Desigualdade na era digital

Segundo a ONU, existem sete bilhões de linhas de celulares no planeta, 2,3 bilhões de pessoas com smartphones e 3,2 bilhões de indivíduos com acesso à internet

Há 50 anos, nos EUA, o maior salário de um executivo era 20 vezes superior ao de um trabalhador menos qualificado; em 2013, esse número foi 296 vezes maior

Por Oscar Valporto | ArtigoODS 1 • Publicada em 6 de janeiro de 2016 - 08:00 • Atualizada em 6 de janeiro de 2016 - 09:44

Segundo a ONU, existem sete bilhões de linhas de celulares no planeta, 2,3 bilhões de pessoas com smartphones e 3,2 bilhões de indivíduos com acesso à internet
Segundo a ONU, existem sete bilhões de linhas de celulares no planeta, 2,3 bilhões de pessoas com smartphones e 3,2 bilhões de indivíduos com acesso à internet
Segundo a ONU, existem sete bilhões de linhas de celulares no planeta, 2,3 bilhões de pessoas com smartphones e 3,2 bilhões de indivíduos com acesso à internet

Os profetas da revolução digital nunca prometeram que ela promoveria uma redução da desigualdade. Mas garantiam que as novas tecnologias garantiriam um aumento da produtividade no trabalho, o que levaria a melhores salários para a maioria. O último relatório das Nações Unidas sobre o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), lançado no mês passado, mostra que os impactos da revolução digital no trabalho passam longe das promessas. O relatório “O Trabalho como Motor do Desenvolvimento Humano” revela que o crescimento da produtividade ficou aquém do esperado e também não elevou a massa salarial. Das previsões sobre a revolução digital, confirmou-se apenas a pior: o aprofundamento da desigualdade.

O capítulo 3 do relatório, sobre as mudanças em curso no mundo do trabalho, toma os Estados Unidos como exemplo para mostrar como os aumentos em produtividade e salários começaram a divergir na década de 70: de lá para cá, a produtividade cresceu 75%, já a massa salarial aumentou menos de 10%. Em países desenvolvidos como Reino Unido, Japão e Itália, o valor real dos salários caiu entre 2007 e 2013. E, embora a produtividade tenha crescido, ficou longe do boom imaginado pelos profetas da revolução digital – nem há evidências de que esses ganhos de produtividade estejam efetivamente relacionados ao avanço da tecnologia nas empresas.

O capítulo 3 do relatório, sobre as mudanças em curso no mundo do trabalho, toma os EUA como exemplo para mostrar como os aumentos em produtividade e salários começaram a divergir na década de 70: de lá para cá, a produtividade cresceu 75%, já a massa salarial aumentou menos de 10%.

As previsões sobre aumento da desigualdade, por outro lado, consideravam que seria crescente o fosso entre os trabalhadores altamente qualificados, com sofisticada formação técnica e educação superior, e aqueles com baixa qualificação. Isso efetivamente ocorreu, porém, constata o relatório, até mesmo trabalhadores com melhor educação e treinamento não têm conquistado mais renda, estabilidade ou reconhecimento social. De acordo com estudo feito em 27 países desenvolvidos e 28 países em desenvolvimento, os trabalhadores estão ficando com uma porcentagem cada vez menor do faturamento das empresas.  Os ganhos ficaram todos no topo da pirâmide – aumentos salarias beneficiaram uma minoria nos cargos de direção das corporações. Nos Estados Unidos, o maior salário de executivo de uma empresa, em 1965, era 20 vezes o do trabalhador menos qualificado; em 2013, esse número foi 296 vezes maior.

Se ainda não há ganhos no salário, o relatório da ONU atesta que houve realmente aumento significativo, com a revolução digital, no número de oportunidades para trabalhadores especializados em tecnologia ou internet.  Pelos números do documento, são “sete bilhões de linhas de telefones celulares no planeta, 2,3 bilhões de pessoas com smartphones, e 3,2 bilhões de indivíduos com acesso à internet”. E a desigualdade volta à pauta: de acordo com o relatório, em 2015, 81% dos domicílios nos países desenvolvidos tinham acesso à internet; mas esse índice cai para 34% nas regiões em desenvolvimento e fica em apenas 7% nos países menos desenvolvidos.

É o mundo do trabalho em mutação para o bem – com essa ampliação das oportunidades criadas pela tecnologia – e para o mal: o documento lista exemplos de trabalhos e profissões a caminho da extinção. A revolução digital cria uma encruzilhada: ou aproveita-se as novas tecnologias e a conectividade global para o desenvolvimento de um sistema econômico mais equilibrado e sustentável ou essas ferramentas seguirão aprofundando as desigualdades. Como destaca o relatório da ONU, não será o mercado que colocará a tecnologia a serviço do desenvolvimento humano; são necessárias políticas públicas – locais, nacionais e mundiais –  para que as oportunidades criadas pela revolução digital contribuam para melhorar a qualidade de vida de todos, “mulheres e homens, hoje e nas futuras gerações”.

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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