Destruição florestal cresce em 2020 e Brasil lidera ranking

Relatório do Global Forest Watch mostra que país perdeu 1,7 milhão de hectares de florestas primárias, 25% a mais do que 2019

Por Oscar Valporto | ODS 15 • Publicada em 31 de março de 2021 - 13:50 • Atualizada em 6 de abril de 2021 - 09:55

Operação contra madeireiras ilegais da PM e da Secretaria de Meio Ambiente do Pará: Brasil lidera ranking mundial de perda de cobertura florestal (Foto: Agência Pará – 10/08/2020)

Relatório anual do Global Forest Watch (Observatório Global Florestal), divulgado nesta quarta-feira (31), mostra que o Brasil, mais uma vez, lidera a lista anual de perdas de floresta primária, com o total de 1,7 milhão de hectares perdidos em 2020, uma destruição florestal três vezes maior em relação ao segundo colocado. A perda de floresta primária no Brasil aumentou em 25% no ano de 2020, em comparação com o 2019.

De acordo com os dados compilados pela Universidade de Maryland (EUA) para o GFW e o WRI (World Resources Institute) , os trópicos perderam 12,2 milhões de hectares de cobertura arbórea em 2020. O GFW explica que perda de cobertura arbórea não é o mesmo que desmatamento: pode se referir a árvores em plantações, assim como a florestas naturais: é a remoção da copa das árvores devido a causas humanas ou naturais, inclusive incêndio. A perda de florestas primárias no mundo foi 12% maior em 2020 em comparação com o ano anterior – é o segundo ano consecutivo em que a perda de florestas primárias piorou nos trópicos.

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Desse total, 4,2 milhões de hectares, área do tamanho da Holanda, ocorreram em florestas primárias tropicais úmidas, que são especialmente importantes para o armazenamento de carbono e para a biodiversidade. As emissões de carbono resultantes dessa perda de florestas primárias (2.64 gigatoneladas de CO2) equivalem às emissões anuais de 570 milhões de automóveis, mais que o dobro do número de veículos que circulam pelos Estados Unidos.

O relatório do GFW alerta que “como em anos anteriores, o desmatamento para a abertura de áreas para produção de commodities foi a principal causa de perda de cobertura arbórea (em florestas primárias e secundárias) na América Latina e no Sudeste Asiático, enquanto a agricultura de rotação domina na África tropical”. Além disso, incêndios e outros eventos relacionados ao clima continuaram a ter significativo impacto, tanto nos trópicos e quanto em outras regiões.

Brasil é destaque negativo

No Brasil, a maior parte da perda de floresta primária úmida no país ocorreu na Amazônia, que sofreu um aumento de 15% em relação ao ano anterior, totalizando 1,5 milhão de hectares. Isso corresponde à tendência vista nos dados do Inpe, que acompanham especificamente o corte na Amazônia. Áreas recém abertas são particularmente comuns nas fronteiras ao sul e a leste da Amazônia – conhecidas como Arco do Desmatamento – e junto a rodovias que cortam a floresta, muitas delas com expansão e pavimentação previstas para os próximos anos.

Os dados também mostram diversas cicatrizes por incêndio. “A Amazônia Brasileira sofreu número maior de incêndios em 2020 do que em 2019. Isso é preocupante, pois grandes incêndios raramente ocorrem em florestas tropicais úmidas, como a Amazônia”, destaca o relatório do GFW.

O documento aponta que, em 2019, a maioria dos incêndios ocorreu em áreas já desmatadas, pois os fazendeiros prepararam a terra para agricultura e pasto. “Em 2020, porém, grande parte dos incêndios ocorreu nas florestas, pois incêndios causados por humanos se alastraram para além da extensão calculada devido ao clima seco”.

O GWF alerta ainda que as emissões de gases do efeito estufa pelas queimadas na Amazônia superaram, em certas ocasiões, aquelas causadas pelo desmatamento para abrir clareiras. “Os cientistas temem que os incêndios, e as emissões relacionadas, possam aumentar no futuro, com as mudanças climáticas e o aumento no desmatamento secando as florestas e tornando-as mais vulneráveis a incêndios. Este círculo vicioso poderia transformar a Amazônia em uma savana”, afirma o documento.

