Os números de um Brasil contra os direitos humanos

Relatório da Human Rights Watch diz que governo coloca em risco mais vulneráveis e dá carta branca a criminosos na Amazônia

Por Oscar Valporto | ODS 16 • Publicada em 15 de janeiro de 2020 - 11:55 • Atualizada em 17 de fevereiro de 2020 - 19:48

Ativistas dos Direitos Humanos protestam em São Paulo segurando as fotos de algumas das vítimas da ditadura no Brasil. Foto Fabio Vieira/FotoRua/NurPhoto
Maria Laura Canineu, diretora da Human Rights Watch no Brasil durante coletiva para a apresentação do relatório mundial: governo Bolsonaro assumiu agenda contra os direitos humanos (Foto: Divulgação)
Maria Laura Canineu, diretora da Human Rights Watch no Brasil durante coletiva para a apresentação do relatório mundial: governo Bolsonaro assumiu agenda contra os direitos humanos (Foto: Divulgação)

O capítulo do relatório da ONG Human Rights Watch – a maior entidade de defesa dos direitos humanos do mundo – sobre o Brasil é uma longa lista  de números assustadores sobre o país. O relatório é duro com governo. “Durante seu primeiro ano de mandato, o presidente Jair Bolsonaro assumiu uma agenda contra os direitos humanos, adotando medidas que colocariam em maior risco populações já vulneráveis. Os tribunais e o Congresso impediram algumas dessas políticas”, afirma o relatório.

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Suas políticas ambientais na prática deram carta branca às redes criminosas que praticam extração ilegal de madeira na Amazônia e usam intimidação e violência contra povos indígenas, comunidades locais e servidores de agências ambientais que tentam defender a floresta

[/g1_quote]O relatório e seu capítulo brasileiro foram apresentados, nesta quarta-feira (15/01), pela diretora da diretora da Human Rights Watch no Brasil, Maria Laura Camineu, em entrevista coletiva. “O governo tem culpado ONGs, voluntários brigadistas e povos indígenas pelos incêndios na Amazônia e, ao mesmo tempo, fracassado em agir contra as redes criminosas que estão derrubando árvores e queimando a floresta para dar lugar à criação de gado e agricultura, ameaçando e atacando aqueles que estão no caminho”, afirmou Laura Camineu.

A parte do Brasil ocupa nove páginas com críticas ásperas ao presidente Bolsonaro sobre segurança pública, violações de direitos humanos, perseguições à mídia e a ONGs e falta de políticas públicas para mulheres e crianças . “Suas políticas ambientais na prática deram carta branca às redes criminosas que praticam extração ilegal de madeira na Amazônia e usam intimidação e violência contra povos indígenas, comunidades locais e servidores de agências ambientais que tentam defender a floresta”,  aponta a Human Rights Watch antes de botar os números das ameaças aos direitos humanos no país.

O desmatamento na Amazônia aumentou em mais de 80%, de janeiro a outubro de 2019, em comparação com o mesmo período de 2018

Foram relatados 160 casos de extração ilegal de madeira, invasões e outras infrações nos territórios indígenas de janeiro a setembro.

De janeiro a 3 de outubro, o governo Bolsonaro havia aprovado 382 novos agrotóxicos, muitos deles restritos ou proibidos nos Estados Unidos e na Europa por sua toxicidade

Cerca de 1 milhão de casos de violência doméstica aguardavam julgamento em 2018, incluindo 4.400 feminicídios

As mortes cometidas pela polícia aumentaram 20% em 2018, atingindo 6.220 

Em São Paulo, as mortes por policiais em serviço aumentaram 8% de janeiro a setembro de 2019.

No Rio de Janeiro, a polícia matou 1.402 pessoas de janeiro a setembro, o maior número já registrado para o período.

Até junho de 2019, as unidades socioeducativas no Brasil acolhiam mais de 21.000 crianças e adolescentes.

Mais de 830.000 adultos estavam presos nas instalações prisionais brasileiras: mais de 40% deles aguardavam julgamento

Em julho de 2019, mais de 5.100 mulheres com direito a prisão domiciliar, 310 delas grávidas, ainda aguardavam julgamento atrás das grades

Mais de 224.000 venezuelanos viviam no Brasil, dos quais mais da metade havia solicitado refúgio

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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