Diário da Covid19: Situação melhora no mundo, mas piora no Brasil

Em Berlim, uma pintura mural do grafiteiro Eme Freethinker apresenta imagens do presidente dos EUA, Donald Trump, e do premier chinês, Xi Jinping, usando máscaras contra a covid-19. Foto John MacDougall/AFP

País bate novo recorde e atinge 474 mortes em 24 horas. Ritmo do surto cresce cerca de três vezes mais rápido do que a média mundial

Por José Eustáquio Diniz Alves | ODS 3 • Publicada em 29 de abril de 2020 - 10:36 • Atualizada em 10 de janeiro de 2022 - 10:20

Em Berlim, uma pintura mural do grafiteiro Eme Freethinker apresenta imagens do presidente dos EUA, Donald Trump, e do premier chinês, Xi Jinping, usando máscaras contra a covid-19. Foto John MacDougall/AFP

Depois de uma queda no número de novos casos e de novas mortes no domingo, houve um aumento na segunda-feira e uma dúvida se tratava-se apenas de uma correção ou uma tendência de aumento. Infelizmente, os dados de terça-feira indicam que os números estão crescendo e o próprio Ministro da Saúde reconheceu a existência de uma curva ascendente. A boa notícia é que existe uma tendência de queda no cenário internacional, com redução do número absoluto de novos casos e novas mortes, indicando que, globalmente, o pior já passou.

O panorama nacional

Os números da pandemia do coronavírus, divulgados na tarde da terça-feira, dia 28 de abril de 2020, chegaram a 71.886 casos e a 5.385 mortes, com uma taxa de letalidade de 7%.

A variação diária do número de pessoas infectadas foi de 5.387 casos (a terceira maior variação diária do mundo, atrás apenas dos EUA e da Rússia) e a variação absoluta de vítimas fatais foi recorde em 24 horas, atingindo 474 óbitos (a terceira maior variação diária global, atrás apenas dos EUA e Reino Unido). Nos últimos sete dias o número de casos subiu ao ritmo de 7,6% ao dia e o ritmo das mortes subiu 9% ao dia. Desta forma, o ritmo do surto no Brasil cresce cerca de três vezes mais rápido do que a média mundial.

O gráfico abaixo mostra a série histórica dos números diários de casos e de mortes no Brasil de 01 a 28 de abril de 2020 e uma projeção até 04 de maio, com base no uso de um modelo polinomial de terceiro grau. A variação do número de pessoas infectadas que estava abaixo de 3 mil casos há uma semana, subiu para o patamar acima de 5 mil casos diários e o modelo polinomial indica que vai passar para algo acima de 6 mil casos diários no meio da próxima semana. A variação diária do número de mortes que estava abaixo de 200 óbitos há uma semana, subiu para o patamar acima de 400 óbitos e o modelo polinomial indica que vai passar para algo acima de 500 óbitos diários no meio da próxima semana.

O panorama global

No dia 28 de abril, a pandemia global atingiu a marca de 3,14 milhões de casos e 218mil mortes, com uma taxa de letalidade de 6,9%. A variação diária dos casos foi de 76,6 mil e de mortes foi de 6,4 mil.

O gráfico abaixo mostra a série histórica dos números diários de casos e de mortes no mundo de 01 de março a 28 de abril de 2020 e uma projeção até 04 de maio, com base no uso de um modelo polinomial de terceiro grau. O número global de casos e de mortes aumentou de forma exponencial no mês de março e ficou estabilizada em altos patamares a maior parte do mês de abril.

Porém, parece que o número de mortes atingiu o pico no dia 17/04 (com 8,1 mil óbitos em 24 horas) e o número de casos parece ter atingido um pico no dia 24/04 (com 105,8 mil novos casos). Nos dias posteriores o número diário de casos e de mortes diminuiu bastante. O modelo polinomial indica que o número de casos diários deve cair para a casa de 40 mil e o número diário de mortes deve cair para cerca de 2 mil óbitos.

Ou seja, a pandemia global vai continuar avançando, mas a uma velocidade cada vez menor. Isto não é só uma boa notícia para a solução da emergência sanitária, mas também para se pensar como enfrentar a emergência econômica. Já começamos a olhar para o horizonte e pensar em saídas no médio prazo.

A pandemia, o colapso dos cemitérios tradicionais e o enterro ecológico

A aceleração do surto pandêmico está provocando não só o colapso do sistema de saúde em algumas cidades, mas também o colapso dos cemitérios. A situação mais visível e chocante é o colapso no sistema funerário de Manaus que não tem tido capacidade de atender ao aumento dos sepultamentos e os corpos passaram a ser enterrados na vala comum no principal cemitério da cidade. Já faltam caixões na cidade, as funerárias estão fazendo enterros à noite com caixões empilhados e, em alguns casos, são os próprios familiares que estão enterrando os seus parentes.

Nestas horas de crise seria bom pensar em alternativas. Uma ideia inovadora para substituir os cemitérios tradicionais é a proposta da Capsula Mundi, projetada pelos designers italianos Anna Citelli e Raoul Bretzel. Eles projetaram uma cápsula orgânica e biodegradável capaz de transformar os restos mortais em nutrientes para uma árvore. Sem utilizar madeira ou cimento, o corpo é colocado numa cápsula e enterrado. Depois, uma árvore ou semente é plantada acima da urna biodegradável para aproveitar a matéria orgânica gerada pela decomposição do organismo.

A Capsula Mundi, projetada pelos designers italianos Anna Citelli e Raoul Bretzel. Foto Divulgação
A Capsula Mundi, projetada pelos designers italianos Anna Citelli e Raoul Bretzel. Foto Divulgação

O tipo de árvore pode ser escolhido pela pessoa ainda em vida ou pela família. A comunidade, os familiares ou amigos podem assumir a responsabilidade de cuidar da planta depois da partida da pessoa. Segundo os criadores, a ideia é transformar os atuais cemitérios – lugares bastante tristes e pouco frequentados – em florestas que podem captar o carbono e reverter a Pegada Ecológica que a pessoa deixou em vida. As árvores são uma forma de recuperação ecológica e uma maneira de manter a memória dos indivíduos que passaram para uma outra existência. Uma memória viva, segundo Anna Citelli e Raoul Bretzel. Este tipo de enterro ecológico pode ser uma boa alternativa para a crise dos cemitérios de Manaus e para a restauração da Floresta Amazônica.

 Frase do dia 29 de abril de 2020

 “E se eu morrer como um membro da Resistência

Você deve me enterrar

E me enterre no alto das montanhas

Sob a sombra de uma bela flor

Querida, adeus! Querida, adeus! Querida, adeus, adeus, adeus!”

Bella Ciao (canção popular italiana)

José Eustáquio Diniz Alves

José Eustáquio Diniz Alves é sociólogo, mestre em economia, doutor em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar/UFMG), pesquisador aposentado do IBGE, colaborador do Projeto #Colabora e autor do livro "ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século" (com a colaboração de F. Galiza), editado pela Escola de Negócios e Seguro, Rio de Janeiro, 2022.

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