ODS 1
Crise climática afetou vida escolar de 240 milhões de crianças em 2024
Unicef aponta que alunos de 85 países tiveram suas aulas interrompidas por causa de ondas de calor, ciclones e enchentes; no Brasil, foram 1,2 milhão de crianças afetadas
Pelo menos 242 milhões de crianças em 85 países tiveram suas aulas interrompidas no ano passado por causa de ondas de calor, ciclones, inundações e outros eventos climáticos extremos, de acordo com relatório do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) em seu primeiro relatório, divulgado sexta-feira (24/01/2025), com foco nessa relação entre crise climática e educação. O documento do Unicef aponta que uma em cada sete crianças em idade escolar no mundo ficou fora da sala de aula em algum momento de 2024 por causa de riscos climáticos.
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O Brasil aparece na lista dos países afetados com quase 1,2 milhão de crianças afetadas por interrupção das aulas provocados por desastres climáticos – enchentes são citadas como o tipo de evento climático extremo com mais impacto. Reportagem especial do #Colabora mostrou que mais de mil escolas foram afetadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul em maio e as aulas foram interrompidas, por algum tempo, em 478 municípios onde mais de dois milhões de pessoas foram obrigadas a deixar suas casas: pelo menos, 50 mil alunos gaúchos pediram transferência após o desastre climático.
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Veja o que já enviamosO relatório do Unicef também descreve como alguns países viram centenas de suas escolas destruídas pelo clima, com nações de baixa renda na Ásia e na África Subsaariana atingidas especialmente. A agência da ONU lembra que regiões de melhor renda não foram poupadas do clima extremo, já que chuvas torrenciais e inundações na Itália perto do final do ano interromperam as aulas para mais de 900 mil crianças. Milhares também tiveram suas aulas interrompidas após inundações catastróficas na região de Valência, na Espanha.
O sul do Brasil e o sul da Europa lidaram com inundações trágicas e a Ásia e a África tiveram inundações e ciclones, mas, de acordo com o relatório do Unicef, as ondas de calor foram “o risco climático predominante, fechando escolas no ano passado”, – em 2024, o planeta registrou seu ano mais quente de todos os tempos. “As crianças são mais vulneráveis aos impactos de crises relacionadas ao clima, incluindo ondas de calor mais fortes e frequentes, tempestades, secas e inundações”, disse a diretora executiva da Unicef, Catherine Russell, em um comunicado.
O documento do Unicef destaca que mais de 118 milhões de crianças tiveram suas aulas interrompidas somente em abril, enquanto grandes partes do Oriente Médio e da Ásia, da Faixa de Gaza até as Filipinas, experimentaram uma onda de calor escaldante de semanas com temperaturas acima de 40 graus Celsius. “Os corpos das crianças são excepcionalmente vulneráveis. Elas esquentam mais rápido, transpiram menos eficientemente e esfriam mais lentamente do que os adultos. As crianças não conseguem se concentrar em salas de aula que não oferecem alívio do calor sufocante e não conseguem chegar à escola se o caminho estiver inundado ou se as escolas forem levadas pela água”, acrescentou a diretora do Unicef.
O relatório aponta ainda que cerca de 74% das crianças afetadas em 2024 estavam em países de renda média e baixa, mostrando como os extremos climáticos continuam a ter um impacto devastador nos países mais pobres. O Unicef ressalta as Inundações que destruíram mais de 400 escolas no Paquistão em abril e as ondas de calor seguidas por inundações severas no Afeganistão, que destruíram mais de 110 escolas em maio, “Meses de seca no sul da África exacerbados pelo fenômeno climático El Niño ameaçaram a escolaridade e o futuro de milhões de crianças”, destaca o texto.
A Agência da ONU lembra ainda que eventos climáticos extremos não dão sinais de trégua. O território francês de Mayotte, no Oceano Índico, na África, foi deixado em ruínas pelo ciclone Chido em dezembro , deixando crianças em todas as ilhas fora da escola por seis semanas. O mesmo ciclone também destruiu mais de 330 escolas e três departamentos regionais de educação em Moçambique, no continente africano, onde o acesso à educação já é um problema profundo.
O relatório do Unicef conclui que as escolas e os sistemas educacionais do mundo “estão amplamente mal equipados” para lidar com os efeitos do clima extremo. “A educação é um dos serviços mais frequentemente interrompidos devido a riscos climáticos. No entanto, é frequentemente esquecida nas discussões políticas, apesar de seu papel na preparação das crianças para a adaptação climática”, afirmou Russell. “O futuro das crianças deve estar na vanguarda de todos os planos e ações relacionados ao clima.”
O relatório observa que as escolas e os sistemas educacionais estão amplamente mal equipados para proteger os alunos desses impactos, pois os investimentos financeiros centrados no clima na educação permanecem surpreendentemente baixos e os dados globais sobre interrupções escolares devido a riscos climáticos são limitados.
Em novembro, o Unicef alertou em seu relatório State of the World’s Children (Estado das Crianças do Mundo) que as crises climáticas devem se tornar mais generalizadas entre 2050 e 2059, com oito vezes mais crianças expostas a ondas de calor extremas e três vezes mais expostas a inundações extremas de rios, em comparação com a década de 2000.
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Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade