ODS 1
Lugar de ladrão é na escola
Como algumas aulas de química, física e psicologia poderiam melhorar o nível da criminalidade nacional
O Bloco percorria a praça XV quando Anitta viu do alto do caminhão de som um assaltante levando o celular de uma foliã. Imediatamente avisou a polícia pelo microfone.
– Foi aquele ali de cabelo vermelho!
O meliante foi pego em dez segundos.
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Veja o que já enviamosInfelizmente para ele – e felizmente para todo o resto do bloco – o bandido não teve os dois neurônios necessários para perceber que cabelo vermelho não é um bom disfarce no seu ofício. Talvez ele compreenda isso na cadeia – tempo não lhe faltará – ou, mais provável, chegue à conclusão de que a culpa foi do vermelho e na sua próxima tentativa ele pinte o cabelo de verde-limão ou rosa-choque.
De todos os crimes, a burrice é o que apresenta o maior índice de reincidência.
A verdade é que falta uma escola formal para indivíduos como o bandido de cabelo vermelho. Como é a segunda profissão mais antiga do mundo, ainda funciona no esquema medieval: ou se aprende por experiência própria, o que gera a situação descrita no primeiro parágrafo, ou no esquema de aprendiz-mestre. O problema é que atualmente tem muito aprendiz para pouco mestre nessa carreira. Não só a quantidade de principiantes é enorme, e cada vez aumenta mais, como os mestres são poucos e não costumam durar muito. Os que conseguem vida longa normalmente usam colarinhos brancos e trabalham em Brasília, mas eles não costumam compartilhar sua sabedoria e know how com o resto da população. Seus conhecimentos são vendidos a preços proibitivos, o que não deixa de ser sarcástico, ou transmitidos por hereditariedade.
[g1_quote author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”solid” template=”01″]Uma modernização nessa área seria bem vinda. É um setor que vive na informalidade há séculos, situação que um governo moderno e reformista como o do Temer não deveria permitir
[/g1_quote]Uma modernização nessa área seria bem vinda. É um setor que vive na informalidade há séculos, situação que um governo moderno e reformista como o do Temer não deveria permitir. Um sujeito que sonha em ser batedor de carteiras e celulares poderia aprender na escola os disfarces mais eficientes, os últimos lançamentos na área de telefonia e a cotação mais atual da propina policial. Um candidato a traficante teria acesso a uma grade de cursos que incluiriam logística de transporte, suborno a autoridades, sistemas bancários internacionais e, é obvio, química. O aspirante a ladrão de bancos poderia aprender sobre física – para arrombar cofres – matemática – para contar notas – e psicologia – para saber se o caixa está chamando a policia ou não. A escola do crime – talvez um outro nome seja necessário, esse já foi muito explorado – formaria futuros CEOs para várias organizações criminosas ou até mesmo não criminosas. Afinal, as habilidades ensinadas atualmente tem um sem número de aplicações fora do mercado de roubos e ilegalidades.
Com o diploma da escola na mão o gatuno pode exercer o seu ofício com o devido respeito e dignidade, sem preocupações rasteiras como virar motivo de chacota de um bloco inteiro em pleno centro do Rio.
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Leo Aversa fotografa profissionalmente desde 1988, tendo ganho alguns prêmios e perdido vários outros. É formado em jornalismo pela ECO/UFRJ mas não faz ideia de onde guardou o diploma. Sua especialidade em fotografia é o retrato, onde pode exercer seu particular talento como domador de leões e encantador de serpentes, mas também gosta de fotografar viagens, especialmente lugares exóticos e perigosos como Somália, Coreia do Norte e Beto Carrero World. É tricolor, hipocondríaco e pai do Martín.