Diário da Covid-19: coronavírus já matou mais americanos do que a Guerra do Vietnã

Brasil segue crescendo mais do que a média mundial e pode chegar a 400 mil casos e 30 mil mortes até o final de maio

Por José Eustáquio Diniz Alves | ODS 3 • Publicada em 27 de abril de 2020 - 10:18

Duas mulheres no Harlem, em Nova York, observam o mural do artista @Dister, retratando socorristas com máscaras e uma mensagem de agradecimento. Foto Johannes Eisele/AFP

Os Estados Unidos vão bater um triste recorde nesta segunda-feira, dia 27 de abril: mais de um milhão de pessoas infectadas e cerca de 58 mil mortes provocadas pelo coronavírus. Em dois meses, os EUA tiveram mais mortes pela covid-19 do que o número de americanos mortos durante a Guerra do Vietnã, que durou 20 anos (01/11/1955 – 30/04/1975). O mundo atingiu 3 milhões de casos, com um terço deles nos EUA. O número de mortes globais ficou em 207 mil, sendo um pouco mais de um quarto nos EUA. O Brasil está bem atrás do maior país das Américas, mas está se aproximando do “líder”, na medida em que os números brasileiros crescem mais rápido do que a média americana e mais do que a média mundial.

O panorama nacional

No Brasil, os números da pandemia do coronavírus na tarde do domingo, dia 26 de abril de 2020, chegaram a 61.888 casos e a 4.205 mortes, com uma taxa de letalidade de 6,8%. A variação diária do número de pessoas infectadas foi de 3.379 casos (a quarta maior do mundo, atrás apenas dos EUA, Reino Unido e Rússia) e de 189 óbitos (a sexta maior variação diário do número de mortes no mundo).

O gráfico abaixo mostra a série histórica dos números acumulados de casos e de mortes no Brasil de 01 a 26 de abril de 2020 e uma projeção até 26 de maio, com base no uso de um modelo polinomial de terceiro grau. O número de casos passou de 6,8 mil em 01 de abril para 61,9 mil em 26 de abril, aumentando 9 vezes (ou 9,2% ao dia) e o número de mortes passou de 240 em 01/04 para 4,2 mil em 26/04, um aumento de 17,5 vezes (ou 12,1% ao dia). Mesmo com a redução da velocidade do surto, nos próximos 30 dias o Brasil poderá ter cerca de 400 mil casos e 30 mil mortes em 26 de maio.

O panorama global

No dia 26 de abril, a pandemia global atingiu a marca de 2,99 milhões de casos e 207 mil mortes, com uma taxa de letalidade de 6,9%.

O gráfico abaixo mostra a série histórica dos números acumulados de casos e de mortes no mundo de 01 de março a 26 de abril de 2020 e uma projeção até 26 de maio, com base no uso de um modelo polinomial de terceiro grau. O número global de casos passou de 935 mil em 01 de abril para 3 milhões em 26 de abril, aumentando 3,2 vezes (ou 4,8% ao dia) e o número de mortes passou de 47 mil em 01/04 para 207 mil em 26/04, um aumento de 4,4 vezes (ou 6,1% ao dia). Mesmo com a redução da velocidade do surto, nos próximos 30 dias, o mundo poderá ter cerca de 5 milhões de casos e 500 mil mortes em 26 de maio de 2020.

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A pandemia nos Estados Unidos da América (EUA)

Os EUA atingiram a marca histórica de 1 milhão de casos e quase 60 mil mortes no dia 27 de abril, se destacando no topo do ranking internacional. No dia 30 de abril se comemora os 45 anos do fim da Guerra do Vietnã, que em vários estágios de intensidade, durou de 01/11/1955 a 30/04/1975 e deixou cerca de 58 mil soldados mortos durante o conflito. Ou seja, em apenas dois meses a pandemia de covid-19 matou mais americanos do que os 20 anos de uma guerra que foi dramática, causou centenas de milhares de vítimas no Vietnã e deixou cicatrizes profundas na sociedade norte-americana.

Portanto, a pandemia da covid-19, definitivamente, não é uma “gripezinha”. O gráfico abaixo mostra a evolução do número de casos da covid-19 nos EUA por semana epidemiológica (SE). No dia 01 de março o país tinha apenas 75 casos confirmados de covid-19 e passou para 435 casos no dia 07/03. Foram apenas 360 casos, mas o aumento foi de 6,4 vezes (o que representa 30,4% ao dia na 10ª SE) e assim por diante. No dia 19/04 o número de casos estava em 770 mil e passou para 961 mil casos, um aumento de 1,29 vezes (ou 3,7% ao dia na 17ª SE). Portanto, o crescimento do número absoluto de casos foi muito rápido, mas em termos relativos as taxas estão se reduzindo desde a 12ª SE.

O gráfico abaixo mostra a evolução do número de mortes da covid-19 nos EUA por semana epidemiológica (SE). No dia 01 de março o país tinha apenas 1 morte pela covid-19 e passou para 19 mortes no dia 07/03. Foram apenas 19 mortes, mas o aumento foi de 19 vezes (o que representa 52,3% ao dia na 10ª SE) e assim por diante. No dia 19/04 o número de mortes estava em 40,6 mil e passou para 54,3 mil mortes, um aumento de 1,39 vezes (ou 4,8% ao dia na 17ª SE). Portanto, o crescimento do número absoluto de mortes tem sido muito rápido, mas em termos relativos as taxas estão se reduzindo desde a 13ª SE.

O gráfico abaixo mostra a série histórica dos números acumulados de casos e de mortes nos EUA de 01 de março a 26 de abril de 2020 e uma projeção até 26 de maio, com base no uso de um modelo polinomial de terceiro grau. O número de casos passou de 220 mil em 01 de abril para 987 mil em 26 de abril, um aumentou 4,5 vezes (ou 6,1% ao dia) e o número de mortes passou de 6,4 mil em 01/04 para 55,4 mil em 26/04, um aumentou de 8,3 vezes (ou 8,3% ao dia). Mesmo com a redução da velocidade do surto, nos próximos 30 dias os EUA poderão atingir cerca de 2 milhões de casos e 200 mil mortes até o dia 26 de maio.

A pandemia no Vietnã

O Vietnã, com uma população de 97 milhões de habitantes, tem se destacado nas estatísticas oficiais, como um dos países menos afetados pela covid-19. No dia 26 de abril de 2020 o país registrou apenas 270 casos e nenhuma morte pela covid-19, segundo o site Worldometers. Talvez o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, que publicou um artigo sobre o “Comunavírus” pudesse visitar o Vietnã para entender o que acontece por lá.

A Agência alemã Deutsche Welle (DW), considera que o país vizinho da China (com uma fronteira de 1.100 quilômetros) surpreendeu pelo baixo impacto da pandemia, pois possui um sistema de saúde fraco e um orçamento baixo para combater o coronavírus. A Agência DW considera que o governo autoritário fez um bom trabalho. Durante as celebrações do Ano Novo do Vietnã, no final de janeiro, o poder central vietnamita disse que estava “declarando guerra” ao coronavírus, embora o surto naquela época ainda estivesse confinado à China.

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O governo, mesmo no seu melhor estado, não é mais que um mal necessário e, em seu pior estado, é um mal intolerável

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O primeiro-ministro Nguyen Xuan Phuc disse, durante uma reunião do Partido Comunista, que não demoraria muito para que o coronavírus chegasse ao país. Para combater o vírus, o Vietnã instituiu políticas rigorosas de quarentena e realizou um rastreamento completo de todas as pessoas que entraram em contato com a covid-19. Essas medidas foram implementadas muito mais cedo no curso da epidemia do que na China. Por exemplo, em 12 de fevereiro, o Vietnã colocou uma cidade inteira de 10.000 habitantes, perto de Hanói, em quarentena por três semanas. No momento, havia apenas 10 casos confirmados de COVID-19 em todo o país. As autoridades também documentaram ampla e meticulosamente qualquer pessoa que potencialmente entrou em contato com o vírus. O Vietnã também acompanhou o segundo, terceiro e quarto níveis de contato com as pessoas infectadas. Todas essas pessoas foram então submetidas a níveis sucessivamente rigorosos de restrições de movimento e contato. E desde muito cedo, quem chegasse ao Vietnã de uma área de alto risco ficaria em quarentena por 14 dias. Todas as escolas e universidades também foram fechadas desde o início de fevereiro.

Portanto, o Vietnã utilizou medidas de isolamento horizontal e vertical e levaram a sério o combate à pandemia, sendo que as autoridades não vacilaram nem trataram a ameaça como uma “gripezinha”. Como disse a DW: “Em vez de depender da medicina e da tecnologia para evitar um surto de coronavírus, o já robusto aparato de segurança estatal do Vietnã aplicou um amplo sistema de vigilância pública, auxiliado por militares bem supridos e geralmente respeitados”.

A pandemia e os furacões

A temporada de furacões começa em junho nos Estados Unidos. Existe uma enorme preocupação com a possibilidade de haver a conjugação da pandemia da covid-19 com estes eventos naturais que são potencializados pelo aquecimento global. Furacões como Katrina, Sandy, Harvey e outros deixaram um rastro de destruição incomensurável. Somente o furacão Dorian obrigou um milhão de pessoas a deixarem suas casas. Mas como evacuar num momento de quarentena?

Para complicar as coisas, as mudanças climáticas estão antecipando a temporada dos furacões. Por exemplo, neste fim de semana, uma depressão tropical se formou no sábado (25/04) no Oceano Pacífico Oriental, ao sul da California. Esta é a primeira depressão tropical do Pacífico Oriental registrada em abril. Provavelmente a Depressão Tropical “One-E” não vai evoluir para um furacão, mas é um alerta para o período que vem pela frente.

Frase do dia 27 de abril de 2020

“O governo, mesmo no seu melhor estado, não é mais que um mal necessário e, em seu pior estado, é um mal intolerável”

(Início do livro “Senso Comum”, que foi a centelha para a Independência dos EUA, em 1776)

Thomas Paine (1737-1809)

José Eustáquio Diniz Alves

José Eustáquio Diniz Alves é sociólogo, mestre em economia, doutor em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar/UFMG), pesquisador aposentado do IBGE, colaborador do Projeto #Colabora e autor do livro "ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século" (com a colaboração de F. Galiza), editado pela Escola de Negócios e Seguro, Rio de Janeiro, 2022.

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