Medicilândia, a nova capital do cacau

Pará desbanca o sul da Bahia, conhecido como tradicional produtor nacional

Por Claudia Silva Jacobs | FlorestasODS 14 • Publicada em 17 de julho de 2017 - 00:00 • Atualizada em 2 de setembro de 2017 - 15:51

TO GO WITH AFP STORY BY YANA MARULL A farmer shows cocoa beans in Sao Felix do Xingu, Para state, northern Brazil, on August 7, 2013. AFP PHOTO / YASUYOSHI CHIBA / AFP PHOTO / YASUYOSHI CHIBA
TO GO WITH AFP STORY BY YANA MARULL A farmer shows cocoa beans in Sao Felix do Xingu, Para state, northern Brazil, on August 7, 2013. AFP PHOTO / YASUYOSHI CHIBA / AFP PHOTO / YASUYOSHI CHIBA
Produção de cacau no Norte do país cresce e desbanca a tradicional região produtora, o sul da Bahia. Foto de Yasuyoshi Chiba/ AFP

Uma mistura de lenda e realidade forjou os coronéis do cacau. Enfrentando desafios homéricos, eles fizeram história e foram cantados em prosa e verso ao desbravarem o sul da Bahia, no final do século 19, e transformarem a região na capital do cacau. Pragas agrícolas, descuido e secas destruíram a produção. Os barões de cacau não existem mais e a produção mudou de lugar. Medicilância, no Pará, no Norte do país, ocupou o vácuo deixado por Ilhéus e outras municípios baianos.

O lugarejo, na região de Altamira, passou a se autointitular “capital nacional do Cacau”. Hoje, o município produz 51 toneladas por ano. A produção se adequou de tal forma a mata densa, que já passou a ser vista como uma solução sustentável para uma região onde o desmatamento da Floresta Amazônica virou um problema estrutural. Com o término das obras da hidroelétrica de Belo Monte, muitos moradores do município, que possui apenas 30 mil habitantes, retornaram à cidade e engrossaram a mão de obra nas plantações. O cacau virou uma espécie de combustível da cidade e já começou a mudar a vida dos pequenos agricultores locais.

Cacau da Amazônia

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Pedro Pereira é um dos líderes da Cooperativa Agroindustrial da Transamazônica. Foto de Claudia Silva Jacobs

Um bom exemplo é a mudança na vida dos agricultores, como Pedro Pereira Lima, de 52 anos. Atraído para a região há 36 anos, Lima é um dos líderes da Coopatrans (Cooperativa Agroindustrial da Transamazônica), que reúne 40 agricultores e exporta cacau e produtos manufaturados produzidos pela Cacauway – a primeira fábrica de chocolate da Amazônia. A empresa, que tem uma fábrica em Medicilância,  produz bombons, trufas, barras, chocolate em pó, misturando frutas típicas locais, como açaí e castanha-do-Pará. Criada em 2010, a Cacauway possui lojas espalhadas pelo estado paraense.

“Inicialmente, buscávamos o mercado local. Trabalhávamos mais de forma amadora, mas com a cooperativa estamos buscando maior certificação, garantindo maior qualidade do nosso produto”, explica o produtor.

Produto certificado

Lojas da Cacauway, a primeira fábrica de cacau da Amazônia, estão espalhadas pelo Pará. Foto de Claudia Silva Jacobs

O grande objetivo é certificar todos os produtores com o selo de orgânico – alguns produtos já foram certificados. Lima explica que todos estão dispensando o uso de inseticidas e herbicida, aprendendo a lidar melhor com a terra e as possíveis pragas. Com isso, esperam melhorar a classificação do produto e poder explorar o mercado de orgânicos, em alta no Brasil. A produção surgiu em meados dos anos de 1970, quando o governo ofereceu terras aos agricultores de outras regiões do Brasil. Nesse período, o desmatamento ocorria desordenadamente, com o aval das autoridades, com plantações de banana e cana-de-açúcar. Nos últimos anos, no entanto, as pressões de ambientalistas fizeram com que o panorama mudasse com a produção de cacau. A recomendação da Ceplac, orgão estatal regulador da produção de cacau na região Amazônica, é que o cultivo ocorra junto com a mata nativa,  aproveitando as áreas antes de cultivo, e o sombreamento de grandes espécies, como o mogno, ipê e jatobá.

