ODS 1
Pé no freio salva vidas

São Paulo segue tendência mundial, reduz velocidade e número de acidentes


O paulistano começou a pisar leve no acelerador há quase um ano, quando a prefeitura reduziu o limite nas principais avenidas da cidade, na maioria dos casos de 60 km/h para 50 km/h, seguindo uma tendência mundial: são 114 os países que adotaram a velocidade máxima de 50 km/h nas vias urbanas.
A Lei Seca e a obrigatoriedade do uso do cinto de segurança já são práticas assimiladas por aqui, mas mesmo assim o Brasil ainda é um dos países que mais matam no trânsito. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil está em quarto lugar entre os países com maior número de vítimas fatais no trânsito.
[g1_quote author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”solid” template=”01″]O efeito da medida foi a diminuição das mortes no trânsito: 20% em 2015 em relação a 2014 na maior cidade brasileira, como foi divulgado em março pela prefeitura. As mortes de motociclistas caíram 15,9%, e a de ciclistas, 34%. Segundo o governo municipal, a redução de acidentes libera 60 leitos hospitalares por dia.
[/g1_quote]A redução da velocidade começou em 20 julho de 2015 pelas marginais Tietê e Pinheiros, onde os limites passaram a ser de 70 km/h nas pistas expressas, 60 km/h nas centrais e 50 km/h nas locais. Desde então havia uma ideia equivocada de que a redução do limite de velocidade pioraria os congestionamentos. Mas estudos mostram que o que facilita a fluidez do tráfego é a passagem da maior quantidade de veículos por unidade de tempo e isso não tem a ver com aumento da velocidade. Um experimento famoso com grão de arroz, realizado pelo Departamento de Transportes de Washington (veja abaixo), mostra que com os carros movimentando-se a velocidades mais baixas a fluidez do trânsito melhora. As distâncias entre os carros são diminuídas. Os estrangulamentos, as freadas bruscas, também. Há uma redução nas batidas, que atrapalham muito o trânsito.
No entanto, a medida da prefeitura paulistana provocou uma gritaria geral. O cenário desenhado pelos críticos era alarmante: o número de vendedores ambulantes ilegais cresceria e isso elevaria o risco de atropelamentos, além de deixar os motoristas mais vulneráveis a assaltos e arrastões. Nada disso aconteceu.
Os críticos começaram, então, a usar como argumento o fato de que os cofres municipais passaram a recolher mais dinheiro, apontando a existência de uma “indústria de multas”. O número de multas de velocidade subiu 65% em 2015 em relação ao ano anterior. O desrespeito ao rodízio foi outra causa frequente de multas: neste caso houve um aumento de 36%. Mas a principal infração é o avanço do sinal vermelho, especialmente de madrugada: houve um aumento de 126%. Isso porque desde 2014, a Prefeitura começou a instalar radares que enviam as imagens em tempo real para uma central, onde as imagens com as placas dos carros são digitalizadas.
A exigência de redução da velocidade não surgiu do nada. É fruto de pesquisas que calculam as chances de fatalidade a cada velocidade. A probabilidade de um pedestre atingido a 70 km/h morrer é de quase 100%. Este risco cai para 40% quando se reduz a velocidade para 50 km/h e despenca para 20% quando a velocidade é diminuída para 40 km/h.
O efeito da medida foi a diminuição das mortes no trânsito: 20% em 2015 em relação a 2014 na maior cidade brasileira, como foi divulgado em março pela prefeitura. As mortes de motociclistas caíram 15,9%, e a de ciclistas, 34%. Segundo o governo municipal, a redução de acidentes libera 60 leitos hospitalares por dia.
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Veja o que já enviamosA redução da velocidade foi adotada porque o número de acidentes de trânsito com mortos na cidade de São Paulo voltou a subir depois de seis anos consecutivos de queda na capital paulistana. Houve 1.114 ocorrências em 2013. Mas no ano seguinte, este número passou para 1.195: uma alta de 7,2%. Uma das hipóteses levantadas pela Prefeitura é o aumento da velocidade dos carros devido à diminuição dos congestionamentos.
De fato, São Paulo caiu da 7ª para 58ª posição no ranking TomTom Trafic Index, o mais importante ranking mundial de medição de congestionamentos, feito em 295 metrópoles com mais de 800 mil habitantes, em 38 países. A Cidade do México é a metrópole com o mais alto índice do mundo, seguida por Bangkok (Tailândia), e Istambul (Turquia). A cidade do Rio de Janeiro foi apontada como a quarta mais congestionada: os motoristas cariocas gastam 165 horas de vida por ano dentro de congestionamentos. Já em São Paulo os motoristas perdem por ano 103 horas no trânsito lento ou parado.
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Florência Costa
Jornalista freelance especializada em cobertura internacional e política. Foi correspondente na Rússia do Jornal do Brasil e do serviço brasileiro da BBC. Em 2006 mudou-se para a Índia e foi correspondente do jornal O Globo. É autora do livro "Os indianos" (Editora Contexto) e colaboradora, no Brasil, do website The Wire, com sede na Índia (https://thewire.in/).
Florência, só hoje li sua matéria, que é a síntese do bom jornalismo: simples e vigorosa. Ainda por cima, dá uma notícia auspiciosa!