Desatando o nó da madeira

Pioneiro da reciclagem de madeira no Rio, empresário lamenta a conscientização tímida da indústria

Por Emanuel Alencar | ODS 7 • Publicada em 21 de agosto de 2016 - 09:52 • Atualizada em 21 de agosto de 2016 - 16:48

Pioneiro da reciclagem de madeira no Rio, Edilson é um entusiasta do uso de restos de madeira em caldeiras de indústrias
Pioneiro da reciclagem de madeira no Rio, Edilson é um entusiasta do uso de restos de madeira em caldeiras de indústrias
Pioneiro da reciclagem de madeira no Rio, Edilson é um entusiasta do uso de restos de madeira em caldeiras de indústrias

Quando cruza o bairro de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, a Rodovia Washington Luís, uma das mais movimentadas da Região Metropolitana do Rio, é margeada por uma série de empresas ligadas à indústria de reciclagem. Reflexo de anos de funcionamento do famoso aterro, que, embora tenha fechado as portas em 2012, deixou para sempre na região a marca de um setor que movimenta milhões – e continua mergulhado na informalidade. Numa das muitas ruas apertadas, de terra batida, Edilson de Souza Mello, de 50 anos, fincou, há nove anos, um sonho: um centro de beneficiamento e reciclagem de restos de madeira. Vem dando certo. Assim que montou a Chaco-Vaco, em 2009, o empresário processava 300 toneladas por mês. Hoje, 5 mil toneladas/mês vão movimentar caldeiras de indústrias. Um crescimento de 1.500%.

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Tenho 46 funcionários, todos com carteira assinada. Muitas trabalhavam no lixão, e foram capacitados. Apesar da crise, não penso em demitir. Infelizmente não temos, ainda, um mercado em expansão da biomassa porque a principal fonte das indústrias ainda é o óleo ou gás natural, altamente poluentes.

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Pioneiro da reciclagem de madeira no Rio, Edilson é o maior entusiasta do uso de restos de madeira em caldeiras de indústrias. Mantém 250 pontos de coleta, de onde pega restos de madeira de grandes indústrias e de fábricas de móveis, num raio de 150km de Jardim Gramacho. Identificou uma mina de ouro num material altamente energético que, na maioria das vezes, acaba desperdiçado, enterrado em aterros. Ele conta que encontrou alterativas para driblar a crise – vendeu, recentemente, 80% do negócio para uma recicladora – e que nem passa pela cabeça dos sócios cortar mão de obra.

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– Tenho 46 funcionários, todos com carteira assinada. Muitas trabalhavam no lixão, e foram capacitados. Apesar da crise, não penso em demitir, pelo contrário – diz, orgulhoso. – Meu principal comprador é a GR Nova Iguaçu, que reaproveita ossos e sebo para fazer sabão e usa a madeira como motor das caldeiras. Firmamos uma parceria e montamos um circuito fechado. Infelizmente não temos, ainda, um mercado em expansão da biomassa porque a principal fonte das indústrias ainda é o óleo ou gás natural, altamente poluentes.

Em 2009, a Chaco-Vaco processava 300 toneladas por mês. Hoje ela chega a 5 mil toneladas/mês
Em 2009, a Chaco-Vaco processava 300 toneladas por mês. Hoje ela chega a 5 mil toneladas/mês

O “rei da Madeira” calcula que, de imediato, 15 indústrias poderiam ser suas clientes, se adaptassem suas caldeiras ao combustível menos poluente. Se isso acontecesse, faltaria inclusive cavaco – pequenos pedaços de madeira resultantes de uma trituração – para dar conta da demanda.

– Se chegar ao meu limite, de 12 mil toneladas/mês, consigo atender umas oito (empresas). Mas infelizmente o processo tem sido lento – lamenta, para em seguida destacar os benefícios da reciclagem ou do aproveitamento energético da madeira:

– Você imagina pegar toda essa madeira que vai parar nos aterros e transformá-la novamente em móveis…

Edilson teve uma infância pobre. O primeiro emprego, aos 13 anos de idade, foi como pedreiro. Anos depois, dedicou-se a uma loja de material de construção na Pavuna, bairro onde nasceu. Em seguida, montou uma pequena fábrica de beneficiamento de madeira. Diz que identificou ali uma grande oportunidade. Comprou um terreno – “no início, era só mato”, diz – em Jardim Gramacho e foi ampliando o negócio. Hoje, o maquinário ocupa 13 mil metros quadrados. Em poucos segundos, enormes pedaços de troncos e folhas são triturados, formando uma montanha de pedacinhos de madeira.

– Chaco-Vaco era um jeito carinhoso de chamar a careca de meu falecido pai. Acabei batizando a empresa em homenagem a ele – conta Edílson. – A mudança na conscientização da indústria ainda é muito difícil. Mas o cavaco é extremamente competitivo, podendo ser até 50% mais barato do que o óleo e o gás.

Mercado informal

Pesquisador do Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio), da Universidade de São Paulo (USP), Javier Farago Escobar explica que o mercado de cavaco de madeira para energia no Brasil é informal, e que como a demanda é atendida por madeira residual, fica difícil mensurar se é hoje um mercado em expansão.

Um dos desafios é garantir que a madeira seja proveniente de florestas plantadas, e não de mata virgem. Segundo o Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio), atualmente 62% da madeira destinada para uso energético no Brasil é proveniente de florestas nativas e resíduos florestais. Edílson garante que o material que chega à Chaco-Vaco é rastreado.

– Somos a primeira empresa do Brasil a ter certificação FSC da cadeia de madeira. Rastreamos a origem da madeira e informamos ao órgão ambiental – diz.

Javier Escobar acrescenta que a expansão da pecuária é a principal causadora da derrubada de mata nativa:

– A derrubada de madeira nativa não ocorre especificamente para atender a demanda das cadeiras. Geralmente o desmatamento acontece em função da expansão da pecuária. Como resultado do desmatamento, essa madeira é comercializada.

Emanuel Alencar

Jornalista formado em 2006 pela Universidade Federal Fluminense (UFF), trabalhou nos jornais O Fluminense, O Dia e O Globo, no qual ficou por oito anos cobrindo temas ligados ao meio ambiente. Editor de Conteúdo do Museu do Amanhã. Tem pós-graduação em Gestão Ambiental e cursa mestra em Engenharia Ambiental pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Apaixonado pela profissão, acredita que sempre haverá gente interessada em ouvir boas histórias.

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2 comentários “Desatando o nó da madeira

  1. Hylton Sarcinelli Luz disse:

    Emanuel Alencar, excelente matéria, com certeza que a difusão da mesma representa um importante estímulo para que se ampliem iniciativas como esta que retratou. São matérias como estas que nos apontam para o mundo do desperdício que fomentamos e o valor daqueles que identificam neste suposto lixo, fontes de recursos e meios de preservar o ambiente.

  2. Cirenini Augusto Aprileo disse:

    O uso de madeira como combustível é uma grande irresponsabilidade, madeira é uma matéria prima de demoradíssima recuperação, haja visto que uma árvore leva anos para crescer e gerar troncos utilizáveis, a melhor proposta para o uso de madeira descartada é reciclando tudo e transformando em WPC – Wood Plastic Composite, nós da C. A. Poliuretanos apoiamos este trabalho e montamos BPs e PNs ( Planos de Negócios) para startups de plantas de WPC com indicação das matérias primas e suas formulações, desenvolvemos fornecedores de matérias primas, aditivos, máquinas e periféricos, somos especialistas em polímeros de engenharia com know how intencional, consulte-nos! capoliuretanos@gmail.com
    Cirenini 11 970133886.

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