ODS 1
Inclusão dos invisíveis
Gapeb - Grupo Assistencial Professor Eurípedes Barsanulpho
Em 1992, um grupo de senhoras decidiu amparar espiritualmente um segmento da sociedade que, normalmente, é enjeitado: os adultos com deficiência intelectual. Além das noções de religiosidade, essas mulheres se preocupavam em prover os assistidos e seus parentes com remédios, roupas e comida. Não decorreu muito tempo e essas pioneiras, que se reuniam na Casa Espírita Eurípedes Barsanulfo, em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio, foram surpreendidas pela enorme procura por socorro. Mães carentes das comunidades próximas correram para a instituição, levando seus filhos adultos, portadores dos mais variados transtornos físicos e psiquiátricos.
William Shakespeare nos ensinou que “ser grande é abraçar uma grande causa”. E o imenso desafio que insistia em bater à porta foi “abraçado”. As mulheres buscaram doações, pediram dinheiro, convenceram profissionais a doar tempo e conhecimento. O trabalho voluntário, alicerçado na caridade cristã, foi ampliado, até que, em 2001, surgiu o Grupo Assistencial Professor Eurípedes Barsanulpho (GAPEB), uma instituição beneficente, sem fins lucrativos, que apoia pessoas com deficiências mentais e associadas, como: síndrome de Down, retardo mental, paralisia cerebral, e autistas, todos acima de 18 anos e pobres.
[g1_quote author_name=”Marcos Lopes” author_description=”diretor Financeiro do Gapeb” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]Alguns atendidos conseguem um desenvolvimento melhor do que outros. Aprendem a escovar os dentes, ir ao banheiro, trocar de roupa, calçar um sapato. Parece pouco, mas a independência, mesmo limitada, alivia muito o trabalho dos pais
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Veja o que já enviamosNa instituição, psicólogos, pedagogos e fisioterapeutas oferecem tratamento de psicomotricidade, hidroginástica, informática, sociabilização, artes e terapia ocupacional, além de de passeios e eventos. Não existe a pretensão de cura, porque ela não existe para os assistidos na GAPEB. Porém, tratar de quem não tem cura não é perda de tempo. “Alguns atendidos conseguem um desenvolvimento melhor do que outros. Aprendem a escovar os dentes, ir ao banheiro, trocar de roupa, calçar um sapato. Parece pouco, mas a independência, mesmo limitada, alivia muito o trabalho dos pais”, explicou o diretor administrativo e financeiro da GAPEB, o arquiteto Marcos Lopes, que dedica as quintas-feiras ao serviço voluntário na instituição.
Aula multidisciplinar
São histórias de gente como Alberone Silva Costa Junior, 27 anos, que chegou ao GAPEB em 2002, “sugerindo” quadro de autismo, com atraso global do desenvolvimento. Sua comunicação verbal era bastante prejudicada, tinha alterações comportamentais e agitação psicomotora. Não conseguia focar a atenção nas atividades e, por algumas vezes, manifestava comportamento agressivo, dificuldade com limites e era bastante infantilizado. Alberone submeteu-se a diversos tratamentos, entre eles, fonoaudiologia, psicoterapia, psicomotricidade, atividades pedagógicas, recreação, musicalização, socialização e lazer.
“Hoje, Alberone participa de atividades pedagógicas, aula de informática, dança, aula de circo, psicoterapia, recreação e lazer. Está bastante sociável, comunicativo, solícito, colaborador e participativo em todas as atividades. Gosta de dançar, dramatizar, brincar, conversar, interagir e ajudar os colegas. Sua capacidade de atenção e aprendizado vêm progredindo, assim como suas habilidades psicomotoras e o desenvolvimento também na maturidade psicológica”, conta Lopes.
Efeito Lava-Jato
Houve um tempo, quando o GAPEB recebia suporte financeiro da Petrobras, em que os atendidos eram 100. “Trabalhávamos em horário integral, das 8h às 17h. Servíamos café da manhã, dois lanches por dia, almoço e uma alimentação antes da saída. Crescemos proporcionalmente ao aporte, conforme acordo feito com a Petrobras” lembra Lopes. Entretanto, ano passado, a Petrobras não renovou o convênio. “Tivemos que redimensionar o nosso quadro de funcionários e trabalhar para que não precisássemos dispensar nenhum assistido”, explicou. A instituição teve que demitir funcionários, incluindo o pessoal da cozinha, e dividir o atendimento, outrora integral, em dois grupos: manhã e tarde. “Conseguimos manter 90 assistidos sem prejuízo aos tratamentos necessários a cada um deles”, disse Lopes. Mas, 47 pessoas estão na fila de espera por uma vaga. “Falta grana para contratação de profissionais especializados, só com os voluntários é impossível. Temos uma cozinha industrial praticamente parada, servindo apenas dois lanches por dia”, lamenta Lopes, ressaltando que, em abril de 2016, foi fechada uma parceria com o Instituto PHI. “O contrato é limitado a um valor anual e tem duração de um ano”.
Atualmente, a instituição conta com cerca de 100 voluntários, incluindo a diretoria, e seis funcionários remunerados. “Não temos nenhum incentivo do governo. Nossa arrecadação vem de pequenos doadores e pequenos aportes financeiros eventuais”, lamenta o arquiteto voluntário. A realidade é que o ser humano com deficiência mental é vítima de estigmas cruéis. Quando maior de idade, então, é visto como um fardo pesado demais. “Não conheço nenhuma outra instituição que atenda público como o nosso. As pessoas se mostram mais solidárias no caso das crianças. Mas, esquecem que as crianças irão se tornar adultos e continuarão precisando dos mesmos cuidados”, pondera Marcos Lopes. Ele tem razão.
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Wilson Aquino é repórter e autor do livro Verão da Lata (editora Leya)