ODS 1
Faculdade pioneira na Zona Oeste do Rio agoniza
Primeira instituição de ensino superior da região, Moacyr Sreder Bastos sofre com inadimplência e Fies
Cinco pessoas abandonaram o curso de licenciatura em Educação Física só na turma de quarto período de Alessandro Lopes Jesus, de 30 anos. O morador de Bangu, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, estuda no Centro Universitário Moacyr Sreder Bastos, a primeira faculdade da região, localizada no bairro de Campo Grande, fundada em 1969. A instituição engrossa estatísticas de inadimplência no ensino superior privado, que teve sua primeira alta desde 2008, de acordo com levantamento feito pelo Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp).
Segundo o órgão, 8,8% dos alunos estava com o pagamento da mensalidade atrasado em mais de três meses, em 2015. O número foi maior que a média dos demais setores em 2015, que ficou em 6,2%. E a expectativa é que suba para 9% este ano. A taxa era de 10%, em 2008, mas caiu até atingir 7,8% em 2014.
O Semesp acredita que as causas sejam a crise econômica e a adoção de critérios mais rígidos do FIES para conceder bolsas. Para frear a inadimplência e a desistência, as instituições oferecem bolsas, como no caso do Centro Universitário Moacyr Sreder Bastos, que faz parte do grupo Uniesp. Durante a Black Friday, a instituição chegou a oferecer R$ 200 de desconto no Facebook. Cerca de 25% dos alunos do setor privado recebem bolsas, de acordo com a Semesp.
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Veja o que já enviamos“Tive dificuldade este ano de me manter porque fiquei desempregado, mas com o estágio somado ao seguro-desemprego e fazendo eventos consigo pagar”, conta Alessandro, que já havia abandonado um curso de Administração, mas decidiu retomar os estudos por causa de um programa de bolsas da própria faculdade: “Pago R$ 200 por mês e vou quitar em até 36 meses depois de me formar.”
A inadimplência agrava um problema de infraestrutura na instituição. Segundo o estudante de Educação Física, não há piscina, e faltam bolas e cones. O laboratório de anatomia está defasado, assim como o espaço de lutas e a quadra poliesportiva: “Tem goteiras, então, quando chove, a água fica acumulada em poças. Nós mesmos, ou os professores, temos que tirar com rodo. A estrutura precisa de mais cuidado”, avalia.
Um quadro diferente daquele onde Luis Otavio Rodrigues, de 24 anos, estudou Direito. Morador de Campo Grande, ele escolheu a instituição pela sua “estrutura familiar e história na região”, imagem cultivada até ser vendida para o grupo Uniesp, em 2014. “Tinha teatro, sala de vídeo, biblioteca, laboratório, clínica. No fim do meu curso, ela foi vendida e, desde então, as condições pioraram. A gestão ficou confusa porque a administração era em São Paulo. Virou a parte de um conglomerado gigante e não tem mais as características que tinha na sua criação”, opina.
O levantamento mostra que as instituições de pequeno porte, com até 2 mil alunos, são as que mais sofrem com a inadimplência, com um índice de 10,4%, em 2015. Mas as maiores também sofrem. O índice ficou em 7,1%.
Procurados, a direção da Centro Universitário Moacyr Sreder Bastos e o grupo Uniesp, dono da faculdade, não responderam às denúncias.
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Jornalista formada pela PUC-Rio com MBA em Gestão de Negócios Sustentáveis pela UFF. Trabalhou no Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) e nos jornais O Globo, Extra e Expresso. Atualmente é freelancer e colabora com reportagens para jornais e sites.