O relatório lembra ainda que o alto nível de desmatamento e de incêndios na Amazônia ocorreu apesar da proibição de incêndios durante o pico da temporada e do envio do Exército para inibir o desmatamento ilegal e também que o bioma não foi o único a registrar aumento na perda de floresta úmida primária em 2020. “Ainda que seja apenas uma pequena parte da perda total do país, o Pantanal, a maior planície alagada contínua do mundo, sofreu uma perda 16 vezes maior de floresta primária em 2020 do que no ano anterior”, destaca o documento.

Embora o aumento no Pantanal se deva ao nível recorde de incêndios causados para abrir terra para pastos e os níveis de seca na região tenham sido os maiores desde a década de 1970, os analistas do GFW lembram que “o desmatamento em outras regiões da América do Sul pode ter influenciado a perda de umidade do Pantanal e as mudanças climáticas provavelmente farão com que eventos extremos aconteçam com maior regularidade”. Especialistas estimam que cerca de 30% do Pantanal queimou em 2020.

Ameaça a florestas na América do Sul

Fenômenos semelhantes causaram prejuízos em outros países sul-americanos: Bolívia, Colômbia e Peru registraram altos níveis de perda de floresta em 2020. A Bolívia, apesar de leve queda no número absoluto, subiu para o terceiro lugar na lista de países com a maior perda de floresta primária, tropical e úmida em 2020, ultrapassando a Indonésia pela primeira vez. Como em 2019, as queimadas foram determinantes e afetaram áreas protegidas, incluindo o Parque Nacional Noel Kempff Mercado. “Como no Brasil, a maioria dos incêndios na Bolívia provavelmente começaram com pessoas tentando limpar a terra, mas fugiram do controle devido a condições secas e ao clima quente”, destaca o GWF.

Os pesquisadores registraram aumento da taxa de perda de floresta em 2020 também na Colômbia. “O desmatamento continua a se aprofundar pela Amazônia colombiana e em diversas áreas protegidas, como os parques nacionais de Chiribiquete, Tinigua e Sierra de la Macarena. Grupos armados tomaram controle de áreas protegidas do país. Os funcionários foram forçados a abandonar dez parques em fevereiro de 2020 devido a ameaças à sua segurança”, alerta o relatório.

Em quinto lugar em termos de perda de florestas tropicais, o Peru também registrou aumento dessa taxa. Para os analistas do Global Forest Watch, grande parte das perdas ocorreu em clareiras menores, com desmatamento voltado para a ocupação do terreno para agricultura e pecuária. “Os dados mostram diversas vias recentes de extração de madeira por toda a Amazônia peruana em 2020. O O país enfrenta historicamente taxas altas de extração ilegal de madeira”, destaca o relatório.

Boas notícias da Indonésia

Apesar de os números globais de desmatamento sejam elevados, o Global Forest Watch destaca avanços na conservação das florestas no Sudeste Asiático. A taxa de perda de florestas primárias na Indonésia caiu, em 2020, pelo quarto ano consecutivo – foi um dos poucos países onde isso ocorreu. A Indonésia também deixou de ser um dos três países com mais intensa perda de floresta primária pela primeira vez desde que o GFW começou a fazer o levantamento.

O relatório atribui esse sucesso a esforços de monitoramento e prevenção de queimadas do Ministério do Meio Ambiente e Florestas da Indonésia, após uma temporada recorde de incêndios em florestas e turfas em 2015. O governo emitiu uma moratória temporária em novas licenças para plantações para produção de óleo de palma e uma moratória permanente em conversão de florestas primárias e turfas. De acordo com o GFW, reformas realizadas no país “reduziram a pressão sobre as florestas ao aliviar a pobreza e incentivar o uso sustentável da terra”.

O levantamento registrou que a perda de floresta primária caiu na Malásia também pelo quarto ano consecutivo. O GFW atribui essa tendência de redução – num país que perdeu um quinto de suas florestas desde o começo do século – a recentes ações governamentais para limitar áreas de plantação e “endurecer as leis florestais ao elevar as multas e o tempo de prisão para a colheita de madeira ilegal”.

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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