC até o final do século. Metade das emissões brasileiras de gases de efeito estufa advém de mudanças no uso da terra, sendo o desmatamento ilegal nossa maior mácula.

Uma nova economia para a Amazônia é mais do que necessária: só na Amazônia Legal brasileira, o potencial de aumento do Produto Interno Bruto (PIB) é da ordem de R$ 40 bilhões anuais, com geração de 312 mil empregos adicionais até 2050, segundo estudo recente do WRI Brasil em parceria com mais de 70 pesquisadores. Isso seria possível com o fortalecimento da bioeconomia e das cadeias produtivas da sociobiodiversidade brasileira, modelo que pode ser aplicado a todos os países amazônicos. Os produtos da economia da floresta em pé na Amazônia, por exemplo, geraram uma receita anual de US$ 298 milhões entre 2017 e 2019, o que é pouco, perante seu potencial – globalmente, o mercado de produtos compatíveis com a floresta movimentou US$ 176,6 bilhões ao ano.

O CEBDS propõe que, até 2030, ao menos dois itens na balança comercial brasileira sejam produtos oriundos da bioeconomia, alcançando por meio do fomento a essas atividades um incremento de ao menos 1% do PIB. Essa sugestão foi encaminhada ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como parte das sugestões do setor empresarial ao Plano de Transição Ecológica, que está sendo encabeçado pela pasta.

A Amazônia teve sua ocupação incentivada especialmente a partir das décadas de 1960 e 1970, em um modelo que prometia incentivos fiscais e financiamento para atividades como a pecuária extensiva, e também inaugurou grandes obras, de hidrelétricas a estradas, como a Transamazônica. No entanto, a visão da época era míope em relação aos serviços ecossistêmicos gerados pela floresta, pois desmatar era não só permitido, como também incentivado. Hoje, com o avanço do conhecimento científico sobre a importância do bioma amazônico para as pautas do clima e da biodiversidade, é urgente atualizar o modelo econômico. As empresas associadas ao CEBDS defendem a geração de riqueza com a floresta em pé e sanando as desigualdades que assolam a região – no acesso à saúde, educação, conectividade, saneamento básico, entre tantas outras.

No ano passado, o CEBDS, em parceria com o Idesam, mapeou a experiência de empresas associadas que operam na região. Foram levantadas 143 iniciativas, de 53 companhias, que beneficiam diretamente mais de 50 mil pessoas. São negócios como restauração de áreas degradadas, capacitação profissional, desenvolvimento de startups, agricultura sustentável e de maior produtividade, extrativismo e inteligência artificial na prevenção ao desmatamento. É uma amostra do que pode ser feito na região e de como negócios tradicionais e disruptivos podem conviver, gerar riquezas e valor compartilhado a partir da compreensão da lógica da floresta e das pessoas que vivem nela.

Porém, é preciso ganhar escala a partir da conexão com políticas públicas que combatam de modo firme o desmatamento e que gerem os incentivos econômicos certos para essa nova economia amazônica que precisa emergir e será um grande diferencial para o Brasil no cenário global. É preciso dar centralidade à Amazônia, olhar para toda a sua potência e curar as chagas de um passado em que o plano de ocupação se converteu em devastação.

Marina Grossi

Marina Grossi, economista, é presidente do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), entidade com mais de 100 empresas associadas cujo faturamento somado equivale a quase 50% do PIB brasileiro. Foi negociadora do Brasil na Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima entre 1997 a 2001 e coordenadora do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas entre 2001 e 2003.

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