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Nós não desmatamos nada. Aproveitamos os espaços de outras culturas aqui substituídas pelo cacau e ainda aproveitamos a sombra das grandes árvores.  Temos uma grande produtividade e ainda mantemos a floresta

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“Nós não desmatamos nada. Aproveitamos os espaços de outras culturas aqui substituídas pelo cacau e ainda aproveitamos a sombra das grandes árvores.  Temos uma grande produtividade e ainda mantemos a floresta”, destaca Lima, passeando por sua plantação entre a natureza exuberante da Floresta Amazônica.

Carência de infraestrutura

Estrada que liga Medicilândia a Altamira. Foto de Claudia Silva Jacobs

Sobreviver de agricultura em Medicilândia não é fácil. A distância e as condições precárias de transporte são empecilhos para o escoamento da produção. Quando se viaja de Altamira para Medicilândia, por exemplo, pode-se ver as dificuldades que enfrentam. O asfalto é irregular e pode desaparecer a qualquer momento, devido as frequentes quedas de barreiras e deslizamentos de terras durante o período de chuvas. Em muitas regiões da Amazônia, um trajeto de 100 Km, por exemplo, pode demorar muitas horas. Mesmo com as barreiras, os produtores da região oeste do Pará estão conseguindo o panorama econômico de muitos municípios. Mas nada disso parece enfraquecer os produtores. Para a prefeitura, o aumento da produção também pode trazer a maior arrecadação de impostos, revertendo em melhorias na cidade.

Os bons resultados da cooperativa colocaram Medicilândia no mapa nacional de produção de Cacau. Para isso, os agricultores utilizam técnicas que garantem uma seleção mais rígidas das amêndoas, dispensando uso de corantes e aromatizantes. Com isso, os produtos realmente possuem um sabor mais forte e mais autêntico. Hoje, a amêndoa produzida na região está entre as dez melhores do Brasil e os produtores estão buscando certificações para garantir mais espaço no mercado, como o de produtos orgânicos. A cidade está totalmente envolvida na produção de cacau. O destaque no cenário nacional é motivo de celebração e de esperança de abertura de mais frentes de trabalho e de melhorias para o município. No entanto, um assunto divide a população: o futebol. Incrível, mas a disputa entre times na pequena cidade amazônica está mais perto do Rio de Janeiro que se imagina. Basicamente a metade da população torce fanaticamente pelo Vasco da Gama, como toda a família de Lima, e a outra parte pelo Flamengo. Os dois times estão sempre na pauta das conversas de bar, no ônibus, o assunto é sempre a performance dos dois times. Dizem que uma pequena parcela nutre simpatia pelo Corínthians, mas é a minoria.

Claudia Silva Jacobs

Carioca, formada em Jornalismo pela PUC- RJ. Trabalhou no Jornal dos Sports, na Última Hora e n'O Globo. Mudou-se para a Europa onde estudou Relacões Políticas e Internacionais no Ceris (Bruxelas) e Gerenciamento de Novas Mídias no Birkbeck College (Londres). Foi produtora do Serviço Brasileiro da BBC, em Londres, onde participou de diversas coberturas e ganhou o prêmio Ayrton Senna de reportagem de rádio com a série Trabalho Infantil no Brasil. Foi diretora de comunicação da Riotur por seis anos e agora é freelancer e editora do site CarnavaleSamba.Rio. Está em fase de conclusão do portal cidadaoautista.rio. E-mail: claudiasilvajacobs@gmail.com

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2 comentários “Medicilândia, a nova capital do cacau

  1. WALTER SANTOS OLIVEIRA disse:

    Excelente matéria. Valoriza o que de fato é hoje. Medicilândia é sim um grande polo produtor do cacau, e tem ainda um potencial imenso a ser desenvolvido. Quero aqui apenas, longe de min corrigir não sou sequer professor de nada, mas a produção anual de amêndoas em Medicilândia ultrapassou as 30 mil toneladas. Hoje a produção da amêndoa no Pará estar em torno, salvo engano, em 36 mil toneladas. Isto faz de Medicilândia o maior do estado. Em relação a Bahia ultrapassa 2 mil toneladas – mais ou menos. 50 toneladas como diz a matéria, na realidade de Medicilândia, pode ser a produção de uma ou duas fazendas de cacau.

  2. ANTONIA FEMININO NEPONUCENO disse:

    BOa noite ,sou Antonia procuro meu pai ,segundo me i formaram que ele se encontra em uma casa de repouso para idosos,não tenho notícias de desde 1882,ele veio para o garimpo nesta data e nunca tivemos notícias de até o momento, o nome dele e é Alfredo de sousa Pinto natural de Esperantinópolis MA, por favor ,alguém poderia procurar pelo meu pai ou enviar números telefone de casa de repouso para idosos q eu mesma.ligomeu contato (94)99009210

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