Febre amarela urbana volta ao Brasil após 73 anos

Auxiliar de enfermagem morreu em julho, em Natal, mas só agora a necropsia confirmou a doença

Por Rosane Marinho | Sem categoria • Publicada em 28 de dezembro de 2015 - 18:08 • Atualizada em 28 de dezembro de 2015 - 21:20

Profissionais de saúde vacinam trabalhadores do campo contra a febre amarela no início dos anos 30. A foto foi capa de um livro lançado em 2002 pela Fiocruz sobre a saga do combate à doença no Brasil desde 1937
Profissionais de saúde vacinam trabalhadores do campo contra a febre amarela no início dos anos 30. A foto foi capa de um livro lançado em 2002 pela Fiocruz sobre a saga do combate à doença no Brasil desde 1937
Profissionais de saúde vacinam trabalhadores do campo contra a febre amarela no início dos anos 30. A foto foi capa de um livro lançado em 2002 pela Fiocruz sobre a saga do combate à doença no Brasil desde 1937

Depois de 73 anos, o Brasil voltou a registrar a febre amarela urbana, considerada erradicada do país. A vítima, a auxiliar de enfermagem Rita de Cassia da Silva Santos, de 53 anos, morreu em Natal, no Rio Grande do Norte, no último dia 6 de julho, mas somente agora a secretaria estadual de saúde do Rio Grande do Norte notificou o Ministério da Saúde sobre o caso, após o resultado da necropsia.  Até então, ele vinha sendo tratado como uma uma versão grave da dengue.

A paciente começou a se sentir mal no dia 28 de junho. No dia 2 de julho, ela foi internada numa Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e faleceu no dia 6. Somente no dia 24 de dezembro saiu o resultado da necropsia – dando positivo para febre amarela – , feita pelo Instituto Evandro Chagas, no Pará e confirmada pelo Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo. Segundo sua família, ela não teria viajado a nenhuma das regiões onde a febre amarela é considerada endêmica, como alguns países da América do Sul, da África e da América Central.

[g1_quote author_name=”Dr. Otávio Olivo” author_description=”Epidemiologista da Fundação Oswaldo Cruz” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]

É possível que existam mais casos e que os sintomas estejam sendo confundidos com os de outras doenças.

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Segundo Otávio Olivo, epidemiologista e virologista da Fundação Oswaldo Cruz, especialista em febre amarela, o caso é grave e deve ser investigado. “A primeira coisa é investigar a família. Temos que nos assegurar que esta pessoa não viajou, nem tomou a vacina. Sendo febre amarela urbana, não será o único caso”.

A febre amarela urbana é transmitida pelo Aedes Aegypti, o mesmo mosquito da dengue. Segundo Olivo, de cada 100 casos de febre amarela, 50 não apresentarão nenhum sintoma, 30 terão sintomas leves, 20 terão icterícia, muitas vezes confundida com  hepatite, e 10 terão a infecção grave. “É possível que existam mais casos e que os sintomas estejam sendo confundidos com os de outras doenças.”

Charge publicada na Revista da Semana, em 1904, alusiva à campanha sanitária contra a febre amarela e a epidemia de varíola: "Ao Heroe dos Mosquitos"
Charge publicada na Revista da Semana, em 1904, alusiva à campanha sanitária contra a febre amarela e a epidemia de varíola: “Ao Heroe dos Mosquitos”

Existem dois tipos de febre amarela: a silvestre, transmitida pela picada do mosquito Haemagogus, e a urbana, transmitida pela picada do Aedes aegypti. Embora os vetores sejam diferentes, o vírus e a evolução da doença são absolutamente iguais.

O último caso de que se tem notícia ocorreu em 1942, no Acre. Os principais sintomas são febre alta, mal-estar, dor de cabeça, dor muscular muito forte, cansaço, calafrios, vômito e diarreia, que aparecem, em geral, de três a seis dias após a picada (período de incubação). Para Olivo, porém, combater a febre amarela na época de Oswaldo Cruz era muito mais fácil. “Hoje a densidade populacional é muito maior, produzimos muito mais lixo e lixo que não se deteriora, muito plástico. Falta consciência ambiental na população. É uma batalha muito difícil”. Segundo ele, é fundamental o combate ao mosquito, vetor da doença. A vacina é o último recurso.  O primeiro é ter um bom recolhimento de lixo e saneamento básico.

Rosane Marinho

É jornalista, carioca, e há dez anos vive em Zaragoza, na Espanha. No Rio, trabalhou como fotógrafa na sucursal da Folha de S. Paulo e no Jornal do Brasil. Foi correspondente d'O Globo no Recife. Na Espanha, é professora de fotografia digital e trabalha como jornalista freelance. Casada, é mãe de dois pequenos hispano-brasileiros.

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