ODS 1
Organizações formam rede para trabalhar pela erradicação da pobreza
Instituições vão buscar ações conjuntas no combate à pobreza, que atinge mais de 60 milhões de brasileiros, e para produção de conhecimento sobre o tema
Pesquisa do IBGE, divulgada no fim de 2022, apontou que o Brasil tinha 62,5 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza – destes, 17,9 viviam em situação de pobreza extrema. Com esse cenário como pano de fundo, oito organizações sociais acabam de lançar o HubEP – Hub para Erradicação da Pobreza para unificar ações e propostas com este objetivo. “Erradicar o pobreza depende de políticas públicas, mas nós podemos contribuir trabalhando para que a sociedade fique alerta e consciente para o drama da fome e da pobreza e, assim, influenciar na política pública”, afirmou Daniel de Souza, presidente do Conselho da Ação da Cidadania, conhecida pelas suas campanhas de combate à fome, durante o lançamento da iniciativa, no Rio de Janeiro.
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Fazem parte do HubEP, além da Ação da Cidadania, Cieds (Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável), Projeto Gastromotiva, Instituto Dara, Ipê – Instituto de Pesquisas Ecológicas, Rede Asta, Sistema B e UNIperiferias (Universidade Internacional das Periferias). “A pobreza é construída socialmente. O empobrecimento faz parte de processo sistemático de transferência pelo Estado da riqueza da sociedade para um um grupo social muito específico: homens, brancos, adultos e heteronormativos. Fundamental entender: só a política muda efetivamente as condições de reprodução da pobreza”, enfatizou o geógrafo Jailson Souza, fundador da UNIperiferias, rede que promove formação de cidadãos e a produção de conhecimentos e de ações, durante o evento na sede do Instituto Dara.
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Veja o que já enviamosO HUbEP, de acordo com seus idealizadores, busca abrir um espaço de disseminação e produção de conhecimento para combate à pobreza. Essas oito organizações – algumas com mais de 30 anos de atuação – já impactaram, ao longo de suas trajetórias mais de 42 milhões de pessoas com suas ações nas áreas de inclusão social, saúde, educação, geração de renda, meio ambiente e moradia. “O passo inicial é exatamente unir forças, trabalharmos efetivamente juntos em ações que possam influenciar as políticas públicas”, afirmou Vandré Brilhante, diretor-presidente do Cieds. “O mundo precisa de um novo contrato social baseado no cuidado mútuo, pois o contrato atual está levando à destruição do planeta. Esse novo contrato social precisa de uma arquitetura que garanta oportunidade para todos e exige a participação da sociedade”, acrescentou.
A médica Vera Cordeiro, presidente do Instituto Dara, destacou que o objetivo do HubEP é compartilhar lições, ferramentas e caminhos, a partir da experiência das organizações envolvidas. “Nós vamos trabalhar para mobilizar outras instituições da sociedade civil porque o combate à pobreza é urgente. Se não a gente, quem? Se não agora, quando?”, disse a anfitriã do encontro, lamentando também a falta de cultura filantrópica da elite brasileira.
Para Daniel de Souza, o maior desafio é realmente a mobilização da sociedade. “A Ação da Cidadania ajudou a alimentar milhões de pessoas desde que foi criada há 30 anos. Mas talvez mais importante na nossa trajetória tenha sido não deixar a fome sair da pauta do Brasil. E a comunicação é uma arma decisiva para as ações de mobilização e conscientização que precisamos para fazer com que a erradicação da pobreza e da fome continuem na pauta”, destacou Daniel, que sucedeu seu pai, o sociólogo Betinho (Herbert de Souza), criador da entidade, na presidência do Conselho.
Dados divulgados em dezembro pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostraram que, em 2021, o número de brasileiros vivendo abaixo da linha da pobreza aumentou 22,7% na comparação com 2020. Já o número de pessoas em situação de extrema pobreza saltou 48,2% no mesmo período. Os 62,5 milhões de brasileiros abaixo da linha da pobreza significam quase 30% da população do país. “A política de empobrecimento e da desigualdade, historicamente desenvolvida no Brasil, está baseada no patrimonialismo, no patriarcado e no racismo institucional. Faz parte de uma ideologia da branquitude. Isso só muda com uma revolução democrática no país”, afirmou Jailson Souza.
O geógrafo e fundador da UNIperiferias acredita que os caminhos para a erradicação da pobreza serão encontrados exatamente pela população empobrecida e periférica. “Precisamos de sujeitos emancipados e de natureza para nos libertar da lógica predatória do capitalismo. Se a gente não fala de capitalismo, de patrimonialismo, de racismo, de patriarcado, não podemos falar de pobreza. Precisamos, como sociedade civil, agir para influenciar as políticas públicas. Mas só quem pode construir soluções para enfrentar esse empobrecimento é o povo periférico”, afirmou Jailson.
A partir da plataforma digital hubep.org.br, será possível acessar, de forma gratuita, conteúdos, publicações, metodologias, histórias e experiências de diversas instituições. O grupo também pretende promover, presencialmente, palestras e formações para compartilhar conhecimentos e experiências, com base nas premissas do HubEP. “O objetivo do grupo é desenvolver, juntos, ações que colaborem para diminuir as desigualdades e, por isso, a iniciativa está aberta à participação de outras organizações sociais, buscando criar um espaço colaborativo, contínuo e sustentável”, esclarece Cindy Lessa, vice-presidente do Conselho de Administração do Instituto Dara.
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Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade