ODS 1
Diário da Covid-19: Pandemia mata um brasileiro a cada dois minutos
Projeções indicam que podemos chegar mil óbitos e 13 mil casos por dia na próxima semana
O surto da covid-19 está desacelerando no mundo, mas continua em ritmo veloz e batendo recordes no Brasil. Nosso país teve 20,6 mil casos e 1.630 mortes pela covid-19 nas últimas 48 horas. Isto significa 430 novos casos por hora (ou mais de 7 casos por minuto) e 34 mortes por hora (ou mais de 1 morte a cada dois minutos).
O novo coronavírus chegou ao Brasil por meio de pessoas que vieram do exterior e moravam ou utilizaram os portos e aeroportos das grandes cidades. No dia 01 de abril, as duas megalópoles do país (São Paulo e do Rio de Janeiro) concentravam 46% dos casos e 68% das mortes, caindo para 25% dos casos e 30% das mortes totais no dia 12 de maio. Portanto, o surto do coronavírus se espalhou com mais rapidez para as outras capitais e demais cidades do litoral e do interior.
As 27 capitais do país tinham, no dia 01 de abril, 5,2 mil casos que significavam 76,2% dos 6,8 mil casos do Brasil. No dia 12/05, as 27 capitais passaram para 99,6 mil casos, reduzindo o percentual para 56,1% dos 177,6 mil casos brasileiros. Nestes 42 dias, o ritmo de crescimento dos casos nas capitais foi de 7,3% ao dia e no restante do país foi de 8,1% ao dia.
Em relação às vítimas fatais, as 27 capitais tinham 192 mortes no dia 01/04 (80% das 241 mortes nacionais) e passaram para 7,3 mil em 12/05 (59% das 12,4 mil mortes nacionais). Neste período, o ritmo de crescimento das mortes nas capitais foi de 9,1% ao dia e no restante do país foi de 9,9% ao dia. Portanto, a pandemia cresce mais rápido fora das capitais dos 26 estados e do Distrito Federal.
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Veja o que já enviamosO panorama nacional e global
O Ministério da Saúde informou, na noite do dia 13 de maio, que o país atingiu 188.974 casos e 13.149 mortes pela covid-19, com uma taxa de letalidade de 7%. O número diário de pessoas infectadas foi de 11.385 casos, sendo que o Brasil ultrapassou a França em casos acumulados e superou a Rússia em casos diários, ficando em segundo lugar no ranking global (atrás apenas dos EUA). O número diário de vítimas fatais foi de 749 óbitos, também o segundo maior valor absoluto diário no ranking global (atrás dos EUA)
No mundo, no dia 13/04, o número de casos chegou a 4,43 milhões de casos e o número de mortes chegou a 297,8 mil, com taxa de letalidade de 6,7%. A marca de 300 mil óbitos será alcançada hoje (14/05). Nos primeiros 12 dias do mês de maio, o número de casos globais cresceu 2,2% ao dia e o número de mortes cresceu 1,8% ao dia.
O contraste entre o panorama nacional e global é significativo. Enquanto o mundo já está descendo a curva da pandemia, o Brasil ainda está “subindo a ladeira”.
O gráfico abaixo (confirmando estimativas anteriores) mostra que existe, inquestionavelmente, uma tendência de aumento diário dos casos e das mortes e a perspectiva é que estes valores elevados devem se repetir na próxima semana e podem até bater novos recordes, pois o pico da pandemia ainda está distante. As linhas (pontilhadas) da tendência polinomial de terceiro grau apontam para um número de novos infectados acima de 13 mil e um número de vítimas fatais em torno de 1 mil óbitos diários, como pode ser visto na final da projeção que atinge os próximos 7 dias.
