Rio será um dos primeiros estados a ter decréscimo populacional

Vista aérea da favela de Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio. Até 2070, a população do Estado deve ter quase 3 milhões de habitantes a menos. Foto Custódio Coimbra

Projeções mostram que população cairá de 17,2 milhões em 2022 para 15,5 milhões em 2070. São Paulo deve ter a maior que absoluta, cerca de 5 milhões de habitantes

Por José Eustáquio Diniz Alves | ArtigoODS 11 • Publicada em 16 de setembro de 2024 - 09:49 • Atualizada em 18 de setembro de 2024 - 15:13

Vista aérea da favela de Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio. Até 2070, a população do Estado deve ter quase 3 milhões de habitantes a menos. Foto Custódio Coimbra

O Brasil está dando um cavalo-de-pau na sua dinâmica demográfica. O Brasil tinha pouco mais de 3 milhões de habitantes em 1800, passou para 17 milhões em 1900 e atingiu mais de 170 milhões no ano 2000. A população brasileira cresceu cerca de 50 vezes em 200 anos. Mas este crescimento exponencial foi se arrefecendo nas últimas décadas, deve atingir o crescimento zero em menos de 20 anos e vai iniciar uma fase inédita de decrescimento populacional contínuo a partir de 2042.

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As novas projeções populacionais do IBGE (revisão 2024) indicam que a população total do Brasil era de 174,7 milhões de habitantes no ano 2000, subiu para 210,9 milhões em 2022, deve chegar ao pico populacional de 220,4 milhões em 2041 e deve iniciar um período de encolhimento a partir de 2042, devendo chegar a 199,2 milhões de habitantes em 2070. Pela primeira vez na história, a população brasileira experimentará uma redução continuada e consistente de sua população.

O gráfico abaixo apresenta o tamanho da população das cinco grandes regiões do Brasil, entre o ano 2000 e 2070. Nota-se que todas as regiões apresentam crescimento entre 2000 e 2030, mas vão apresentar decrescimento ao longo das décadas seguintes. A região Sudeste, a maior do país, tinha 74,8 milhões de habitantes no ano 2000, passou para 88,6 milhões em 2024, deve chegar ao pico de 90 milhões em 2036, iniciando, em seguida, o decrescimento até atingir 78,6 milhões de habitantes em 2070 (o Sudeste vai perder cerca de 10 milhões de habitantes entre 2036 e 2070).

O Nordeste, a segunda maior região do país, tinha uma população de 49 milhões de habitantes no ano 2000, passou para 57,1 milhões em 2024, deve chegar ao pico de 58,1 milhões em 2037 e vai decrescer para 51 milhões de habitantes em 2070 (o Nordeste vai perder 7 milhões de habitantes entre 2037 e 2070). A região Sul tinha 25,5 milhões de habitantes no ano 2000, passou para 31,1 milhões em 2024, deve atingir o pico de 33,2 milhões em 2046, devendo diminuir para 31 milhões em 2070 (a região Sul vai perder cerca de 2 milhões de habitantes entre 2046 e 2070).

A região Norte tinha uma população de 13,3 milhões de habitantes no ano 2000, passou para 18,7 milhões em 2024, deve chegar ao pico de 20,4 milhões em 2048 e vai decrescer para 19,2 milhões de habitantes em 2070 (o Norte vai perder 1,2 milhão de habitantes entre 2048 e 2070). A região Centro-Oeste tinha 12,1 milhões de habitantes no ano 2000, passou para 17,1 milhões em 2024, deve atingir o pico de 20 milhões em 2056, devendo diminuir para 19,4 milhões em 2070. A região Centro-Oeste deve ultrapassar a região Norte em tamanho da população e será a última região a iniciar o decrescimento (apresentará a menor queda, apenas 600 mil habitantes).

