Yone: ‘Muita gente volta para o armário por conta da idade; me dói muito’

Aos 62, carioca é mãe, avó e lésbica. Perdeu um filho vítima de homofobia: 'Enquanto houver uma pessoa perseguida, a luta continua'

Por Yuri Alves Fernandes | ODS 5 • Publicada em 17 de outubro de 2018 - 22:10 • Atualizada em 31 de outubro de 2023 - 18:13

Yone: “Temos que tomar partido, sim, ir à luta, até que tudo seja normal, até o ato da gente não ter rótulos” (Foto: Yuri Fernandes)

Yone: “Temos que tomar partido, sim, ir à luta, até que tudo seja normal, até o ato da gente não ter rótulos” (Foto: Yuri Fernandes)

Aos 62, carioca é mãe, avó e lésbica. Perdeu um filho vítima de homofobia: 'Enquanto houver uma pessoa perseguida, a luta continua'

Por Yuri Alves Fernandes | ODS 5 • Publicada em 17 de outubro de 2018 - 22:10 • Atualizada em 31 de outubro de 2023 - 18:13

Esqueça aquela imagem da avó tradicional típica de comerciais de Natal. A quarta entrevistada da série “LGBT+60: corpos que resistem” foge de qualquer estereótipo. Yone Lindgren, 62 anos é lésbica, mas prefere não se rotular. Transpira juventude. As roupas, o jeito de falar e de se gesticular dão a ela uma aparência bem mais nova do que a idade revela.

Ela aguarda a equipe do #Colabora na entrada do prédio onde está morando com a irmã e o cunhado, na Zona Sul do Rio de Janeiro. As tatuagens chamam a atenção: são 40. Uma em especial me deixa curioso. No antebraço, o rosto de uma senhora. “Minha madrinha, Ascendina dos Santos. Foi a única pessoa na família que sempre me apoiou em tudo. Era iluminada”, conta.

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Yone era considerada o bebê Johnson da casa, mas logo foi crescendo, tirando os bordados das calcinhas e trocando de bermuda com o primo. Definia-se como camaleônica, assim como os cantores David Bowie e Boy George. “Mas não dava para permanecer assim vendo tudo acontecer debaixo do meu nariz”, diz.

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Yone Lindgren
Yone: “Temos que tomar partido, sim, ir à luta, até que tudo seja normal, até o ato da gente não ter rótulos” (Foto: Yuri Fernandes)

Se eu não tive medo na época da ditadura, com a Polícia e o Exército na minha cara, não vou ter agora

Yone Londgren
Ativista

A carioca se refere à onda de violência contra LGBTs no mundo. Em 1969, a Rebelião de Stonewall fazia história em resposta à invasão da polícia de Nova York a um bar frequentado pela comunidade. No Brasil, seus amigos homossexuais estavam sumindo durante a ditadura militar. A partir de então, Yone entraria para a militância, de onde nunca sairia.

Em uma das mãos, mostra as iniciais dos nomes de três filhos: Janaína, Rafaela e Galego. Falta um. Yone adotou quatro. Um deles foi assassinado vítima de homofobia pois era bissexual. “Quebraram todos os ossos. A gente não pode manter o caixão aberto”.

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Tatuagem no braço de Yone mostra a madrinha. Segundo ela, a pessoa que mais a apoiou (Foto: Yuri Fernandes)

Apesar de tudo, ela é forte. Medo? Não tem. “Se eu não tive medo na época da ditadura, com a Polícia e o Exército na minha cara, não vou ter agora”. Mas o que a deixa triste é saber que a realidade de idosos LGBTs nem sempre é boa. “Eu vejo muita gente que volta para o armário por conta da idade. E isso me dói muito”, lamenta.

Ao final da entrevista, Yone garante que a luta não termina nem mesmo com a morte. “Ainda vou perturbar muito porque eu acredito que espírito existe. Enquanto tiver uma pessoa LGBTTQIA que seja perseguida, que não seja respeitada, a luta continua”.

Yone é uma resistente.

LGBT+60: CORPOS QUE RESISTEM

 

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Yuri Alves Fernandes

Jornalista e roteirista do #Colabora especializado em pautas sobre Diversidade. Autor da série “LGBT+60: Corpos que Resistem”, vencedora do Prêmio Longevidade Bradesco e do Prêmio Cidadania em Respeito à Diversidade LGBT+. Fez parte da equipe ganhadora do Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, com a série “Sem direitos: o rosto da exclusão social no Brasil”. É coordenador de jornalismo do Canal Reload e diretor do podcast "DáUmReload", da Amazon Music. Já passou pelas redações do EGO, Bom Dia Brasil e do Fantástico. Por meio da comunicação humanizada, busca ecoar vozes de minorias sociais, sobretudo, da comunidade LGBT+.

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2 comentários “Yone: ‘Muita gente volta para o armário por conta da idade; me dói muito’

  1. Observador disse:

    Eu diria que são dois detalhes a observar em um relacionamento, que é se relacionar envolver a pessoa inteira, indo além de se completarem na cama, mas “caminharem juntas”! Tem um site que homens de 60/65 anos, especialmente os que foram penetrados por quase toda vida sexual, fazerem-se de vitimas, falarem de doenças decorrentes do envelhecimento ou que os mais jovens os procuram mais por dinheiro! Como se o outro fosse uma “máquina de prazer, com app gratis”! Já paguei motel quando quis variar com meu amigo intimo; já fiz num mês o rancho do mês, para ele, afinal tem manutenção do carro, check-up a realizar, despesas que para um Autônomo, dificil provisionar!

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