Lula 2023: um governo contra a desigualdade e a fome

Na inauguração de seu terceiro mandato, presidente enfatiza nos discursos compromisso de combater a desigualdade e suas sequelas

Por Oscar Valporto | ODS 1ODS 10ODS 2 • Publicada em 1 de janeiro de 2023 - 23:03 • Atualizada em 25 de janeiro de 2023 - 11:21

Lula recebe a faixa da catadora Aline na rampa do Planalto: prioridade no enfrentamento à desigualdade (Foto: Carl de Souza / AFP)

A posse de Luiz Inácio Lula da Silva para seu terceiro mandato como presidente da República foi cheia de simbolismos, talvez nenhum maior do que a entrega da faixa presidencial, no alto da rampa do Planalto, pela catadora Aline Sousa – uma mulher negra de 33 anos, que vive, como tantas outras e outros, das sobras de uma sociedade tremendamente desigual. E a desigualdade foi a ênfase principal do discurso de Lula no Parlatório. ““Foi para combater a desigualdade e suas sequelas que nós vencemos a eleição. E esta será a grande marca do nosso governo”, disse o presidente ao falar a uma multidão no Parlatório.

A fome é filha da desigualdade, que é mãe dos grandes males que atrasam o desenvolvimento do Brasil

Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente do Brasil

Antes de chegar às mãos de Aline – hoje responsável pela Secretaria Nacional da Mulher e Juventude da Unicatadores e ao peito de Lula, a faixa presidencial passou pelas mãos do cacique Raoni Metuktire, 92 anos, maior representante da luta dos povos indígenas do Brasil; do estudante Francisco Carlos do Nascimento e Silva, morar em Itaquera, bairro periférico na Zona Leste de São Paulo; Flávio Pereira, artesão e participante da vigília enquanto Lula estava preso; a cozinheira Jucimara Fausto dos Santos, participou de um concurso de culinária na Vigília Lula Livre, quando Lula estava preso em Curitiba, e cuidou da cozinha da vigília por dois meses; Ivan Baron, influenciador que fala sobre o direito da pessoa com deficiência; o professor Murilo de Quadro Jesus; e Weslley Viesba Rodrigues Rocha, metalúrgico do ABC paulista, como Lula 50 anos atrás.

“Eu e meu vice Geraldo Alckmin assumimos hoje, diante de vocês e de todo o povo brasileiro, o compromisso de combater dia e noite todas as formas de desigualdade. Desigualdade de renda, de gênero e de raça. Desigualdade no mercado de trabalho, na representação política, nas carreiras do Estado. Desigualdade no acesso a saúde, educação e demais serviços públicos”, enfatizou Lula no discurso no Planalto.

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Nos seus dois discursos, na posse formal na Câmara e no Parlatório do Palácio, Lula falou de muito mais: dos novos ministérios da Igualdade Racial, das Mulheres, dos Direitos Humanos e dos Povos Indígenas; da pandemia de Covid-19 e da importância do SUS; de educação e de cultura; de meio ambiente e da crise climática; de economia e de industrialização; de agricultura familiar e do agronegócio. Mas foram a fome e a desigualdade as estrelas dos dois pronunciamentos presidenciais na inauguração do terceiro mandato. “A fome é filha da desigualdade, que é mãe dos grandes males que atrasam o desenvolvimento do Brasil”, destacou no Palácio do Planalto.

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Ao lado de Janja, Lula se emociona ao descrever exemplos da desigualdade brasileira (Foto: Evaristo Sá / AFP)
Ao lado de Janja, Lula se emociona ao descrever exemplos da desigualdade brasileira (Foto: Evaristo Sá / AFP)

Outros frases de Lula sobre desigualdade e fome permearam seus discursos:

“A volta da fome é um crime, o mais grave de todos, cometido contra o povo brasileiro” (no Parlatório do Palácio do Planalto)

“Disse, naquela ocasião (na posse de 2003), que a missão de minha vida estaria cumprida quando cada brasileiro e brasileira pudesse fazer três refeições por dia. Ter de repetir este compromisso no dia de hoje – diante do avanço da miséria e do regresso da fome, que havíamos superado – é o mais grave sintoma da devastação que se impôs ao país nos anos recentes” (no Congresso)

“A desigualdade apequena este nosso país de dimensões continentais, ao dividi-lo em partes que não se reconhecem. De um lado, uma pequena parcela da população que tudo tem. Do outro lado, uma multidão a quem tudo falta, e uma classe média que vem empobrecendo ano após ano” (no Parlatório)

“Nenhuma nação se ergueu nem poderá se erguer sobre a miséria de seu povo” (no Congresso)

“Se queremos construir hoje o nosso futuro, se queremos viver num país plenamente desenvolvido para todos e todas, não pode haver lugar para tanta desigualdade. O Brasil é grande, mas a real grandeza de um país reside na felicidade de seu povo. E ninguém é feliz de fato em meio a tanta desigualdade” (no Parlatório)

“Nossas primeiras ações visam a resgatar da fome 33 milhões de pessoas e resgatar da pobreza mais de 100 milhões de brasileiras e brasileiros, que suportaram a mais dura carga do projeto de destruição nacional que hoje se encerra” (no Congresso)

“É inadmissível que os 5% mais ricos deste país detenham a mesma fatia de renda que os demais 95%. Que seis bilionários brasileiros tenham uma riqueza equivalente ao patrimônio dos 100 milhões mais pobres do país. Que um trabalhador ou trabalhadora que ganha um salário mínimo mensal leve 19 anos para receber o equivalente ao que um super rico recebe em um único mês” (no Parlatório)

“Não seria justo nem correto pedir paciência a quem tem fome” (no Congresso)

“Nestes últimos anos, o Brasil voltou a ser um dos países mais desiguais do mundo. Há muito tempo não víamos tamanho abandono e desalento nas ruas. Mães garimpando lixo, em busca do alimento para seus filhos. Famílias inteiras dormindo ao relento, enfrentando o frio, a chuva e o medo. Crianças vendendo bala ou pedindo esmola, quando deveriam estar na escola, vivendo plenamente a infância a que têm direito. Trabalhadoras e trabalhadores desempregados exibindo, nos semáforos, cartazes de papelão com a frase que nos envergonha a todos: ‘Por favor, me ajuda’. Fila na porta dos açougues, em busca de ossos para aliviar a fome. E, ao mesmo tempo, filas de espera para a compra de automóveis importados e jatinhos particulares (no Parlatório do Palácio – neste trecho, Lula foi às lágrimas, no momento do discurso mais emocionante para o presidente)

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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