Se existem diferenças nas dinâmicas demográficas das Grandes Regiões, os diferenciais são ainda mais acentuados nas Unidades da Federação (UF). O gráfico abaixo mostra o ponto de inflexão do crescimento populacional para o Brasil e as UFs. Os primeiros estados a apresentarem decrescimento populacional serão Alagoas e Rio Grande do Sul em 2027 e Rio de Janeiro em 2028, ainda na atual década.

As UFs com início do decrescimento populacional na década de 2030 são: Maranhão (2034), Bahia (2035), Piauí (2037), São Paulo (2037), Minas Gerais (2039), Pernambuco (2039) e Rio Grande do Norte (2039). Vão iniciar o decrescimento na década de 2040, além do Brasil (2042), os seguintes estados: Rondônia (2041), Sergipe (2042), Acre, Ceará e Distrito Federal (2043), Paraíba e Paraná (2045), Amapá (2046), Espírito Santo (2047), Pará (2048) e Tocantins (2049).

Na década de 2050, o decrescimento deve ocorrer nas seguintes UFs: Mato Grosso do Sul (2053), Amazonas (2054) e Goiás (2056). Por fim, Roraima e Santa Catarina vão iniciar o decrescimento demográfico em 2064. O único estado que continuará crescendo até 2070 será o Mato Grosso.

A tabela abaixo mostra a população brasileira e das Unidades da Federação para 2022 e 2070 e a diferença absoluta e relativa entre estas duas datas. O Brasil tinha uma população de 210,9 milhões de habitantes em 2022 e deve passar para 199,2 milhões em 2070, uma redução de 11,6 milhões de pessoas, representando uma queda de 5,5% em relação a 2022. O estado de São Paulo, a maior UF do país, tinha 45,7 milhões de habitantes em 2022 e deve cair para 40,7 milhões em 2070, a maior redução absoluta entre as UFs, de 5 milhões de pessoas, mas representando uma queda de 11% em relação a 2022.

O estado do Rio de Janeiro tinha 17,2 milhões de habitantes em 2022 e deve cair para 15,5 milhões em 2070, uma redução de 2,7 milhões de pessoas, representando uma queda de 15,8% em relação a 2022, a terceira maior queda relativa. O estado do Rio Grande do Sul tinha uma população de 11,2 milhões de habitantes em 2022 e deve cair para 9,1 milhões em 2070, uma queda de 2,1 milhões de pessoas, representando a maior queda relativa do país, redução de 18,9% em 48 anos.

O estado da Bahia tinha 14,8 milhões de habitantes em 2022 e deve cair para 12,8 milhões em 2070, uma redução de 2 milhões de pessoas, representando uma queda de 13,4% em relação a 2022, a quarta maior queda relativa. O estado de Minas Gerais, o segundo mais populoso do país, tinha 21,2 milhões de habitantes em 2022 e deve cair para 19,3 milhões em 2070, uma redução de 1,9 milhões de pessoas, representando uma queda de 8,9% em relação a 2022.

Todos os estados do Nordeste vão apresentar decrescimento populacional, com destaque para Alagoas que tinha 3,2 milhões de habitantes em 2022 e deve cair para 2,7 milhões, a segunda maior redução relativa de 17% em 48 anos. O estado do Pará vai manter a população estável, em torno de 8,6 milhões de habitantes em 2022 e 2070.

Mas haverá oito estados que terão aumento populacional entre 2022 e 2070, embora com decrescimento em algum momento pós-2050, como mostrado no gráfico anterior. Por exemplo, Roraima – a UF menos populosa – tinha população de 673 mil habitantes em 2022 e deve passar para 1,1 milhão, um aumento de 401 mil pessoas, representando o maior aumento relativo, de 59,6% em 48 anos. Mas terá queda do número de habitantes a partir de 2064

Já o estado de Santa Catarina que tinha uma população de 7,8 milhões de habitantes em 2022 deve passar para 10,4 milhões de habitantes em 2070, devendo apresentar o maior aumento absoluto, de 2,6 milhões de pessoas, um aumento  relativo de 34% entre 2022 e 2070. A população catarinense deve superar a população gaúcha e pernambucana até 2070. O único estado que não vai apresentar decrescimento será o Mato Groso que tinha população de 3,7 milhões de habitantes em 2022 e deve alcançar 5,3 milhões de pessoas em 2070.

