ODS 1
Na prática, somos (quase) todas femininistas
Autora aponta três fatores necessários para que o movimento ande de fato
Autora aponta três fatores necessários para que o movimento ande de fato
Em uma página com dezenas de milhares de seguidores no Twitter, uma mulher declaradamente de direita empilhava postagens na qual afirmava e repetia: “Não sou feminista, sou feminina.” Além do simples fato de que, sendo mulher, estava ali se projetando na esfera pública (o que, per se, já daria a ela um título provisório de feminista), nos textos, a autora falava de empoderamento, de mulheres ocupando lugares estratégicos, de política. O mesmo valeria para a minha avó que, com mais de 70 anos, virou comerciante, sempre dirigiu e teve liberdade para fazer dos seus horários seus. Ou algumas amigas que estudaram, viajam para trabalhar, deixando a casa sob cuidados do companheiro, e garantem seu próprio sustento. No entanto, para todas elas, falar em feminismo é falar um palavrão. “Sou feminina, não feminista”, alardeiam.
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Existem definições e linhagens várias sobre o feminismo – e cada mulher acaba identificando qual lhe faz mais sentido, dentro de suas crenças e vivências. Eu, particularmente, opto por esta ideia de Susan Okin de que “o feminismo é a crença de que as mulheres não devem estar em desvantagem devido a seu sexo, (…) e devem ter a oportunidade de viver de forma completa e livres para fazerem suas escolhas, da mesma forma que os homens”. Parece ampla, mas ela me serve.
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Veja o que já enviamosPara além de discutir o valor da palavra, existe uma reflexão importante hoje a ser feita que diz respeito a olhar para o passado, reconhecendo avanços logrados, e refletir sobre o que ainda falta fazer, sem ceder ao impulso do encantamento com a nova energia – intensa, porém difusa – que vem se apresentando no feminismo. Nesse contexto, é também fundamental entender como tal processo varia a depender de alguns fatores, como urbano-rural, renda, raça, orientação sexual. Infelizmente, como em qualquer transformação, a mudança é mais lenta do que parece.
Se olharmos para o caso do Brasil – e de forma genérica – veremos que houve avanços importantes desde 1932, quando do direito ao voto feminino. Nos anos 1970, o direito ao divórcio; nos anos 2000, o aborto liberado para casos de feto anencéfalo, e a Lei Maria da Penha; nos anos 2010, a lei das empregadas domésticas. São avanços institucionais, estruturados, frutos de mudanças comportamentais e de uma ação coordenada do feminismo ativista, um feminismo da prática.
Mais recentemente, se há um aspecto mais amplo no qual o feminismo avançou foi na compreensão de que o contrato sexual, ou seja, aquele feito de forma subtendida na sociedade entre homens e mulheres (que nada tem a ver com a relação sexual) é um contrato que subjuga as mulheres. Logo, precisa ser questionado e desafiado.
A divulgação feita pelo capitalismo (todas as blusinhas “grlpwr”) somada à própria mudança nos arranjos familiares (pais precisam ser muito conservadores para achar que sua filha, ao arrumar um marido, terá a vida “garantida”) ajudaram a espalhar a novidade. O feminismo da prática hoje já pode ser feito institucionalmente, por exemplo, com mais mulheres se dedicando aos cargos políticos; no mercado, com mais mulheres se formando e se qualificando; ou mesmo com arte, por meio de performances ou um bloco de carnaval, como é meu caso.
Mas não nos iludamos, toda essa força feminista, que vem dos coletivos, das páginas de jornal, podcasts, refletidas também nas vitrines das lojas, ainda encontra uma resistência enorme no mundo da gente real. Vide, por exemplo, o próprio vandalismo com o ônibus que combatia o assédio no carnaval paulista; ou a força que movimentos conservadores religiosos, principalmente de vertente evangélica, vêm tomando. Ou mesmo todo o preconceito que é destilado quando mulheres querem exercer sua sexualidade livremente.
É muito bonita toda esta moda feminista e o apoio que ela aparentemente vem recebendo, mas isso não basta.
Para que o movimento ande de fato, ele deve congregar três fatores: a mulher empoderada como indivídua autônoma e livre, a mulher trabalhando em conjunto com outras mulheres (apoiando-as e sendo apoiada) e, neste processo, tentando transformar a sociedade, seja ocupando espaços de poder ou mudando normas que as/nos prejudiquem. Ter apenas uma das três pernas inviabiliza a mudança que realmente interessa.
Enquanto este momento não passa, contudo, é fundamental aproveitá-lo para estruturar mudanças que perdurem ao longo das próximas gerações. Traçar pactos que não possam ser revogados – como é, no nosso país, o direito das mulheres à educação; ou à autonomia em relação ao marido. Se há algo em que a noção de empoderamento ajudou foi no fato de que – à direita ou à esquerda – está difícil de achar uma mulher que aceite que um homem deva ter mais direitos que ela na esfera pública. De minha parte, dou boas-vindas a essas feministas. Na prática, temos mais consensos do que imaginam.
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Débora Thomé é cientista política, fundadora do primeiro bloco de carnaval feminista do Rio de Janeiro, Mulheres Rodadas. Autora de "50 Brasileiras Incríveis para conhecer antes de crescer" e "Mulheres e poder".
Adorei o texto, acho que nós mulheres temos que agora ir em busca dos nossos Direitos Relacionados a Previdencia Social; para mulhetes de 60, 50 e que estão perdo dessa geração.
Pois são mulheres que trabalharam em dupla jornada , ou até tribla de trabalho ….. Seu trabalho ….sua casa…e cuidar e criar seus filhos sozinha….qdo veio a Lei do Divorcio. Os pais ( homens) ficaram com a parte fácil ver os filhos aos finais de semana e tiraram o time das obrigações de criar e educar…..agora depous de anos que veio a Guardar compartilhada.
O que acho muito justo seria essas mulheres terem seus direitos mais do que adquiridos em sua aposentadoria mais cedo do que os homens pous trabalharam muito mais….e teriam que até seus benwficios serem maiores por tripla jornada…..mas tudo seria um avanço muito gde para nosso País…..felizmente!!!!! Mas seria o mais JUSTO E COERENTE