Em uma de suas frases mais famosas, o antropólogo Darcy Ribeiro confessava, sem meias palavras, ter fracassado em tudo que tentou na vida: “Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria e fracassei. Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei”. E completava: “Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu”.
[g1_quote author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”solid” template=”01″]Hoje, o que nos marca como sociedade, infelizmente, é o discurso do ódio, travestido de liberdade de expressão. Ninguém quer justiça, o que importa é a vingança. E, para isso, vale tudo, das notícias falsas às verdades construídas. O nu artístico se transforma em pedofilia, as conquistas do movimento feminista e as lutas LGBTs viram coisas de quem não tem o que fazer. E tudo isso sem direito a argumentação, raciocínio lógico ou meio termo. Seria perda de tempo, mimimi
[/g1_quote]Hoje, o Projeto #Colabora completa dois anos de existência. Em novembro de 2015, numa ação digna de Quixote, um grupo de amigos sem recursos resolveu lançar um projeto jornalístico que apostava num “mundo mais criativo, tolerante e generoso”. É claro que o mundo em que vivíamos naquele momento estava longe de ser perfeito, mas havia esperança. E foi ela que nos levou a apostar em palavras gastas como criatividade, tolerância e generosidade. Passado esse tempo, além de lembrar de Darcy Ribeiro, é forçoso citar o sábio Apparício Torelly, o Barão de Itararé, que já nos anos 50 dizia que “nada é tão ruim que não possa ficar pior”.
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Veja o que já enviamosAfinal de contas, no final de 2015, o presidente da maior nação do planeta era Barack Obama, que, junto com outros 190 líderes mundiais, acabara de assinar o Acordo de Paris, assumindo o compromisso de limitar o aquecimento global a 2ºC. Seu sucessor, Donald Trump, não só ignorou o alerta dos cientistas e rasgou o que havia sido combinado como garante que esse negócio de aquecimento global é coisa dos chineses, que querem dominar o mundo.
O Brasil da época era governado por uma senhora ranzinza, teimosa, mas que havia sido reeleita com 54 milhões de votos. Entre as razões da vitória apertada, o fato de ter contribuído, segundo o Banco Mundial, para que 28 milhões de brasileiros saíssem da pobreza. Michel Temer, seu vice, não só participou da conspiração para derrubá-la como já “investiu” cerca de R$ 15 bilhões na aprovação de emendas para mantê-lo no cargo, apesar de todas as denúncias e provas de corrupção. Em seu curto mandato, ainda segundo o Banco Mundial, quase 4 milhões de brasileiros já voltaram a viver abaixo da linha de pobreza. A desigualdade, que havia diminuído em 2014 e 2015, cresceu nos últimos dois anos.
O Rio de 2015 ainda sonhava com as riquezas e os investimentos que as Olimpíadas de 2016 trariam para a cidade. O Rio do pastor Marcelo Crivella, empobrecido de verbas e ideias, sufoca o Carnaval e compromete a sobrevivência da festa. Sua lista de prioridades não faz menção à pobre Baía de Guanabara e prioriza a segurança na Orla, perpetuando a desigualdade. Já o Estado, falido, segue firme na batida para fechar a Uerj e matar os servidores de fome. Não vou falar da farinata do prefeito João Dória e nem da sua decisão de aumentar a velocidade dos carros em São Paulo e, consequentemente, o número de acidentes com vítimas. Vamos deixar de lado também as joias do Cabral e as malas de dinheiro do Geddel. Notícias velhas que poderiam ser encontradas em qualquer época da história do mundo.
Nos dias de hoje, o que nos marca como sociedade, infelizmente, é o discurso do ódio, travestido de liberdade de expressão. Ninguém quer justiça, o que importa é a vingança. E, para isso, vale tudo, das notícias falsas (fake news) às verdades construídas. O nu artístico se transforma em pedofilia, as conquistas do movimento feminista e as lutas LGBTs viram coisas de quem não tem o que fazer. E tudo isso sem direito a argumentação, raciocínio lógico ou meio termo. Seria perda de tempo, mimimi. Todo mundo já sabe o que é o certo. Filósofa americana falando de gênero? Nem pensar: #forajudithbutler. Até Paulo Freire, o mais célebre educador brasileiro, corre o risco de arder no fogo do inferno da intolerância.
Chega. Procura-se um motivo para comemorar o aniversário do #Colabora. Podíamos falar do Prêmio Petrobras de Jornalismo que ganhamos este ano, citar os milhares de seguidores nas redes sociais, os mais de 250 colaboradores espalhados pelo Brasil e pelo mundo, as duas mil reportagens e artigos ou as iniciativas que valorizamos como os trabalhos da “Litro de Luz”, da “Bonecas de Propósito” ou da “Luta pela Paz”.
Podíamos também ressaltar a transparência dos nossos números, coisa rara no Brasil, dentro e fora do jornalismo. Mas isso não é suficiente. Precisamos de uma razão para continuar existindo, necessitamos urgentemente recuperar a esperança. Porque, diferentemente do que dizia Darcy Ribeiro, nossos fracassos não podem ser classificados como vitórias. Num mundo movido pelo discurso do ódio, não há vencedores. Por isso, e apesar de tudo, seguimos apostando no jornalismo independente, sem vinculação partidária e sem fins lucrativos. Trabalhamos para que o mundo seja mais criativo, tolerante, generoso, inclusivo e sustentável. Como o beija-flor do Betinho, que lutava contra o incêndio na floresta, vamos continuar fazendo a nossa parte. #eucolaboro
Parabéns, Agostinho. Vida longa!
Parabéns pelo lindo trabalho. Continuem água mole em pedra dura……..
Parabéns, precisamos de profissionais éticos. Precisamos da mídia sem partidos,que seja imparcial, sem manipulações.
É nessa imprensa, que não pressiona, não impõe a lavagem cerebral que acredito. Parabéns pelo profissionalismo, o que seria natural, HOJE É UMA VIRTUDE!