De modo geral, as Unidades da Federação que apresentarão os maiores decrescimentos populacionais são estados litorâneos. Aqueles que apresentarão os maiores ganhos populacionais são estados do interior. A grande exceção é Santa Catarina. A região com maior variação positiva entre 2022 e 2070  será o Centro-Oeste. Desta forma, o Brasil terá uma população menor, mas um pouco menos concentrada no litoral e mais interiorana.

O decrescimento da população traz desafios, mas também oportunidades. O artigo “Ageing and population shrinking: implications for sustainability in the urban century” (Jarzebski, et al, 2021), publicado na prestigiosa revista  Urban Sustainability, mostra que a reversão do crescimento gera um “dividendo demográfico do decrescimento”, tanto na área social, quanto na área ambiental. Os autores mostram que o envelhecimento populacional e o decrescimento do número de habitantes são totalmente compatíveis com a Agenda 2030 da ONU e as metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Adicionalmente, os autores mostram que uma política pronatalista para se contrapor ao decrescimento populacional pode dificultar o enfrentamento das questões sociais e ecológicas. O fundamental é conhecer as tendências futuras e se preparar para a nova realidade sociodemográfica.

As projeções populacionais do IBGE trazem muitas informações úteis para o planejamento econômico e social do país e dos estados. As projeções do país são fundamentais para compreender a configuração demográfica brasileira e os cenários para as próximas décadas. Mas a média nacional não serve para avaliar a dinâmica populacional das Unidades da Federação que é bem diferenciada e tem as suas especificidades. As tendências gerais são únicas, mas o ritmo de mudança é plural.

As projeções populacionais são fundamentais para o exercício da cidadania, o planejamento das políticas públicas e para as decisões de investimento da iniciativa privada. É com base nestas projeções que o IBGE calcula as estimativas municipais, base para o cálculo do Fundo de Participação dos Municípios. Todas essas informações são essenciais para o conhecimento da nova face da realidade brasileira, balizando a atuação de todos os entes interessados na construção de um país mais justo, mais próspero e mais feliz.

Referências:

ALVES, JED. As surpresas do Censo 2022 e a distribuição geográfica da população, # Colabora, 03/07/2023 https://projetocolabora.com.br/ods11/as-surpresas-do-censo-2022-e-a-distribuicao-geografica-da-populacao/

ALVES, JED. O tsunami prateado no Brasil, # Colabora, 05/08/2024

https://projetocolabora.com.br/ods11/o-tsunami-prateado-no-brasil-39-milhoes-com-mais-de-60-anos-em-2029/

ALVES, JED. Brasil de cara nova mas com uma estrutura etária mais envelhecida, # Colabora, 26/08/2024

https://projetocolabora.com.br/artigo/um-brasil-de-cara-nova-mas-com-estrutura-etaria-mais-envelhecida/

Jarzebski, M.P., Elmqvist, T., Gasparatos, A. et al. Ageing and population shrinking: implications for sustainability in the urban century. npj Urban Sustain 1, 17 (2021). https://doi.org/10.1038/s42949-021-00023-z

IBGE. Projeções da População, 22/08/2024 https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/9109-projecao-da-populacao.html?edicao=41053&t=resultados

José Eustáquio Diniz Alves

José Eustáquio Diniz Alves é sociólogo, mestre em economia, doutor em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar/UFMG), pesquisador aposentado do IBGE, colaborador do Projeto #Colabora e autor do livro "ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século" (com a colaboração de F. Galiza), editado pela Escola de Negócios e Seguro, Rio de Janeiro, 2022.

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