ODS 1
Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares. Conheça as reportagens do Projeto Colabora guiadas pelo ODS 1.
Veja mais de ODS 1O céu estava totalmente coberto de nuvens e uma chuva fina completava o cenário, tudo semelhante há 90 anos atrás quando o monumento ao Cristo Redentor foi inaugurado no alto do Corcovado. Na primavera carioca, o sol quase não deu as caras na semana anterior ao 12 de outubro, aniversário da abertura oficial da estátua à visitação. Ainda assim, não eram poucos os visitantes na véspera dos 90. Privados da vista deslumbrante do Rio de Janeiro, turistas lamentavam o mau tempo, mas não queriam deixar de ver o Cristo de perto antes do feriado acabar. A família do interior da Bahia explicava que não podia voltar para o sertão sem ver o monumento: esperaram até a véspera de partir e as nuvens não deram trégua. As irmãs paranaenses atendiam um pedido da mãe, católica com intenção de agradecer a cura do caçula, recuperado da covid-19.
A vista exuberante da cidade e as razões da fé sempre se misturam no alto do Corcovado, desde a inauguração da estátua, mas a atração pela paisagem chegou antes. Em 1824, quando o imperador Pedro I comandou a primeira expedição oficial ao pico da montanha, o objetivo era instalar um posto telegráfico, mas a vista da Baía da Guanabara e da Lagoa dos Tupinambás inspirou a implantação de um mirante ao lado do telégrafo. O pintor francês Jean-Baptiste Debret acompanhou a expedição e, com suas telas, ajudou a popularizar a paisagem em torno do Corcovado. Em 1884, 47 anos do monumento, foi inaugurada a Estrada de Ferro do Corcovado, a primeira ferrovia turística, com o apoio e a presença de Dom Pedro II – o primeiro trecho ia até as Paineiras, o segundo, alcançando o alto do Corcovado, começou a funcionar no ano seguinte. Entre um ano e outro, o Imperador mandou construir um novo mirante no alto do Corcovado, encomendado a uma fundição belga, que ficou conhecido como Chapéu do Sol.
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O trem, movido a vapor no século XIX e em trilhos elétricos a partir de 1910, ainda é a melhor maneira de subir o Corcovado – na minha modesta opinião de carioca. Fui ao Cristo Redentor ainda criança, algumas vezes, levado de carro pelos meus pais. Mas, desde adolescente, prefiro sempre o trem, com seus trilhos pelo meio da Mata Atlântica, da Floresta Nacional da Tijuca, a maior floresta urbana do mundo. No meio do verde, aparecem trechos da paisagem privilegiada do Rio de Janeiro lá embaixo, antecipando a vista do alto do Corcovado. De carro mesmo, não é mais possível chegar: ainda no século passado, os automóveis foram barrados. Pode-se chegar no máximo às Paineiras, onde fica o Centro de Visitantes do Cristo Redentor, e seguir de van a partir desse ponto. Desde os tempos do imperador, é um passeio para elite: o trem sempre foi caro; o atual serviço de vans – a única outra alternativa – também não é barato: todos os preços são de R$ 65 para cima, exceto para crianças e idosos.
O transporte sobre trilhos foi fundamental para a instalação da estátua do Cristo Redentor no alto do Corcovado, ideia consolidada em 1921 pelo Círculo Católico, uma organização religiosa, que reuniu milhares de assinaturas para ter a autorização do presidente Epitácio Pessoa. O arcebispo do Rio de Janeiro, dom Sebastião Leme, lançou uma campanha de arrecadação para reunir os fundos necessários para a construção do monumento, criado pelo escultor francês Paul Landowski, com base nas ideias do engenheiro carioca Heitor da Silva Costa. A campanha para a obra provocou as primeiras tretas em torno do Cristo Redentor. Igrejas protestantes – liderados pelos batistas – fizeram oposição religiosa à imagem de 30 metros – 38m com o pedestal – do Cristo. “Os que tiveram a infeliz idéia de erigir o monumento a Cristo Redentor, não tiveram a intenção de honrar a Cristo, mas sim a de engrandecer o catolicismo romano, o paganismo”, escreveu o jornal batista. Em 1923, enquanto o Cardeal Leme buscava levantar fundos, mais de 600 protestantes se reuniram na Igreja Presbiteriana em manifestação contra o monumento; abaixo-assinados foram encaminhados à Presidência mas a autorização para a obra não foi revogada.
