ODS 1
Censo 2022 registra aumento de quase 90% da população indígena
Agentes do IBGE encontraram quase 1,7 milhão de indígenas, 0,83% do total recenseado; em 2010, eram 897 mil
Resultado do Censo Demográfico 2022 aponta que 1.693.535 pessoas, espalhadas por 4.832 municípios, se declaram indígenas no Brasil – 0,83% da população residente do país. No Censo de 2010, o IBGE contou 896.917 pessoas indígenas, o que correspondia a 0,47% da população residente no país, revelando que a população indígena variou 88,82% em 12 anos. “Temos agora um retrato real do Brasil indígena, contemplando as mais distintas realidades dos povos históricos em todas as suas facetas”, afirmou a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, durante a apresentação dos dados.
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Os dados do ‘Censo 2022 Indígenas: Primeiros resultados’ foram divulgados em evento no Teatro da Paz, em Belém nesta segunda-feira (7/8), com a presença também da ministra do Planejamento, Simone Tebet, do prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, da secretária dos Povos Indígenas do Pará, e do cacique Raoni, entre outras lideranças dos povos originários. “É um momento histórico porque 2023 pode ser um marco, o marco como a gente quer: como o marco temporal do protagonismo indígena, o marco temporal da participação indígena, o marco temporal da presença indígena no Executivo construindo as politicas públicas adequadas às nossas diferentes realidades”, enfatizou Sônia Guajajara.
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Veja o que já enviamosA ministra dos Povos Indígenas admitiu que o resultado do Censo 2022 foi “muito surpreendente” até mesmo para ela. “Ficou claro que esse crescimento aconteceu porque não se contava diretamente, de forma adequada, ou porque muitas indígenas não assumiam sua identidade indígena. Em muitos pontos do Brasil, principalmente no Nordeste, os parentes tinham medo de assumir sua identidade indígena. Negavam essa identidade para não morrer”, acentuou.
Sônia Guajajara também destacou a importância dos recenseadores terem alcançado os pontos mais remotos do país mas também comunidades indígenas que vivem nas cidades. “Nós temos uma população indígena que vive em contexto urbano e, muitas vezes, tinha dificuldade de assumir sua identidade. Alguns não foram para a cidade; foi a cidade que chegou até eles; muitos indígenas foram para a cidade para estudar ou acessar políticas públicas que não chegavam às suas comunidades. Agora, temos um número real do Brasil indígena, um retrato fiel para subsidiar o planejamento – de forma totalmente transversal e integrada – de políticas públicas adequadas para as populações indígenas”, acrescentou.
A ministra do Planejamento, Simone Tebet, destacou o trabalho realizado pelo IBGE para o país ter um retrato verdadeiro da população indígena. “Estou emocionada porque creio que este é um dia histórico porque, pela primeira vez, tivemos a possibilidade de entrar em todas as aldeias indígenas para fazer o censo. E pudemos constatar o crescimento a população indígena. Claro que somos mais indígenas no Brasil porque tínhamos muito invisíveis. Muitos indígenas tornaram-se visíveis com o Censo 2022 e assim serão melhor inseridos nas políticas públicas do governo do presidente Lula”, afirmou.
O cacique Raoni, sempre discursando em kaiapó, afirmou que autoridades e indígenas precisam se uir para proteger “o que resta das nossas florestas e dos nossos recursos” para evitar as mudanças no clima que significam mais calor, menos chuva, mais seca. “Ouvi os espíritos donos da água, dos ventos e da chuva eles estão enfurecidos”, enfatizou Raoni, de 93 anos, ressaltando que já falou com o presidente Lula e como autoridades estrangeiras para preservarem o meio ambiente e cuidarem da floresta. “Esse tema tem que ser de todos, inclusive dos deputados. Os deputados têm que parar de confrontar os povos indígenas”, afirmou o cacique.
Nova metodologia
A mudança na metodologia foi determinante para o crescimento da população indígena recenseada. Os povos indígenas passaram a ser mapeados pelo IBGE em 1991, com base na autodeclaração no quesito “cor ou raça”. No entanto, a partir do Censo de 2022, o instituto ampliou a metodologia, contando com a participação das próprias lideranças das comunidades no processo de coleta de dados e passando a considerar outras localidades indígenas além das terras oficialmente delimitadas. O IBGE havia percebido que muitas pessoas com ascendência indígena respondiam que sua cor é “parda”. Por isso, em 2022, os recenseadores adicionaram a pergunta “você se considera indígena?” à lista de perguntas em locais que não são oficialmente terras indígenas, mas onde se sabe que há presença de povos originários.
