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Caso Tallis Gomes: ESG que é bom, nada

Ações do 'capitalismo do amanhã' imprimem um quê de inclusão, pensamento social e governança, mas não fazem cócegas para modificar as realidades brasileiras

ODS 5 • Publicada em 27 de setembro de 2024 - 09:00 • Atualizada em 30 de setembro de 2024 - 09:48

Há um ano, entrevistei para Ecoa UOL o pensador John Elkington, criador do conceito Triple Bottom Line — um norte de ação que se destinaria a unir pessoas, planeta e lucro, todos em equilíbrio, dando origem ao termo ESG (Environmental, Social and Governance para a sigla em inglêms; Ambiental, Social e Governança, em português). Na ocasião, o britânico refletia, em tom de tristeza, de como a sigla ganhou espaço no mundo corporativo, ao mesmo tempo em que não se tornava efetiva para mobilizar e engajar mudanças.

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John parecia antever um cenário que fez alguns dias atrás causar revertério na opinião pública, quando Tallis Gomes, conhecido nome do mundo dos negócios brasileiro por sua atuação nas empresas Singu e a Easy Tax, afirmar nas suas redes: “Deus me livre de mulher CEO”. E não parou por aí, depois de tentar explicar de que preferia ver a “energia feminina” usada “nos lugares certos, lar e família”.

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Tallis não é um qualquer. Fundou, em parceria com os empresários Alfredo Soares, Bruno Nardon e Tony Celestino, a G4 Educação, autodenominada a “evolução da escola de negócios”. Após os impropérios machistas publicados e a cobrança – sobretudo feminina -, ele deixou a presidência da G4, sendo substituído por uma mulher, defendido por uma nota pública de que sua opinião não reflete o pensamento da empresa.

 

O empresário Tallis Gomes: na sua frase “Deus me livre de mulher CEO”, pista de como o 'capitalismo do futuro' no Brasil encara ações ESG (Foto: Divulgação / G4)
O empresário Tallis Gomes: na sua frase “Deus me livre de mulher CEO”, pista de como o ‘capitalismo do futuro’ no Brasil encara ações ESG (Foto: Divulgação / G4)

No site da instituição, onde Tallis ainda permanece como um dos rostos, é possível traçar um panorama sobre como trabalham. De 12 pessoas como ‘mentores’, duas são mulheres, 10 são homens – ou seja, a maioria. Isso explica os motivos que fazem do Brasil ser um país em que mulheres ocupam apenas 39% dos cargos de liderança, e apenas 5% são CEOs. Gozado, não?!

Voltando ao desbravamento do site da instituição, um dos nomes de notoriedade que figura na lista é conhecido de todos nós: o ex-ministro da economia  Paulo Guedes. O título da apresentação que oferta os coachs leva o lema ‘’Só ensina quem faz: aprenda com mentores e líderes que vivem diariamente a realidade dos negócios no Brasil’’. Me pergunto onde estão as pessoas que cuidam de micro ou pequenas empresas, ou na verdade, em que lugar na fila do pão estão elas. 

A crise Tallis Gomes é só um recorte simples de como o país tem encaminhado as transformações da pauta que é vista como o ‘capitalismo do amanhã’, sendo irresponsável o modelo que formata os empreendimentos que figuram no alto escalão da economia brasileira. 

Sem sequer esforço, as mentes brilhantes pensam em dinheiro e na venda de ações (todas falsas), que imprimem um quê de inclusão, pensamento social e governança, quando, na verdade, não fazem cócegas para modificar as realidades brasileiras e movimentar, na ponta, quem está no poder. No fim, ESG que é bom, nada.

Os rostos são os mesmos e o modo de pensar, idênticos. Há falsidade no que tange a implementação da prática para bonificação e registros em redes sociais que amenizam as desigualdades que tanto são potencializadas em nosso patropi. 

Se John tivesse conhecimento do caso, ficaria envergonhado. No mínimo.

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