Entre 1926 e 1931, toneladas de concreto armado e pedra sabão foram levados 710 metros acima, até o platô preparado no alto do Corcovado para a montagem da estátua do Cristo Redentor – apenas a cabeça e as mãos vieram prontas da Europa. A inauguração foi marcada para o Dia de Nossa Senhora Aparecida, mas a primavera – ou, quem sabe, São Pedro – não ajudou. O mau tempo atrapalhou a semana de festejos preparada para a inauguração, com missas e eventos por toda a cidade, que duraram de sábado, dia 10 de outubro de 1931, até a quinta-feira, 15. Missa campal na Quinta da Boa Vista foi cancelada, marcada para a véspera, foi cancelada. Mas o presidente Getúlio Vargas e bispos de norte a sul do Brasil estiveram presentes – sob céu nublado e chuva fina – à inauguração do Cristo Redentor, no dia 12. Peregrinos subiram de trem ou mesmo a pé nos dias seguintes; os mais ricos fizeram sobrevoos de avião no Corcovado na quinta-feira, quando o tempo começou a melhorar.
Em 90 anos, o monumento ao Cristo Redentor do Corcovado tornou-se o ponto turístico mais visitado do Brasil, com cerca de R$ 2 milhões de visitantes por ano, virou um símbolo do país no exterior, e, em 2007, numa eleição global que contou com mais de 100 milhões de votos pela internet, a imagem foi eleita uma das sete novas maravilhas do mundo. Em 2008, a estátua foi tombada pelo Iphan. E não há chuva, nem nuvens, nem vento que afastem os visitantes. Na véspera do aniversário, mesmo sem a vista maravilhosa da cidade, os visitantes pagavam para subir ao Corcovado e fotografar o Cristo Redentor ou ser fotografado: casais trocavam juras de amor, fiéis faziam orações. O deslumbramento e a fé seguem intactos no alto do Corcovado.
O monumento também não ficou livre das tretas. A concorrência para a exploração dos espaços é alvo de uma briga judicial que envolve não apenas novos e antigos licenciados como também o ICMBio, responsável pelo Parque Nacional da Tijuca, e pela Arquidiocese do Rio de Janeiro, que cuida do monumento ao Cristo Redentor. A troca dos concessionários acirrou o conflito entre os religiosos e o órgão federal que disputam o controle dos acessos ao santuário. Hoje, quando receberá festa com políticos, empresários, artistas e religiosos, a principal atração turística do Brasil não terá, para suas dezenas de visitantes diários, um um lugar sequer para compra de bebida ou comida; e suas lojas de souvenir são improvisadas.
Mas a festa é mais do que merecida. O Cristo Redentor – “braços abertos sobre a Guanabara”, inspiração para o maestro Tom Jobim – ganhou canção de Moacyr Luz para os seus 90 anos: “não é de agora que eu vivo aos pés do Redentor”.
#RioéRua
Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Está de volta ao Rio após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. É criador da página no Facebook #RioéRua, onde publica crônicas sobre suas andanças pela cidade.
Um descaso com turista e uma grande putaria pra visitar a sétima maravilha do mundo, pois o comunismo está tomando conta do monumento. Além de ser um absurdo o valor da visita e agora mais a burocracia de vacina com segunda dose, sendo que o local é totalmente aberto. Decepção total pois a vacina não tem lei que obrigue a tomar nosso próprio presidente fala isso. Nota zero