Professor em primeiro lugar

Professores da FLUPP. Foto de Divulgação

Fundação Lúcia e Pelerson Penido (FLUPP)

Por Florência Costa | Mapa das ONGsODS 4 • Publicada em 8 de setembro de 2019 - 20:36 • Atualizada em 9 de setembro de 2019 - 14:41

Professores da FLUPP. Foto de Divulgação
Professores da FLUPP. Foto de Divulgação
Professores da FLUPP participam de seminário sobre educação infantil. Foto de Divulgação

A valorização da carreira do professor é o mantra que guia a Fundação Lúcia e Pelerson Penido (FLUPP), criada há oito anos pela psicóloga Rosa Evangelina Marcondes Penido. Os projetos da FLUPP são concentrados na região do Vale do Paraíba. “O objetivo da ONG é contribuir para uma sociedade mais justa e menos desigual”, explica a psicóloga Eduarda Penido Della Vecchia, filha de Rosa.

Em 2010, pouco antes de a FLUPP ser oficialmente criada, mãe e filha começaram a promover atividades e oficinas sobre educação infantil no Vale do Paraíba. O primeiro programa foi o “Valorizando uma Infância Melhor (VIM)”, pelo qual os municípios da região começaram a entender o que mais precisavam em termos de educação infantil: formação de professores e de gestores, melhoria da infraestrutura das escolas e programas de incentivo aos pais para que participassem mais da vida escolar dos filhos.

Professor em atividade de leitura. Foto de Divulgação
Aula de leitura para os alunos da educação infantil, no Vale do Paraíba, onde a FLUPP atua desde 2010. Foto de Divulgação

Pelo programa VIM, firmavam-se contrato de convênios entre a FLUPP e as prefeituras, que prestavam contas e faziam relatórios financeiros. “Por meio do projeto VIM constatou-se a importância de trazer um jeito novo de pensar a educação infantil, um jeito que fosse menos tradicional e que aguçasse mais a curiosidade das crianças”, explicou Eduarda.

A Fundação atua principalmente no Vale do Paraíba porque foi nessa região que Pelerson Soares Penido, avô de Eduarda, começou os seus negócios. “A família tem uma relação muito forte com a região”, disse.

Meus avós se dedicaram às pessoas, mas aqueles eram tempos que se fazia caridade, não investimento social privado. Acho que eles nunca pensaram em criar uma ONG

“Meus avós se dedicaram às pessoas, mas aqueles eram tempos que se fazia caridade, não investimento social privado. Acho que eles nunca pensaram em criar uma ONG”, lembra Eduarda. A inspiração da FLUPP, no entanto, veio da história de seus avós, Pelerson e Lúcia, que se casaram em 1949 e moraram em diversas regiões do Brasil.

O mineiro Pelerson Soares Penido, filho de um agricultor e de uma professora, começou a trabalhar em construtoras como ajudante de topógrafo, passou a ser chefe de obras até que, em 1958, conseguiu comprar sua própria companhia. No final de sua trajetória, já presidia um conglomerado de empresas que atuam nas áreas de construção civil (responsável por obras como a construção de Brasília e Rodovia Presidente Dutra), transporte de passageiros, mineração, concessões rodoviárias, comércio de veículos, agropecuária e empresa imobiliária.

Pelerson desbravou o sertão, abriu estradas, ferrovias, portos e ajudou na construção de Brasília. Lúcia o acompanhava onde quer que fosse, morando em cidades muito pequenas e com poucos recursos, mas sempre participando ativamente da vida dos funcionários e das comunidades locais. Em comum, tinham um forte sentimento de solidariedade: por onde moraram construíram capelas e escolas nos canteiros de obras. O casal sempre acreditou no poder transformador da educação.

Passeio dos alunos da FLUPP a Pinacoteca. Foto de Divulgação
Passeio dos alunos da FLUPP a Pinacoteca. Foto de Divulgação

E foi essa paixão que fez Rosa homenagear os pais com a criação da FLUPP. Uma segunda fase da ONG foi o investimento e apoio diretamente a escolas, não mais por contratos com os municípios. O foco eram programas que ajudassem na transição da educação infantil para o ensino fundamental. Além disso, a FLUPP passou a promover atividades voltadas para o ensino médio. Em 2012 começou o projeto “Melhores Cabeças”, com o objetivo de incentivar os bons alunos a serem professores.

“É muito importante apoiar a formação inicial desses jovens. Já são poucas as pessoas que escolhem ser professores e nem sempre os cursos são de qualidade. Eles precisam entender o papel de liderança do professor, de vetor de transformação”, diz. O “Melhores Cabeças” acompanha a entrada desses jovens na vida adulta, oferece treinamento para que eles consigam um lugar bom para estudar, para que se organizem, para que façam estágios. A FLUPP oferece bolsas de estudos em cursos de Pedagogia e Licenciatura.

Em 2018 os criadores da FLUPP fizeram uma reflexão estratégica, levando em conta que no início haviam aberto o leque, realizando muitas atividades. Chegaram a algumas conclusões. A mais importante é que era necessário voltar os esforços à valorização da carreira docente. Esse foi o foco a partir daí.

“As nossas ações ocorrem em função do nosso objetivo principal que é valorização da carreira docente”, afirma Eduarda. Uma das ações mais importantes é a formação de coordenadores
pedagógicos das escolas municipais e estaduais. “Eles são pessoas a quem os professores estão subordinados, em quem eles confiam e admiram. A gente investe para que coordenadores consigam dar uma boa orientação para os professores, observar a atuação dos professores nas salas de aula, e oferecer o melhor feedback a eles”, explica.

A ONG promove no momento um projeto-piloto chamado Educação Cidadã, cujo objetivo é fazer com que os professores entendam a educação como um todo e assumam seu papel de protagonista, para que eles compreendam o que é a legislação, o que são as comissões de educação, o que são os indicadores, o que é o recurso federal, o papel de gestor, a elaboração dos planos de carreira.

Também há a distribuição de cadernos de boas práticas para os mestres e a promoção de um prêmio de educação para todos os professores de educação infantil e do primeiro ano para todas as 39 cidades da região metropolitana do Vale do Paraíba.

A Fundação Lúcia e Pelerson Penido decidiu ainda unir esforços com outras ONGs para tocar projetos maiores. A FLUPP acompanha e investe, por exemplo, no “Todos pela Educação”, uma ONG a nível federal.

Florência Costa

Jornalista freelance especializada em cobertura internacional e política. Foi correspondente na Rússia do Jornal do Brasil e do serviço brasileiro da BBC. Em 2006 mudou-se para a Índia e foi correspondente do jornal O Globo. É autora do livro "Os indianos" (Editora Contexto) e colaboradora, no Brasil, do website The Wire, com sede na Índia (https://thewire.in/).

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