A epidemia das doenças da mente

Sem prevenção, desordens de saúde mental avançam e atingem 1/4 da população do planeta

Por José Eduardo Mendonça | ODS 3 • Publicada em 17 de julho de 2019 - 08:00 • Atualizada em 17 de julho de 2019 - 21:05

Doenças da mente atingem quase 25% da população mundial; nos Estados Unidos, índice de suicídio é o maior em 50 anos (Foto: COLLANGES/BSIP)
Doenças da mente atingem quase 25% da população mundial; nos Estados Unidos, índice de suicídio é o maior em 50 anos (Foto: COLLANGES/BSIP)
Doenças da mente atingem quase 25% da população mundial; nos Estados Unidos, índice de suicídio é o maior em 50 anos (Foto: COLLANGES/BSIP)

A depressão é hoje a principal causa de incapacitação do mundo. As desordens de saúde mental globalmente atingem uma em cada quatro pessoas, que passarão por algumas delas em algum momento de suas vidas, de acordo com a Organização Mundial de Saúde.  E muitas outras são afetadas por males experimentados por entes amados, muitas vezes sem ter a quem recorrer. Nos Estados Unidos, por exemplo, a taxa de suicídios é a mais alta em cinquenta anos.

Internacionalmente, as doenças mentais são vividas por centenas de milhões de pessoa. E em área de crise, como no leste da África, a situação pode ser devastadora. O impacto do surto de ebola mais o legado de uma longa guerra civil na Libéria exacerbaram os problemas psicológicos entre cidadãos que já enfrentavam uma escassez de recursos médicos.

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Uma das nações é uma das mais ricas do planeta. Outra, uma das mais pobres. No entanto, ambas sofrem quando faltam cuidados, desmantelando o mito de que quem é financialmente seguro é de alguma forma imune a doenças mentais. Em ambas, o silêncio e a negligência contribuem com o problema. Quem fala abertamente de suas necessidades de tratamento se arrisca a passar por isolamento social, discriminação no trabalho e em alguns casos à violência e à prisão. O estigma criado causa sofrimento desnecessário e impacta de forma negativa a qualidade de vida.

Existem dezenas de tipos de doença mental, de desordens comuns como depressão e ansiedade, até das mais raras como parafilia (compulsão sexual) e tricotilomania (uma compulsão de remover cabelos). Elas são qualificadas pelas autoridades de saúde em vinte subgrupos.

A doença mental não é insanidade, tristeza ou raiva, embora possa envolver estes sentimentos em algumas de suas formas. Podemos pensar nela como um espectro, um contínuo onde nos encontramos em diferentes estágios. Em um extremo, nos vemos florescendo, satisfeitos e tranquilos. No meio do caminho, as pessoas podem estar lutando contra e sobrevivendo. Na outra ponta estão os males, em uma zona na qual no movimentamos em todas as nossas vidas.

Até onde os dados são confiáveis, de acordo com a série do Instituto de Avaliação de Métricas de Saúde, da Universidade de Washington, em 2017 quase 300 milhões de pessoas no mundo sofriam de ansiedade, cerca de 160 milhões de desordem depressiva importante e outras 100 milhões de formas mais suaves de depressão conhecidas como distimias.

Apesar dos preconceitos, a diminuição da estigmatização das doenças mentais resultou em um número enorme de pessoas buscando ajuda. O número maior de relatos é o de jovens.

Há uma combinação de fatores de risco que podem agravar os problemas, a começar pelos genes. “O que se herda é uma certa vulnerabilidade ou predisposição, e estas pessoas têm mais probabilidade de sofrer”, afirma Ricardo Araya, diretor do Centro Global de Saúde Mental, do King´s College de Londres. “É poligênico. Sabemos que há muitos genes envolvidos”. No ano passado cientistas notaram 44 variantes genéricas que aumentam o risco de depressão”.

Outros fatores de risco são abuso, trauma, estresse, violência doméstica, bullying, conflitos, isolamento social ou abuso de drogas (que pode ser causa ou consequência).

A revolução do bem estar físico pessoal, dietas e medicina nos últimos 50 anos transformou a saúde da população, mas não existiram realmente esforços similares para deixar as pessoas mentalmente bem. Em psiquiatria e psicologia é como se estivéssemos praticando cardiologia dos anos 1950, quando se esperava um ataque cardíaco para ver depois o que tinha acontecido”, diz Ron Kessler, professora da faculdade de medicina de Harvard. “Temos de evoluir mais rapidamente”.

José Eduardo Mendonça

Jornalista com passagens por publicações como Exame, Gazeta Mercantil, Folha de S. Paulo. Criador da revista Bizz e do suplemento Folha Informática. Foi pioneiro ao fazer, para o Jornal da Tarde, em 1976, uma série de reportagens sobre energia limpa. Nos últimos anos vem se dedicando aos temas ligados à sustentabilidade.

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