A arte dos raizeiros, curandeiros, benzedores e ‘cientistas’ da Bahia

Alcebíades do Couto, 75 anos, vive sendo procurado por moradores da região de Pajeú, perto de Caetité, em busca de receitas com base em plantas medicinais. Mas não se considera curandeiro: ‘Eu ensino raízes’

Livro reúne histórias e preserva o conhecimento sobre plantas medicinais do semiárido

Por Oscar Valporto | FlorestasODS 14ODS 15Vida Sustentável • Publicada em 16 de novembro de 2015 - 13:00 • Atualizada em 2 de setembro de 2017 - 23:54

Alcebíades do Couto, 75 anos, vive sendo procurado por moradores da região de Pajeú, perto de Caetité, em busca de receitas com base em plantas medicinais. Mas não se considera curandeiro: ‘Eu ensino raízes’
Alcebíades do Couto, 75 anos, vive sendo procurado por moradores da região de Pajeú, perto de Caetité, em busca de receitas com base em plantas medicinais. Mas não se considera curandeiro: ‘Eu ensino raízes’
Alcebíades do Couto, 75 anos, vive sendo procurado por moradores da região de Pajeú, perto de Caetité, em busca de receitas com base em plantas medicinais. Mas não se considera curandeiro: ‘Eu ensino raízes’

Em sua casa, no povoado de Escadinha, município de Caetité, no sudoeste da Bahia, Evilásio Evangelista dos Santos, 76 anos, atende, por semana, 100 a 150 pessoas que vão procura-lo para tratar da saúde. O major Vila, como é conhecido, tem fama de ser um dos melhores curandeiros da região, especialista em manipular plantas medicinais. Ele faz remédios com plantas de sua roça e receita outros que podem ser conseguidos através de raizeiros das vizinhanças, mas não gosta de ser chamado de curandeiro; prefere ‘cientista’. Com sua ciência, o major Vila indica xarope dos frutos do pequi para bronquite e chá de pacari, planta do cerrado, para gastrite. E tem receita até para o que chama de ‘depressão moderna’ – insônia e outros males causados por excesso de medicamentos químicos: inalação de resina de pacová, outra planta da região.

Em Pajeú da Josefa, em Guanambi, município vizinho a Caetité, Alcebíades Leão do Couto, 75 anos, também é procurado por quem quer receita de plantas medicinais. Alcebíades não se considera curandeiro ou cientista, mas raizeiro, como tantos na região. ‘Eu ensino raízes’, define. Com a experiência de quem passou a vida inteira na Serra Geral,  área de planalto semiárido na divisa com Minas Gerais, Alcebíades também indica plantas medicinais, onde encontra-las e como usá-las. Ele receita batata de teiú para inflamações e alcaçuz, planta leguminosa, para gripe, mas também dá conselhos úteis para conservar a saúde. “As doenças entram mais é pela boca das pessoas. É bebedeira, é esse negócio de querer comer tudo o que se vê”.

Domingos Rodrigues de Araújo, 72, já não mora no meio das plantas, mas sua casa, numa praça no centro do município de Igaporã, vizinho a Caetité e Guanambi, também recebe visitas de quem busca dicas sobre plantas medicinais para tratamento de saúde.   Depois de morar por 26 anos no meio da Serra Geral, onde cuidava das torres de televisão e telefonia, ele virou Dominguinhos da Torre e aprendeu os segredos das plantas da região, onde colhia raízes, ervas e frutas. Aposentado, Dominguinhos já não sobe a serra atrás de plantas mas não deixa de dar indicações para quem o procura: capim-lanceta e o famoso quebra-pedra para expelir pedra dos rins, barbatimão para curar feridas, casca do jatobá para gripe.

As histórias e os conhecimentos de Evilásio, Alcebíades, Domingos e outros especialistas em plantas medicinais – raizeiros, curandeiros, benzedores, parteiras – foram reunidos em livro pela Renova Energia, empresa que em 2010 começou a se estabelecer no sudoeste da Bahia. Caetité, Guanambi e Igaporã estão no semiárido baiano, área de cerrado e caatinga, com pouca chuva mas muito vento. E o vento é o negócio principal da Renova que inaugurou, ali, em 2012, o complexo eólico Alto Sertão I, o maior da América Latina, composto por 14 parques eólicos e 184 aerogeradores. “Desde que chegamos na região, nossa preocupação foi contribuir para o desenvolvimento sustentável de toda essa área e investir em projetos identificados como importantes pela própria população local”, explica Ney Maron, vice-presidente de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Renova.