De acordo com IBGE, o aumento expressivo foi motivado ainda pelo aperfeiçoamento do mapeamento de localidades indígenas em todo o país, inclusive nas cidades e em áreas remotas; a inserção de procedimentos operacionais padronizados de abordagem às lideranças indígenas; utilização de guias institucionais da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) ou da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai); preparação das equipes regionais e locais da Funai e Sesai para o apoio à operação censitária; incorporação da figura do guia comunitário indígena; treinamento diferenciado das equipes censitárias, além do monitoramento em tempo real da cobertura da coleta censitária e as adaptações metodológicas para facilitar a compreensão do questionário. “Em cada aldeia, contamos com o apoio de pelo menos uma liderança indígena”, explicou Marta Antunes, responsável pelo Projeto de Povos e Comunidades Tradicionais do IBGE.
Indígenas concentrados no Norte e Nordeste
A Região Norte destaca-se como aquela que concentra 44,48% da população indígena do país, com 753.357. A Região Nordeste reúne 31,22% da população indígena, com 528.800. As duas regiões somam 75,71% da população indígena do Brasil. Mesmo com essa concentração, há indígenas em todas as regiões e em todos os estados brasileiros. Das 5.570 cidades do país, 4.832 têm moradores indígenas (86,8%). Mas há uma concentração muito grande em alguns poucos municípios: as 100 cidades com mais indígenas, por exemplo, concentram mais de 60% da população que se autodeclara desta forma de todo o país.
Duas unidades da federação concentram 42,51% da população indígena residente no país: o Amazonas, com 490.854, correspondendo a 28,98% da população indígena, e a Bahia, com 229.103 13,53% do total. Mato Grosso do Sul apresenta o terceiro maior quantitativo, com 116.346, seguido de Pernambuco, com 106.634, e Roraima, com 97.320. Estes cinco estados contabilizam 61,43% da população indígena.
Em 2022, Manaus era o município brasileiro com maior número de pessoas indígenas, com 71,7 mil. A seguir, vinham São Gabriel da Cachoeira (AM), com 48,3 mil habitantes indígenas, e Tabatinga (AM), com 34,5 mil. Já as maiores proporções de população indígena estavam em Uiramutã (RR), onde 96,60% dos habitantes eram indígenas, Santa Isabel do Rio Negro (AM) (96,17%) e São Gabriel da Cachoeira (93,17%).
Mais territórios delimitados
O Censo 2022 também encontrou um maior número de terras indígenas oficialmente delimitadas que passaram de 501 em 2010 para 573 no ano passado. A população residente em terras indígenas somava 689,2 mil pessoas, sendo 622,1 mil indígenas (90,26%) e 67,1 mil não indígenas (9,74%). Quase metade dessa população (49,12%) está no Norte, onde as terras indígenas tinham 338,5 mil habitantes, sendo 316,5 mil (93,49%) indígenas.
A Terra Indígena Yanomami (AM/RR) tem o maior número de pessoas indígenas (27.152), o equivalente a 4,36% do total em terras indígenas no país. O segundo maior número está na Terra Indígena Raposa Serra do Sol (RR), com 26.176, seguida pela Terra Indígena Évare I (AM), com 20.177.
Dos 72,4 milhões domicílios particulares permanentes ocupados do Brasil, 630.041 tinham pelo menos um morador indígena, correspondendo a 0,87% do total de domicílios. Dos 630.041 domicílios com pelo menos um morador indígena, 137.256 estavam dentro de terras indígenas (21,79%) e 492.785 estavam localizados fora de terras indígenas (78,21%).
A média de moradores nos domicílios onde havia pelo menos uma pessoa indígena era de 3,64. Dentro das terras indígenas, era de 4,6 pessoas e fora das terras indígenas, de 3,37 pessoas. Em todos os casos, foi mais alta do que no total de domicílios do país (2,79).
Oscar Valporto
Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade