Para ensinar matemática e física a cegos

Site desenvolvido por estudantes de Licenciatura da UFPR vai ajudar futuros professores no ensino de Ciências Exatas a alunos com deficiência visual

Por Luciana Cabral-Doneda | ODS 4 • Publicada em 9 de agosto de 2019 - 08:32 • Atualizada em 9 de agosto de 2019 - 16:29

Alunos com deficiência visual acompanham aula de matemática: site desenvolvido na UFPR ajuda professores (Foto: UFPR/Divulgação)
Alunos com deficiência visual acompanham aula de matemática: site desenvolvido na UFPR ajuda professores (Foto: UFPR/Divulgação)

Alunos com deficiência visual terão mais facilidade para aprender ciências a partir de uma iniciativa de inclusão criada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).  Estudantes do curso de Licenciatura em Ciências Exatas do Setor Palotina criaram um site sobre o ensino de exatas voltado para pessoas com deficiência visual.  O Física em Braille é resultado do projeto “Oficinas de materiais pedagógicos para o ensino e aprendizagem de exatas para deficientes visuais”, coordenado pelas professoras Rita de Cássia dos Anjos e Camila Tonezer. “A maioria dos adolescentes com deficiência seguem a área de humanas porque não tiveram outra opção. Durante seu desenvolvimento nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio, eles não aprendem conteúdos de matemática, física e química por falta de material adaptado e professores preparados: não é por incapacidade ou dificuldade com o conteúdo”, explica a professora Rita de Cássia.

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Antes de iniciar as atividades, as acadêmicas Ana Paula Carvalho do Carmo, Nayara Talia Barros Barbosa e Thais Cristina dos Santos aprenderam a ler, escrever em Braille e a usar programas de computador de acessibilidade. Durante o projeto, as bolsistas passaram a elaborar e adaptar materiais para o ensino de Exatas, voltados para alunos com deficiência visual – como o multiplano, em que os estudantes podem realizar cálculos matemáticos e montar fórmulas de Física. Além de suporte pedagógico, o site criado na universidade dá dicas de compras em lojas especializadas para deficientes visuais, como reglete (para fazer os furos da linguagem braile), máquina digitalizadora, bola de futebol com guizo, despertador falante. É possível também aprender sobre a estrutura da música em braille e conhecer o programa usado para ensino da música nessa linguagem, o Musibraille.

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O site da UFPR oferece também dicas sobre programas de computadores que permitem a autonomia dos cegos como o Virtual Vision que ajuda a interagir com diversos programas; o DOSVOX, para escrever e-mail, usar calculadora e até jogar; o leitor de tela gratuito NVDA, que interpreta os conteúdos com um sintetizador de voz; e o editor de texto Braille Fácil. “A tecnologia é uma grande aliada na inclusão dos alunos com deficiência. Percebo que os alunos têm muito prazer e facilidade no aprendizado digital, que é um grande aliado. Por outro lado, alguns alunos acabam deixando o braille de lado, o que é ruim. Aprender a linguagem braille é conquistar a liberdade para o cego”, acredita Rita.

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Existem vários casais formados por pessoas com deficiência visual. Muitos se conhecem em sites, marcam encontros pessoalmente e iniciam um relacionamento. São comunidades fechadas, mas que funcionam bem: eles trocam experiências, ensinamentos, conselhos, dicas. Como é algo sadio, decidimos colocar no site algumas comunidades

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Também é possível ter acesso aos sites de livrarias que vendem livros em braille e também livros didáticos para o ensino dessa linguagem. “Assim como a pessoa vidente tem o prazer de sentar em algum lugar para ler um livro, a pessoa com deficiência visual pode fazer a mesma coisa, sem precisar que alguma voz leia para ele. É preciso utilizar a tecnologia para o ensino, mas é preciso incentivar o aluno cego no aprendizado no braille também, isso o fará amadurecer e crescer como cidadão”, observa a professora, que aprendeu braille para poder se comunicar com a irmã, que perdeu à visão com 35 anos, ao ter uma doença degenerativa, a neuromielite óptica. Hoje, a irmã usa computadores e dá aulas em braille. Foi assim que Rita resolveu juntar sua formação em Ciências Exatas para contribuir na inclusão de pessoas como sua irmã.

Na época das redes sociais, não podiam ficar de fora os sites de relacionamento criados especialmente para as pessoas com deficiência visual. O site criado pela UFPR também ajuda os jovens a se relacionar virtualmente, organizando e informando sobre a existência de aplicativos que conectam através de chats criados especialmente para quem não vê. “Achei muito interessante e descobri porque existem vários casais formados por pessoas com deficiência visual. Muitos se conhecem em sites de relacionamento, marcam encontros pessoalmente e iniciam um relacionamento. São comunidades fechadas, mas que funcionam bem, eles trocam experiências, ensinamentos, conselhos, dicas. Como é uma realidade para eles e algo sadio, decidimos colocar no site algumas comunidades”, completa Rita.

A maior dificuldade do projeto tem sido o financiamento, ainda não foi possível comprar a máquina de escrever e uma impressora em braile para produzir material próprio. Mas os professores de todo o país podem acessar o site e se informar sobre os instrumentos e possibilidades que existem para incluir o aluno deficiente visual nas suas aulas de ciências.

Para o ensino da matemática, por exemplo, existem várias técnicas, como o multiplano, uma base repleta de furos em que o aluno encaixa pinos. No projeto da UFPR, essa ferramenta foi ampliada para uso também na aula de física, permitindo que os alunos aprendam as principais equações usadas nessa disciplina. O site concentra várias propostas pedagógicas para a matemática, como o material dourado, o soroban, discos de fração. Na física, por exemplo, podem ser usadas lâminas de alto relevo para explicar fenômenos ondulatórios. E na química o site mostra, entre outras possibilidades pedagógicas, a roleta magnética e os modelos atômicos. Em busca de financiamento, as professoras da UFPR pretendem divulgar os resultados da aplicação dos materiais especiais nas escolas, sonhando que um dia a inclusão faça parte da política pública para o ensino de ciências.

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