Foi assim que, ainda na fase de audiências públicas para a instalação das torres e pás da Renova que hoje fazem parte da paisagem da Serra Geral, moradores chamaram atenção para as plantas medicinais. Órgãos ambientais pediram relatório da Renova sobre o impacto. “Tínhamos que catalogar as plantas. Mas, diante de tanta riqueza e do conhecimento profundo de pessoas mais idosas, decidimos ir além e fazer esse livro”, conta Ney Maron.

O livro Plantas Medicinais, Saberes Tradicionais reúne, além das histórias e receitas dos chamados Guardiões do Saber, um catálogo ilustrado com 30 plantas medicinais, entre 109 espécies de vegetais identificados por uma equipe de biólogos e técnicos da Renova, a partir da indicação dos próprios personagens nos municípios de Caetité, Guanambi, Igaporã e Pindaí, onde estão os parques eólicos da empresa.  O catálogo de plantas medicinais vem com as informações botânicas e biológicas e as indicações para tratamento de saúde: mastruz para sinusite e enjoo, caju para infecção urinária, aroeira para gastrite  e outras já receitadas acima por Alcebíades, Major Vila e Dominguinhos da Torre.

O livro – com 134 páginas e quase 100 fotos – foi distribuído para escolas e bibliotecas da região. No site da Renova, é possível ver todo o livro, ler as histórias e consultar o catálogo – http://www.renovaenergia.com.br/pt-br/comunidades/cultural/programa-resgate-saberes-tradicionais-uso-plantas-medicinais/Paginas/default.aspx. Uma versão simplificada virou cartilha para ser distribuída por toda a região. “O lançamento do livro, meses atrás, foi um momento de muita emoção porque essas pessoas, já idosas, puderam ter a dimensão do reconhecimento de toda a população pelo seu saber e por sua disposição para ajudar os outros e tratar os doentes”,  comenta Ney Maron, responsável pelo programa Catavento, que agrupa projetos – ambientais, culturais e de desenvolvimento econômico –  para o sertão baiano onde estão os parques eólicos da empresa, que também investe em energia solar. A força dos ventos, que impulsiona o desenvolvimento do semiárido, está servindo para espalhar o conhecimento dos Guardiões do Saber sobre as folhas medicinais e suas propriedades.

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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8 comentários “A arte dos raizeiros, curandeiros, benzedores e ‘cientistas’ da Bahia

  1. MARIA disse:

    boa noite, estou a procura da planta cervejinha do campo, não sei come ele é chamada aqui na Bahia, mas quero comprar, o nome dela é cervejinha do campo

  2. bernice oliviera disse:

    Como posso explicar isso ao mundo novamente que existe um homem que pode curar o HIV? Eu sou Jackson White de Tallahassee, Flórida. Eu era soropositivo há mais de 2 anos. Eu estou tomando drogas anti-retrovirais. Eu não posso mais, eu decido procurar ajuda, então eu encontrei uma certa mulher escrevendo sobre esse grande homem DR.WISE dizendo às pessoas sobre como este homem curou pessoas de HIV e Herpes, eu não acreditei nisso, porque tudo que eu tenho em mente é que o HIV não tinha cura, graças a deus pela minha vida hoje eu sou agora HIV negativo através do poder do DR.WISE. Entrei em contato com esse homem através do email dele (drwisehivhealinghome@gmail.com). Bem, sou de U S Um homem preparou um remédio herbal contra o HIV para mim e ele me disse que eu vou ser cura dele depois de tomar o remédio herbal por 11 dias. Então eu fiz o que ele diz para mim. No 11º dia, fui fazer um check-up em um hospital e o médico confirmou que agora sou HIV NEGATIVO. foi como um sonho para mim, porque eu nunca soube que poderia haver este grande feitiço que pode se livrar desta doença pela medicina herbal e ter uma vida melhor de novo, então amigos, irmãs, irmãos, parentes, se você precisar sua cura apenas e-mail agora drwisehivhealinghome@gmail.com ou ligue para ele em +2349063191711. Ele também pode curar Herpes, Hepatite, Diabetes, HPV, Câncer, Neblina Cerebral e assim por diante.
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