Para semear desenvolvimento

Uma das coletoras de sementes da rede: trabalho cresceu e apareceu

Parceira do Rock in Rio, Rede de Sementes do Xingu emprega 421 coletores e protege as florestas

Por Vanessa Forton | Economia VerdeFlorestasODS 14 • Publicada em 16 de maio de 2016 - 08:00 • Atualizada em 2 de setembro de 2017 - 15:55

Uma das coletoras de sementes da rede: trabalho cresceu e apareceu
Coletores de sementes trabalhando em campo: já são mais de 400 os integrantes da rede
Coletores de sementes trabalhando em campo: já são mais de 400 os integrantes da rede

Nasce o dia no Mato Grosso, iluminando uma área de 17,7 milhões de hectares da bacia do Rio Xingu que abriga 35 municípios e 260 mil habitantes. Um desses municípios é Nova Xavantina e entre os moradores que acordam junto com o sol está Milene Alves Oliveira. Desde os 13 anos de idade, ela acompanha sua mãe, Vera, na coleta de sementes florestais da Amazônia. Vera era doméstica e depois de conhecer o programa da Rede Sementes do Xingu conseguiu aos poucos transformar sua renda e viver integralmente como coletora. Aos poucos, o pai,o irmão e a cunhada de Milene também foram aderindo ao programa.

Milene fala do trabalho dos coletores durante a apresentação do projeto em conjunto com o Rock in Rio
Milene fala do trabalho dos coletores durante a apresentação do projeto em conjunto com o Rock in Rio

Milene cresceu nesse mundo, adquiriu vasto conhecimento das espécies de árvores locais, foi construindo um sonho e luta por ele todos os dias. Hoje, aos 17 anos e trabalhando para a Rede, ela é responsável por uma das Casas das Sementes, espaços de cuidado e armazenamento do produto colhido, e  cursa a faculdade de Ciências Biológicas. Como se fosse pouco, ela ainda fala com muita animação que irá começar agora um curso oferecido pela Rede e pelo Instituto Socioambiental (ISA) para pesquisar as mudanças climáticas da região. O curso é voltado para os jovens que já trabalham no projeto e querem ser pesquisadores da Rede. A turma do curso vai unir aqueles de origem indígena àqueles da área urbana, como Milene. “Antes, eu queria ser médica veterinária, mas esse trabalho me inspirou. Lá não se trata só de sementes, ela (a Rede) une pessoas, culturas, diferenças e foi o que fez eu me apaixonar”, conta ela.

Ali se trata de natureza, os coletores de sementes não estão apertando parafusos, cada semente tem seu jeito de ser colhida, de ser tratada para poder voltar à natureza. É uma coisa grandiosa do ponto de vista do encontro das pessoas, de troca de experiências, de saberes. E a semente é o elo de ligação entre tudo isso

A Rede de Sementes do Xingu realiza um processo de formação de coletores, nas cabeceiras do rio, que vão trabalhar nas sementes da região para depois atender a demanda de mercado. É como uma plataforma de troca e comercialização de sementes que vai gerar renda para os agricultores familiares e comunidades indígenas. Em 2007, primeiro ano ativo do projeto, a comercialização de sementes florestais rendeu R$ 9 mil e foi o começo de um negócio que já movimentou quase R$ 2 milhões em nove anos de trabalho, abrindo oportunidades e gerando renda para várias famílias na região Xingu-Araguaia.

As sementes possibilitaram também o reflorestamento de mais ou menos 3,5 mil hectares de florestas nesses nove anos. Esse resultado não seria possível sem o trabalho diário dos 421 coletores. “Ali se trata de natureza, os coletores de sementes não estão apertando parafusos, cada semente tem seu jeito de ser colhida, de ser tratada para poder voltar à natureza. É uma coisa grandiosa do ponto de vista do encontro das pessoas, de troca de experiências, de saberes. E a semente é o elo de ligação entre tudo isso”, comenta Rodrigo Junqueira, coordenador do programa da Rede Sementes do Xingu.

Parceria com o Rock in Rio 

Foi baseado nesse sistema de coleta desenvolvido pela Rede que o Rock in Rio criou o Amazônia Live, um projeto social que quer financiar o plantio de um milhão de árvores em 400 hectares de Floresta Amazônica e restaurar essas áreas desmatadas nas cabeceiras e nascentes do Rio Xingu. Será, com certeza, um desafio. Para isso, a organização do projeto conta com parceiros como a própria ISA, além de Funbio, Itaú, Banco Mundial, Universidade Estácio de Sá, entre outros. O plantio já está acontecendo e a estimativa é que até o final de 2018 essas um milhão de árvores já estejam em franco desenvolvimento. Ainda não serão árvores maduras, pois isso leva tempo, mas já estarão a caminho. Na apresentação dp projeto, no Rio de Janeiro, em março, Milene foi um dos destaques.

Para o projeto, o Rock in Rio organizou um show que acontecerá no dia 27 de agosto, em um palco flutuante montado no meio do Rio Negro, em Manaus (AM). O espetáculo poderá ser acompanhado pela internet ou pela transmissão do canal Multishow em todo o Brasil. Apenas 200 pessoas, entre formadores de opinião, jornalistas e artistas, estarão presentes no show que terá abertura de Ivete Sangalo acompanhada da Orquestra Sinfônica. A estimativa de investimento para todo o projeto é de R$ 28 milhões, incluindo custos de plantio, assistência técnica, monitoramento e gestão, campanhas de mídia, produção do show e gastos logísticos.

 

 

 

Vanessa Forton

Jornalista formada pela PUC-Rio com especialização em marketing pela FGV. Foi produtora dos canais de esporte da Globosat, trabalhou na BandNews e participou de projetos paralelos para as marcas Melissa, Novo Ambiente e Eletrobrás. Carioca, apaixonada por fotografia e pelo meio ambiente.

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