Ygor Coelho de Oliveira é o orgulho olímpico da Favela da Chacrinha, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. O rapaz de 19 anos entra em cena nas Olimpíadas no dia 13 de agosto, para lutar por uma medalha brasileira num esporte ainda pouco conhecido e praticado por aqui, o badminton, mas que na Chacrinha é mais popular do que o futebol. Ygor é a cria mais bem-sucedida da Associação Miratus de Badminton, encarapitada no alto da comunidade de Jacarepaguá, que desde 2000 vem incentivando crianças e adolescentes a descobrir este jogo de raquete. Uma história inspiradora que ganha as telas no documentário “Não deixe a peteca cair”, um dos cinco filmes especialmente preparados para o Festival Reimagine Rio, que vai se espalhar pela cidade nas próximas semanas.
[g1_quote author_name=”Kátia Lund” author_description=”Cineasta” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]Não são filmes institucionais, mas sim sobre pessoas que sonham e acreditam, seus anseios, seus desejos, as lutas, os desafios em lugares que normalmente não são tão fácies de viver.
[/g1_quote]São cinco longas-metragens feitos pelas cineastas Kátia Lund e Lili Fialho no último ano, depois de muitas andanças por comunidades cariocas. Em comum, a proposta de mostrar para o mundo gente e ideias repletas de potência, que, contra tudo e contra todos, romperam com as dificuldades inerentes às regiões de baixa renda da cidade e criaram projetos sócio-esportivos-artísticos transformadores. Histórias contadas através de pessoas que viram suas vidas ganharem novo fôlego a partir de experiências artísticas ou esportivas.
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Veja o que já enviamos“São filmes baseados na potência e não nas carências. Mostramos como as relações entre pessoas, os laços de afetos, nestes projetos fortalecem as comunidades e como podem inspirar ideias inovadoras em qualquer lugar do mundo”, conta Kátia Lund, conhecida, entre outros trabalhos, por “Cidade de Deus” e “Notícias de uma guerra particular”.
Assim, os desdobramentos do projeto de teatro Nós No Morro, de Guti Fraga, há três décadas no Morro do Vidigal, é tema de “Loucos dizem que somos”; os bastidores dos artistas do Circo Crescer e Viver, que nasceu em São Gonçalo mas se mudou para Praça Onze, é retratado em “No risco do circo no risco da vida; “Assó, adorei o jongo!” mostra a rica história dos artífices do jongo na comunidade da Serrinha, em Madureira; e, finalmente, “Nosso Cinema Nosso” se debruça sobre cinco cineastas do projeto de formação e democratização Cinema Nosso.
Os cinco longas-metragens entram em cartaz em salas de cinema do Rio de Janeiro no dia 11 de agosto, mas também tiveram ou terão pré-estreias nas próprias comunidades retratadas, além de sessões gratuitas em 50 pontos alternativos da cidade, como bibliotecas públicas, pontos de cultura, lonas culturais, entre outros (programação completa no www.riseup.care). A produção dos filmes assim como a realização do festival Reimagine Rio fazem parte de um projeto-piloto patrocinado pela Rise Up & Care, instituição americana sem fins lucrativos criada em 2015, cujo objetivo é investir na divulgação de projetos inovadores em comunidades de baixa renda.
Em todos os documentários os projetos escolhidos são apresentados através de personagens, pessoas ligadas de diferentes formas às experiências, desde crianças em seus primeiros momentos de participantes a quem já se beneficiou há mais tempo das iniciativas.
“Não são filmes institucionais, mas sim sobre pessoas que sonham e acreditam, seus anseios, seus desejos, as lutas, os desafios em lugares que normalmente não são tão fácies de viver”, diz Kátia Lund.
Em “Não deixe a peteca cair” , por exemplo, o atleta olímpico Ygor tem grande destaque, assim como seu pai, Sebastião Dias de Oliveira, fundador da escola de badminton da Chacrinha e também inventor de uma curiosa técnica de preparação para o esporte, com passos do samba.
“Normalmente para ter preparo nas pernas, os atletas de badminton são treinados com corda, mas eu não via nenhum prazer entre os meninos da Chacrinha pulando corda. Foi então que criei uma metodologia a partir da dança, do movimento, que automatiza a concentração e fortalece as pernas”, explica Sebastião, que acredita que o documentário pode ajudar na captação de mais recursos financeiros para o projeto. “Mais de três mil garotos e garotas já passaram pela escola de badminton, nem todos viraram esportistas, mas a partir deste estímulo descobriram outras profissões. Tem piloto de avião, professor de educação física. São histórias inspiradoras que atraem outras crianças e que devem chamar a atenção das autoridades.”
A estreia dos cinco documentários em plena temporada olímpica no Rio de Janeiro também foi estrategicamente pensada para que tanto os cariocas como o público de fora tenham a oportunidade de imaginar a cidade de um jeito novo, positivo e inspirador.