Dinamarca sente os ventos da crise

Líder mundial em energia eólica, país reduz os investimentos no setor para 2016

Por Flavia Milhorance | ODS 13 • Publicada em 15 de dezembro de 2015 - 06:01 • Atualizada em 15 de dezembro de 2015 - 10:46

Enquanto nações se comprometem em investir mais em projetos verdes para combater os aquecimento global, a Dinamarca, que já é verde amarga recentes cortes do governo no setor para 2016
Enquanto nações se comprometem em investir mais em projetos verdes para combater os aquecimento global, a Dinamarca, que já é verde amarga recentes cortes do governo no setor para 2016
Enquanto nações se comprometem em investir mais em projetos verdes para combater os aquecimento global, a Dinamarca, que já é verde amarga recentes cortes do governo no setor para 2016

Qualquer pessoa que já passou pela Dinamarca nota que as turbinas eólicas fazem parte da paisagem nacional. O país é o recordista mundial em produção e exportação nesta que é considerada a fonte mais limpa entre as renováveis. Não à toa, a expectativa de novos negócios exaltou os ânimos de dinamarqueses neste domingo, após o fim da COP 21, em Paris, que fixou um acordo de transferir, a partir de 2020, no mínimo US$ 100 bilhões por ano, de países ricos a pobres, para controlar o aquecimento global. Porém, enquanto nações se comprometem em investir mais em projetos verdes para combater os combustíveis fósseis, a nação que já é verde amarga recentes cortes do governo federal no setor para o ano que vem.

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Eu realmente não entendo o atual governo cortando o orçamento do setor verde e me pergunto por que ele não apoia talvez os projetos mais famosos como modelo de desenvolvimento sustentável do país.

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O governo que assumiu em junho, do partido liberal Venstre, decidiu reduzir em cerca de 50% o montante destinado à pesquisa de energias renováveis, passando o orçamento de 385 milhões de coroas dinamarquesas (R$ 220 milhões) para 127 milhões.

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– Para desgosto do setor, o governo da Dinamarca retrocedeu no financiamento da pesquisa energética, que é o que leva à redução de custos da energia – criticou o CEO da Associação Dinamarquesa das Indústrias de Energia Eólica, Jan Hylleberg.

– Ao mesmo tempo, o governo aventou que as reduções de emissões de CO2 não ocorreriam na velocidade proposta pela administração anterior (de redução em 40% até 2020 das emissões de gases do efeito estufa). Seja qual for o tamanho da ambição, minha esperança é que a Dinamarca continue a empunhar essa bandeira, mostrando o caminho para outros países – afirma.

Procurado pelo “Colabora”, o governo dinamarquês não comentou as razões para a redução de investimentos e metas menos ambiciosas. Há um mês, no entanto, o ministro de Energia, Lars Christian Lilleholt, afirmou ao jornal “Politiken” que “as críticas são exageradas”.

– Há menos dinheiro, mas ainda há muito. E estou numa posição em que preciso encontrar uma forma de a economia da Dinamarca cumprir com as despesas – argumentou.

O governo também pretende cortar três programas de apoio a mais de 90 negócios verdes, com benefícios distribuídos que beiram o valor de 300 milhões de coroas. Um dos projetos mais conhecidos, a Academia da Energia abastece a ilha de Samso e conta com incentivos do governo para manter 20% de seu orçamento de 677 mil coroas. O diretor do projeto, Søren Hermansen, admite que está preocupado:

– Eu realmente não entendo o atual governo cortando o orçamento do setor verde e me pergunto por que ele não apoia talvez os projetos mais famosos como modelo de desenvolvimento sustentável do país.

Além disso, assim como Hylleberg, Søren Hermansen também enxerga o país como um norteador para outras nações:

– O mundo precisa implementar medidas necessárias para manter as metas do acordo da COP 21. A Dinamarca é líder em desenvolvimento verde, mas isso não é o suficiente. Ela precisa também se comprometer em ajudar o resto do mundo a avançar.

Energia abundante

O vento é um dos poucos recursos naturais disponíveis no país. Por isso, já nos anos 1970 os dinamarqueses foram pioneiros, agarraram com unhas e dentes esse bem e hoje acumulam recordes. Em 2014, a energia eólica atingiu o recorde mundial de 39,01% da eletricidade consumida internamente, um total de 4,8 gigawatts (GW) de capacidade acumulada. Patamar que, apesar de algumas flutuações, vem crescendo desde 2005, quando a energia eólica representava 19% do total, de acordo com dados da “Energinet”, organização ligada ao Ministério de Energia da Dinamarca.

É claro que esses índices devem levar em conta o tamanho do país, de 5,3 milhões de habitantes. A título de comparação, o Brasil, que tem uma crescente e animadora instalação eólica e inclusive mantém negócios com empresas dinamarquesas, começou 2015 com 214 usinas eólicas, num total de 6 GW de capacidade acumulada. Ainda assim, para o país continental, este valor representa 4,5% de sua matriz energética.

A eletricidade proveniente da energia eólica é constantemente comercializada entre Dinamarca, Suécia e Noruega, balanceando o abastecimento e a demanda, assim como reduzindo os preços e amenizando as flutuações. E ano passado, a Dinamarca experimentou um salto de 17% nas exportações, chegando a 53,5 milhões de coroas, contra 45,8 milhões em 2013. Hoje cerca de 5% de todas as exportações do país vêm da energia eólica. A COP 21 traz, portanto, possibilidades de incremento do setor.

– A energia eólica é uma tecnologia madura, barata e escalável, que tem grande potencial de preencher as necessidades do acordo da COP 21. Obviamente, como um país líder em produção e exportação, a Dinamarca tem muito com que se beneficiar do resultado da conferência, e eu espero que as exportações aumentem agora com o acordo global – defendeu Jan Hylleberg.

Flavia Milhorance

Jornalista com mais de dez anos de experiência em reportagem e edição em veículos de imprensa do Brasil e exterior, como BBC Brasil, O Globo, TMT Finance e Mongabay News. Mestre em jornalismo de negócios e finanças pelas Universidade de Aarhus (Dinamarca) e City University, em Londres.

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