Palhaçadas no hospital

Projeto Roda de Palhaço

Por Wilson Aquino | Mapa das ONGsODS 10 • Publicada em 12 de junho de 2017 - 15:00 • Atualizada em 3 de setembro de 2017 - 01:18

Projeto Palhaco. Foto de Wilson Aquino
Projeto Palhaco. Foto de Wilson Aquino
A dupla de palhaços Viola (Laura Becker) e Adamastor (Guilherme Miranda). Foto de Wilson Aquino

É que nem o circo chegando à cidade do interior, todo mundo quer olhar. Quando os palhaços começam a caminhar pelos corredores do hospital pediátrico, as pessoas param o que estão fazendo, mesmo que seja por um instante, e o sorriso surge espontaneamente no rosto de cada um. Médico, enfermeiro, técnico, vigilante, pessoal da limpeza, visitante… ninguém fica indiferente. Afinal, a aparição dos artistas – cena tão improvável em um ambiente hospitalar – quebra a rotina de sofrimento e resgata a alegria da infância, principalmente das crianças hospitalizadas.

Desde o ano passado, um grupo de artistas, aos trancos e barrancos, cumpre a missão de transformar a dura realidade enfrentada pelos pequenos enfermos. “A gente chama de intervenção artística”, explica o ator Guilherme Miranda, 40 anos. Junto com o diretor e produtor de teatro Alexandre Boccanera e a atriz e palhaça Julia Schaeffer, Miranda criou o projeto Roda de Palhaço.

Durante todo o ano, uma dupla de palhaços visita, duas vezes por semana, as enfermarias pediátricas de dois hospitais públicos no Rio: o lnstituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e o Hospital Federal dos Servidores do Estado. A trupe vai leito a leito, cantando musiquinhas, fazendo estripulias e palhaçadas. “É uma dramaturgia improvisada. Não tem um espetáculo pré-concebido. É um encontro com a criança”, explica Miranda.

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Às vezes, a criança tem medo ou está com dor, não quer brincar. A gente não tem que arrancar um riso de qualquer jeito

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A chegada à enfermaria chama logo a atenção das crianças. Porém, a garotada não faz algazarra, não se agita, aplaude ou grita. As crianças à primeira vista, se espantam com a presença de personagens tão conhecidos e tão duvidosos naquele espaço. Fixam os olhinhos, curiosas, observando cada movimento pela enfermaria. “Às vezes, a criança tem medo ou está com dor, não quer brincar. A gente não tem que arrancar um riso de qualquer jeito”, conta a atriz e professora de teatro Laura Becker, que se formou em palhaçaria pela Universidade Federal do Estado do Rio (UNIRIO). Ela faz parceria com Miranda. Ele é o Adamastor e ela, a Viola. No entanto, após o espanto inicial, os pequenos logo se divertem e interagem com os palhaços. Deixam de ser pacientes encolhidinhos e libertam toda sua vivacidade.

“Somos seis palhaços e mais o Alexandre Boccanera na produção. A Flávia Reis (atriz) nos dá uma consultoria. Não somos ONG. Somos projeto social e suamos para buscar patrocínio, incentivo do ISS ou da Lei Rouanet. A gente vai atrás de empresas que se interessem pelo trabalho”, conta Miranda, esclarecendo que não é bem um trabalho voluntário. “É cansativo. Exige muita dedicação”, afirma ele, explicando que a dupla de palhaços passa, pelo menos, quatro horas em cada hospital. “A gente fica só na enfermaria pediátrica porque não tem pernas para fazer mais. Muita gente cobra uma visita aos velhinhos”, lamenta.

Dupla de palhaco no hospital. Foto de Wilson Aquino
Palhaços na enfermaria do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão, no Fundão. Foto de Wilson Aquino

“A relação com hospital é apenas de parceria. A instituição sabe da importância do projeto e apóia. São parceiros nossos de muitos anos e temos uma relação de confiança e permanência”, conta Julia Schaeffer. Segundo ela, o hospital não tem nenhum custo, já que o trabalho é totalmente patrocinado, seja por leis de incentivo federal ou municipal. “A falta de recursos impediu que, este ano, a gente fosse para um terceiro hospital. E ainda estamos em fase de captação para conseguir ir até o fim do ano”, afirma.

No IPPMG, os palhaços têm um espacinho reservado no alojamento dos médicos, onde guardam seus apetrechos (nariz de palhaço, sapatão de palhaço, meia de palhaço, suspensório de palhaço, bermudão de palhaço, batom, pancake, chapéu estilo Chaplin e cavaquinho). É ali também que eles se vestem e maquiam, além de fazer exercícios antes de enfrentarem a maratona de diversão. “A gente não carrega muito na maquiagem para não apavorar a criança. Eu faço alongamento porque são algumas horas de trabalho, somos atores e temos trabalho físico também. A gente traz referência de teatro para o trabalho, com o corpo e voz e outras linguagens que se cruzam. O corpo tem que estar disponível para responder os estímulos”, ensina Laura, enquanto se transforma na palhaça Viola.

Humanização nos hospitais

Mas o que cansa mesmo é a incessante busca por apoio. “O custo para manter o projeto é variável. Mas, este ano a captação não está encerrada, porque não foi alcançada. Quando isso acontece, a gente enxuga o projeto, mas continuamos atuando nos dois hospitais, com uma dupla de palhaços em cada um deles”, conta Julia. O Roda de Palhaço começa a atuar em fevereiro e vai até dezembro. Além da visitação regular às enfermarias pediátricas, eles fazem bloco de carnaval, que reúne os palhaços e alguns convidados músicos palhaços. Durante o ano tem outro cortejo musical coletivo, que se chama “Pamonha no hospitá” e acontece na época das festas juninas.

Se o resgate da essência infantil, escondido em cada corpinho doente, parece mágica. O resultado dos programas de humanização nos hospitais impressiona mais. “Hospital não é somente espaço da doença. A humanização faz com que o sistema imunológico aja a nosso favor, que se amplifique e ajude toda a linha médica. O médico se concentra na cura da doença e a humanização, da amplificação da saúde”, defende o psicólogo Alexandre de Almeida Vilarim, técnico do grupo de humanização do IPPMG. E os vários trabalhos acadêmicos comprovam a eficácia do trabalho. De acordo com Vilarim, em todos os hospitais que têm a intervenção dos palhaços ou de algum tipo de humanização semelhante, o tempo de internação que seria de cinco dias, passa para três. “A redução do tempo de internação é de 40%”, garante. Isso é mais que mágica.

 

 

 

Wilson Aquino

Wilson Aquino é repórter e autor do livro Verão da Lata (editora Leya)

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2 comentários “Palhaçadas no hospital

  1. carlos brandao disse:

    Prezados

    Como podemos solicitar uma apresentação gloriosa de voces na festa do dia das crianças com fissura labiopalatal, atendidas pelo Saude Crianca Ilha , no Hospital Municipal Nossa Senhora do Loreto.

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