Mundo tem dois bilhões vivendo de bicos

Economia informal não pára de crescer no Brasil e em todo o planeta e também vai exigir profissionais mais qualificados

Por José Eduardo Mendonça | ODS 8 • Publicada em 23 de dezembro de 2019 - 12:02 • Atualizada em 17 de fevereiro de 2020 - 20:01

Protesto de entregadores por aplicativo em São Paulo: trabalho informal cresce no Brasil e em todo o mundo (Foto: Suamy Beydoun/AGIF/AFP)
Protesto de entregadores por aplicativo em São Paulo: trabalho informal cresce no Brasil e em todo o mundo (Foto: Suamy Beydoun/AGIF/AFP)
Protesto de entregadores por aplicativo em São Paulo: trabalho informal cresce no Brasil e em todo o mundo (Foto: Suamy Beydoun/AGIF/AFP)

Cerca de dois bilhões de pessoas – ou mais de 60% da força mundial de trabalho – têm empregos informais, o que as deixa vulneráveis a baixos salários, excesso de trabalho e  em muitos casos a uma quase escravidão. E a ascensão de plataformas digitais, como apps de comida e transportes, deixa sob ameaça salário mínimo e condições justas de trabalho.

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Em grande número,  estes trabalhadores fazem parte hoje do que se chama gig economy,  ou economia dos bicos. Ela não para de crescer. Nas próximas décadas, deveremos assistir ao final da posição de trabalho em tempo integral como forma principal de emprego. Em vez disso, as organizações podem funcionar como um esqueleto para um setor de tomada de decisões e líderes. Os trabalhadores farão bicos em projetos com contratos de curto prazo – de dias, semanas ou meses.

Embora muitos saúdem com entusiasmo a nova forma de ocupação, outros irão resistir fortemente ao fim da estabilidade e previsibilidade. Mas foi-se o tempo no qual os empregos eram seguros. Será o futuro de parte da população empregável, quer queiram ou não. Tem mais: o sucesso na economia de bicos dependerá da utilização de empregados com formações relevantes, por contra da automação crescente. Mesmo trabalho para empresas como Uber apenas vai existir enquanto não chegarem os carros sem motoristas.

A economia dos bicos gera atualmente 201 bilhões  de dólares, e deve chegar a 455 bilhões de dólares em 2023.  Com  novas oportunidades de negócios, a corrida irá ser pelos mercado em países com baixa penetração.

 Alguns dados dos Estados Unidos ilustram as tendências do setor.

Cerca de 57.2 milhões de pessoas têm trabalho informal, e o número deverá chegar a 86.5 milhões em 2017..

. O mercado de trabalho informal é a fonte primária de renda para 44% destas pessoas. E sobe para 53%, entre as pessoas de 18 a 34 anos,.

. Estima-se que a força de trabalho independente é bem maior do que se pensava previamente – são de 20% a 30% da população em idade de trabalho – o mesmo vale para  para União Européia.

. 55% dos trabalhadores em bicos têm também empregos de tempo integral ou regulares.

. 19% dizem que a principal razão é fazer dinheiro extra ou cobrir as despesas do dia a dia,

. O número de empregados na gig economy vai aumentar em todo o mundo, Nos Estados Unidos, irão exceder 40% da força de trabalho no ano que vem.

Uma tendência preocupa, se olharmos um levantamento feito recentemente pelo banco JP Morgan. Os ganhos de trabalhadores que usam apps relacionados a transporte, seja como transporte de pessoas ou serviços de entrega, caiu em 53% entre 2013 e 2017, O valor subiu entre as plataformas de leasing, como airbnb, e permaneceu estável em apps de venda, como o ebay.

Segundo dados do IBGE, quase 4 milhões de pessoas formam a categoria que trabalha para empresas de aplicativos de serviços no Brasil. Os dados das empresas confirmam essa escalada. Mais de 600 mil motoristas cadastrados na plataforma da Uber  Os aplicativos de entrega de comida iFood e Rappi têm cada um, pelo menos, 120 mil entregadores trabalhando, sempre como autônomos.  E a gama de serviços que a economia informal abrange só aumenta, de passeadores de cães a massagistas.

Esse crescimento de trabalho informal fazem surgir alternativas, como cooperativas de trabalhadores com baixa renda: a Up & Go, de Nova York, reúne profissionais de serviço de limpeza, onde o cobrado é 25 dólares por hora, o dobro do que poderiam cobrar como profissionais independentes. É uma plataforma emergente. Estes novos projetos chegam a 400 apenas nos Estados Unidos.

 

José Eduardo Mendonça

Jornalista com passagens por publicações como Exame, Gazeta Mercantil, Folha de S. Paulo. Criador da revista Bizz e do suplemento Folha Informática. Foi pioneiro ao fazer, para o Jornal da Tarde, em 1976, uma série de reportagens sobre energia limpa. Nos últimos anos vem se dedicando aos temas ligados à sustentabilidade.

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