ODS 1
Dinamarca sente os ventos da crise
Líder mundial em energia eólica, país reduz os investimentos no setor para 2016
Qualquer pessoa que já passou pela Dinamarca nota que as turbinas eólicas fazem parte da paisagem nacional. O país é o recordista mundial em produção e exportação nesta que é considerada a fonte mais limpa entre as renováveis. Não à toa, a expectativa de novos negócios exaltou os ânimos de dinamarqueses neste domingo, após o fim da COP 21, em Paris, que fixou um acordo de transferir, a partir de 2020, no mínimo US$ 100 bilhões por ano, de países ricos a pobres, para controlar o aquecimento global. Porém, enquanto nações se comprometem em investir mais em projetos verdes para combater os combustíveis fósseis, a nação que já é verde amarga recentes cortes do governo federal no setor para o ano que vem.
[g1_quote author_name=”Søren Hermansen” author_description=”Diretor da Academia de Energia” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]Eu realmente não entendo o atual governo cortando o orçamento do setor verde e me pergunto por que ele não apoia talvez os projetos mais famosos como modelo de desenvolvimento sustentável do país.
[/g1_quote]O governo que assumiu em junho, do partido liberal Venstre, decidiu reduzir em cerca de 50% o montante destinado à pesquisa de energias renováveis, passando o orçamento de 385 milhões de coroas dinamarquesas (R$ 220 milhões) para 127 milhões.
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Veja o que já enviamos– Para desgosto do setor, o governo da Dinamarca retrocedeu no financiamento da pesquisa energética, que é o que leva à redução de custos da energia – criticou o CEO da Associação Dinamarquesa das Indústrias de Energia Eólica, Jan Hylleberg.
– Ao mesmo tempo, o governo aventou que as reduções de emissões de CO2 não ocorreriam na velocidade proposta pela administração anterior (de redução em 40% até 2020 das emissões de gases do efeito estufa). Seja qual for o tamanho da ambição, minha esperança é que a Dinamarca continue a empunhar essa bandeira, mostrando o caminho para outros países – afirma.
Procurado pelo “Colabora”, o governo dinamarquês não comentou as razões para a redução de investimentos e metas menos ambiciosas. Há um mês, no entanto, o ministro de Energia, Lars Christian Lilleholt, afirmou ao jornal “Politiken” que “as críticas são exageradas”.
– Há menos dinheiro, mas ainda há muito. E estou numa posição em que preciso encontrar uma forma de a economia da Dinamarca cumprir com as despesas – argumentou.
O governo também pretende cortar três programas de apoio a mais de 90 negócios verdes, com benefícios distribuídos que beiram o valor de 300 milhões de coroas. Um dos projetos mais conhecidos, a Academia da Energia abastece a ilha de Samso e conta com incentivos do governo para manter 20% de seu orçamento de 677 mil coroas. O diretor do projeto, Søren Hermansen, admite que está preocupado:
– Eu realmente não entendo o atual governo cortando o orçamento do setor verde e me pergunto por que ele não apoia talvez os projetos mais famosos como modelo de desenvolvimento sustentável do país.
Além disso, assim como Hylleberg, Søren Hermansen também enxerga o país como um norteador para outras nações:
– O mundo precisa implementar medidas necessárias para manter as metas do acordo da COP 21. A Dinamarca é líder em desenvolvimento verde, mas isso não é o suficiente. Ela precisa também se comprometer em ajudar o resto do mundo a avançar.
Energia abundante
O vento é um dos poucos recursos naturais disponíveis no país. Por isso, já nos anos 1970 os dinamarqueses foram pioneiros, agarraram com unhas e dentes esse bem e hoje acumulam recordes. Em 2014, a energia eólica atingiu o recorde mundial de 39,01% da eletricidade consumida internamente, um total de 4,8 gigawatts (GW) de capacidade acumulada. Patamar que, apesar de algumas flutuações, vem crescendo desde 2005, quando a energia eólica representava 19% do total, de acordo com dados da “Energinet”, organização ligada ao Ministério de Energia da Dinamarca.
É claro que esses índices devem levar em conta o tamanho do país, de 5,3 milhões de habitantes. A título de comparação, o Brasil, que tem uma crescente e animadora instalação eólica e inclusive mantém negócios com empresas dinamarquesas, começou 2015 com 214 usinas eólicas, num total de 6 GW de capacidade acumulada. Ainda assim, para o país continental, este valor representa 4,5% de sua matriz energética.
A eletricidade proveniente da energia eólica é constantemente comercializada entre Dinamarca, Suécia e Noruega, balanceando o abastecimento e a demanda, assim como reduzindo os preços e amenizando as flutuações. E ano passado, a Dinamarca experimentou um salto de 17% nas exportações, chegando a 53,5 milhões de coroas, contra 45,8 milhões em 2013. Hoje cerca de 5% de todas as exportações do país vêm da energia eólica. A COP 21 traz, portanto, possibilidades de incremento do setor.
– A energia eólica é uma tecnologia madura, barata e escalável, que tem grande potencial de preencher as necessidades do acordo da COP 21. Obviamente, como um país líder em produção e exportação, a Dinamarca tem muito com que se beneficiar do resultado da conferência, e eu espero que as exportações aumentem agora com o acordo global – defendeu Jan Hylleberg.
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Jornalista com mais de dez anos de experiência em reportagem e edição em veículos de imprensa do Brasil e exterior, como BBC Brasil, O Globo, TMT Finance e Mongabay News. Mestre em jornalismo de negócios e finanças pelas Universidade de Aarhus (Dinamarca) e City University, em Londres.