Um viaduto para os micos-leões dourados

Associação celebra conclusão de obra que facilita preservação de animais e parceria para a implantação de parque ecológico

Por Oscar Valporto | ODS 15 • Publicada em 1 de agosto de 2020 - 08:39 • Atualizada em 6 de agosto de 2020 - 11:41

Mico-leão dourado e o viaduto vegetado construído para facilitar circulação dos animais: instrumento para preservação da espécie (Fotos: Camila Maia e Divulgação)

Neste 2 de agosto, Dia Internacional do Mico-Leão Dourado, a estrela da festa virtual será uma obra: ficou pronto, finalmente, o primeiro viaduto vegetado em rodovia federal do país – sobre a BR-101 Norte, na altura do município de Silva Jardim (RJ) – que tem como objetivo de facilitar a passagem dos micos e de outros animais. “O viaduto é fundamental para ligar trechos de Mata Atlântica, hoje estão separados pela estrada, o que tolhia a circulação dos micos-leões. Por isso, fizemos um vídeo especial para divulgar esse viaduto vegetado, um exemplo de como é possível reduzir o impacto de uma obra viária no meio ambiente”, afirmou o geógrafo Luís Paulo Ferraz, secretário-executivo da Associação do Mico-Leão-Dourado (AMLD).

O viaduto, previsto desde o contrato de concessão assinado em 2008, tem localização estratégica: de um lado da pista da BR-101 Norte (no quilômetro 218), está a Reserva Biológica de Poço das Antas, que concentra uma população de micos-leões dourados; do outro lado, fica a Fazenda Igarapé, adquirida pela AMLD, com recursos provenientes de doações, para abrigar, além da sede da associação, o Parque Ecológico do Mico-Leão Dourado, para observação da fauna e desenvolvimento de projetos ambientais.

O viaduto de concreto tem mudas plantadas e ficará coberto por vegetação. Também foi criado um corredor florestal, ligando a reserva de Poço das Antas ao viaduto para facilitar ainda mais a circulação dos primatas. “Com a fazenda e o viaduto, vamos reduzir a fragmentação do território do mico-leão. Eles precisam dessa ampliação do território para circular para fortalecer a espécie, para ela não sofrer um enfraquecimento genético”, explicou Ferraz.

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Mico-leão dourado na Reserva de Poço das Antas: população afetada pela febre amarela (Foto: Camila Maia)
Mico-leão dourado na Reserva de Poço das Antas: população afetada pela febre amarela (Foto: Camila Maia)

O secretário-executivo da AMLD lembrou que esse fortalecimento da espécie é ainda mais importante após o surto de febre-amarela, ocorrida dois anos atrás, que atingiu os mico-leões dourados, reduzindo em 32% a população do animal, um símbolo da preservação da biodiversidade no país. Antes do surto, a população de micos-leões-dourados vinha aumentando de forma consistente desde a década de 1970, quando chegaram a apenas 200 no país e estavam à beira da extinção na natureza. Em 2014, o senso indicava 3.700 micos, um sucesso na recuperação de uma espécie – pelo menos, 10% estavam na área da Reserva de Poços das Antas. Esta população também foi a mais atingida pela febre amarela. “O mico tem tudo para resistir porque criou-se uma consciência ecológica por aqui e essas iniciativas servem para proteger os animais”, afirmou Ferraz.

A pandemia de covid-19 retardou o desenvolvimento da vacina contra a febre amarela para os micos-leões dourados – na verdade, uma diluição da vacina desenvolvida para seres humanos para adaptá-las aos primatas, mas o trabalho com testes em animais em cativeiro. O isolamento determinado pela pandemia também atrapalhou as ações de monitoramento desenvolvidas pela AMLD com os micos-leões da região de Mata Atlântica – bioma onde o animal é endêmico – na Reserva de Poço das Antas e na APA (Área de Proteção Ambiental) São João. Com menos circulação de seres humanos, entretanto, aumentaram os avistamentos de micos-leões dourados na área.

O viaduto vegetativo sobre a BR-101 Norte: conectando áreas de Mata Atlântica para os micos-leões (Foto: AMLD)
O viaduto vegetativo sobre a BR-101 Norte: conectando áreas de Mata Atlântica para os micos-leões (Foto: AMLD)

Mirante em parque ecológico

No Dia Internacional do Mico-Leão Dourado, a transmissão comemorativa pela internet – ao vivo a partir da sede da AMLD na Fazenda Igarapé – também servirá para anunciar, além da conclusão do viaduto vegetado, a renovação da parceria com a Exxon Mobil, por meio do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), para a criação do Parque Ecológico Mico-leão-dourado, que a AMDB pretende inaugurar, até segundo semestre de 2021, na Fazenda Igarapé. “Nós estamos aproveitando esse momento de pandemia para concluir o projeto do parque e ir preparando a infraestrutura para receber mais visitantes”, explicou o geógrafo Luís Paulo Ferraz.

De acordo com o secretário-executivo da Associação do Mico-Leão-Dourado, os R$ 500 mil deste segundo ano de parceria serão utilizados nesta estruturação do parque. “O projeto inclui a construção de um mirante, um deck de observação, na parte mais elevada da fazenda, de onde os visitantes poderão ver os micos-leões, a reserva de Poço das Antas, o viaduto vegetado e detalhes característicos da fauna e da flora”, explicou Ferraz.  O projeto do Parque Ecológico Mico-Leão Dourado inclui ainda equipamentos audiovisuais com conteúdo sobre a área e os micos-leões-dourados e espaços para a promoção de palestras, eventos artísticos e feiras agroecológicas. “Nosso objetivo é ter um lugar de preservação, conscientização e educação ambiental”, acrescentou o dirigente da associação.

Ano passado, a parceria com a Exxon, sempre com o apoio dos especialistas em gestão ambiental do Funbio, garantiu à AMLD recursos – R$ 1 milhão – para o plantio de 20 mil mudas para assegurar uma área maior, sequencial, unindo trechos de Mata Atlântica, com o objetivo de conectar blocos de florestas para garantir a preservação do mico-leão. “O parque ecológico proporcionará uma extraordinária experiência, observar o mico-leão-dourado em seu habitat natural, o que gera empatia, central para a preservação ambiental”, afirmou Alexandre Ferrazoli, gerente do projeto no Funbio. “Com a criação do parque, queremos ajudar a conscientizar mais pessoas sobre a importância do compromisso com a preservação ambiental”,  disse Valéria Rossi, responsável pela área de Assuntos Institucionais e Governamentais da ExxonMobil no Brasil.

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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