Aplicativo permite acompanhar crescimento de árvores na Amazônia

Startup amazonense apoia a mão-de-obra local, incentiva o reflorestamento e investe em educação ambiental

Por Liege Albuquerque | ODS 15ODS 4 • Publicada em 24 de outubro de 2023 - 09:25 • Atualizada em 25 de junho de 2024 - 13:18

Funcionários da startup e voluntários transferem as mudas para o barco-escola. Foto divulgação Tree Earth

(Manaus, AM) – A muda de goiabeira, para relembrar as árvores de seu quintal da infância, foi plantada em agosto pelo gerente de RH da empresa INDT (Instituto de Desenvolvimento Tecnológico) Carlos Ferreira, na comunidade ribeirinha Menino Jesus, em Autazes, a 115 quilômetros de Manaus. Desde lá, Carlos acompanha no celular o crescimento da árvore pelo aplicativo Tree Earth, projeto da startup de Manaus VS Academy, que faz o georreferenciamento e tokenização de árvores com o objetivo de restaurar áreas degradadas.

“Também plantei a Jutairana, que é uma árvore de grande porte, ideal para o sombreamento, e acompanho o crescimento dela também através do aplicativo Tree Earth”, conta Carlos, cuja empresa plantou 100 árvores, com a participação dos funcionários nas expedições.

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A empresa de Carlos tem outra visita à comunidade para o final deste ano e já doou kits escolares para um barco-escola que leva cursos a comunidades ribeirinhas desde o ano passado, também projeto da startup. “O estímulo ao plantio vem com a necessidade de mantermos o nosso ecossistema sustentável e de estimularmos outras iniciativas semelhantes”.

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O barco-escola, que leva cursos e palestras ao interior, além das mudas de plantas que serão monitoradas pelo aplicativo em seus crescimentos, levaria os funcionários da Atem, empresa de combustíveis, para plantar árvores. A empresa doou R$ 30 mil em diesel para o barco-escola, mas não pôde realizar a ação de plantio por conta da restrição do calado do barco, na seca histórica que castiga a região e isola ribeirinhos no interior da Amazônia.

“Pelo menos até novembro é impossível o barco continuar o trabalho de levar as mudas e os funcionários por conta da seca”, destaca o CEO da Tree Earth, Vicente Tino, programando a próxima viagem para quando a natureza, ou o rio cheio, permitir. Segundo Vicente Tino, já são quase mil árvores plantadas e acompanhadas por seus padrinhos pelo aplicativo (também podem ser vistas as fotos do dia do plantio no https://opensea.io/TreeEarth

No ano passado, a Caloi doou equipamentos para o barco-escola e seus funcionários já participaram duas vezes do plantio de mudas em comunidades ribeirinhas. “Sem contar as doações de mudas, que muitos se interessaram em plantar em suas residências ou sítios, de mogno, ipês, castanha do Brasil, açaí, entre outras. Plantar desta forma nos dá um senso de responsabilidade muito grande, por estarmos contribuindo com algo maior”, destacou a analista ambiental da Caloi, Tiara Peres, que plantou um ipê em junho deste ano em Itacoatiara, a 270 quilômetros de Manaus.

Tiara Peres, analista ambiental da Caloi, plantou um Ipê em junho deste ano. Foto Divulgação Tree Earth
Tiara Peres, analista ambiental da Caloi, plantou um Ipê em junho deste ano. Foto Divulgação Tree Earth

Startup – Em troca de doações e taxas de até R$ 7 por muda (onde parte fica com o ribeirinho que vai cuidar da planta) a startup amazonense promove não só reflorestamento como abre a perspectiva inédita de a pessoa “cuidar” de longe de árvores que não teriam como plantar em casa. É possível escolher mudas de mais 100 árvores e arbustos nativos da região, como andiroba, castanha-do-brasil, cupuaçu, ipês amarelos, roxos e outras espécies amazônicas

De acordo com o Vicente Tino, a empresa surgiu para conectar viveiros, plantadores e pequenos proprietários de terra, os que vão cuidar da plantinha. “Com os recursos de empresas ou pessoas físicas, pagamos as mudas aos viveiros e pequenas taxas aos proprietários dos terrenos onde são plantadas as mudas”, explica. Segundo Vicente, a startup trabalha com os viveiros de Manaus, no Puraquequara; Aruanã, em Itacoatiara; Flora, em Manacapuru; e Copaíba, em São Paulo.

O projeto do barco, conta Vicente Tino, surgiu a partir de pedidos de empresas doadoras em conhecer de perto as áreas do plantio das mudas. “Daí tivemos a ideia de ajudar a levar também cursos para as comunidades com o barco”. Planejado para executar expedições de plantio e educação ambiental pela Amazônia, o barco-escola reúne pessoas, empresas e organizações para plantio de árvores, treinamentos de ESG e ações ambientais diversas.

Carlos Ferreira e a sua muda de goiabeira. Foto divulgação Tree Earth
Carlos Ferreira e a sua muda de goiabeira. Foto divulgação Tree Earth

Cursos – O barco-escola, que fez no início de setembro a último excursão antes da seca, leva às comunidades cursos de 20 horas de duração, nas áreas de empreendedorismo digital (ensinando as crianças e adolescentes a usarem seus celulares para produzir e publicar histórias de suas comunidades em redes sociais), de artesanato (para ensinar adolescentes a produzir artesanatos com sementes e fibras) e, para os pais e professores, palestras inspiradas no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 8, de emprego digno e desenvolvimento econômico, realizadas por servidores do Tribunal Regional do Trabalho (TRT).

As empresas doadoras também utilizam o barco para levar os colaboradores para plantar mudas nas comunidades e depois, por meio do aplicativo que faz geolocalização da plantinha, cada um pode acompanhar seu crescimento via satélite. “Normalmente a pessoa planta uma árvore em projetos ambientais e nunca mais sabe dela, mas por meio do aplicativo é possível acompanhar por anos seu desenvolvimento, gerando certamente mais consciência ambiental”.

As expedições da startup com o barco-escola, segundo Vicente, buscam atender a oito ODS da Organização das Nações Unidas (ONU): Erradicação da pobreza; Educação de qualidade; Trabalho decente e crescimento econômico; Redução das desigualdades; Ação climática; Vida terrestre; Proteger a vida marinha; e Parcerias e meios de implementação.

Liege Albuquerque

Liege Albuquerque é jornalista e mestre em Ciências Políticas (USP). É professora de jornalismo e publicidade na UniNorte/Laureate em Manaus, de onde faz freelances para diversos veículos. Foi repórter e editora de Cidades e Política em jornais como A Crítica, Amazonas em Tempo e Diário do Amazonas (em Manaus), Folha de S. Paulo e Veja (em São Paulo), O Globo e O Estado de S. Paulo (em Brasília). Trabalhou por oito anos como correspondente do Estadão no Amazonas. É autora de dois livros infantis e tem um blog sobre maternidade com outras jornalistas: o maescricri.

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