A tabela abaixo apresenta uma grande quantidade de indicadores para o mundo, o Brasil, as regiões e os estados brasileiros. Em números absolutos, o estado de São Paulo (21,9% da população nacional), com 47,7 mil casos e 3,9 mil mortes e a região Sudeste (42% da população nacional) com 74,7 mil casos e 6,2 óbitos concentram a maioria dos eventos. Contudo, as análises do coeficiente de incidência (casos por milhão de habitantes) e do coeficiente de mortalidade (mortes por milhão de habitantes) indicam que o impacto da pandemia é maior em estados menores, especialmente das regiões Norte e Nordeste.
No mundo, o coeficiente de incidência é de 556 casos por milhão. O Brasil já está em 839 casos por milhão, sendo que na região Norte está em 1.655 casos por milhão, na região Nordeste está em 1.019 casos por milhão, embora as regiões Centro-Oeste (308 casos por milhão) e o Sul (283 casos por milhão) estejam abaixo da média mundial. Os estados do Amazonas (3.367 casos por milhão) e Amapá (3.377 casos por milhão) apresentam os maiores coeficientes de incidência e os estados de Mato Grosso do Sul (144 por milhão), Goiás (157 por milhão) e Minas Gerais (161 por milhão) apresentam os menores coeficientes.
O coeficiente de mortalidade no mundo é de 38 óbitos por milhão. O Brasil já está em 59 óbitos por milhão, sendo que na região Norte está em 117 óbitos por milhão, na região Nordeste está em 62 óbitos por milhão, embora as regiões Centro-Oeste (8 óbitos por milhão) e o Sul (10 óbitos por milhão) estejam abaixo da média mundial. Os estados do Amazonas (261 óbitos por milhão) e o Ceará (139 óbitos por milhão) apresentam os maiores coeficientes de mortalidade e os estados de Mato Grosso do Sul (4 por milhão), Mato Grosso (5 por milhão) e Minas Gerais (6 por milhão) apresentam os menores coeficientes.
Os estados de São Paulo e do Rio de Janeiro continuam tendo um peso absoluto e relativo muito grande, mas, especialmente, no território paulista o ritmo da pandemia já vem diminuindo em relação ao restante do país, embora ainda esteja em alto patamar.
A tabela abaixo, da mesma forma que a anterior, apresenta uma série de indicadores para o mundo, o Brasil, e as capitais dos estados brasileiros. A tabela serve como referência para pesquisa e consulta. De forma sintética, as capitais que apresentaram os maiores coeficientes de incidência (casos por milhão) foram Fortaleza (4.677 casos por milhão), Recife, São Luís, Macapá e Manaus e os menores coeficientes em Belo Horizonte, Goiânia, Porto Alegre, Cuiabá, Curitiba e Campo Grande (177 casos por milhão).
Também de forma sintética, as capitais que apresentaram os maiores coeficientes de mortalidade (óbitos por milhão) foram Fortaleza (356 óbitos por milhão), Manaus, Belém, São Luís e Recife e os menores coeficientes em Belo Horizonte, Palmas, Campo Grande e Cuiabá (3 óbitos por milhão).
Para ilustrar a velocidade do crescimento da epidemia, o gráfico abaixo mostra o crescimento médio geométrico diário do número de casos e de óbitos nas dez maiores capitais do país entre os dias 01 de abril a 12 de maio. Nestes 42 dias em questão, o Brasil apresentou crescimento diário de 9,8% das mortes e de 8,1% dos casos. Acima destes valores estavam Manaus com (15,1% dos óbitos e 9,4% dos casos), Fortaleza (12,8% e 8,5%), Recife (11,3% e 12%), Salvador (10,7% e 8,1%) e Rio de Janeiro (10,4% e 6,7%). Abaixo da média nacional estavam Curitiba, Goiânia, São Paulo, Brasília e Belo Horizonte (6,3% dos óbitos e 4% dos casos).
Desta forma, percebe-se que a pandemia da covid-19 cresce de forma desigual, mas combinada em todo o território nacional. Das duas megalópoles, o Rio de Janeiro é a que mais preocupa. Entre as 10 maiores capitais são aquelas do Norte e Nordeste que apresentam as maiores taxas de crescimento. Belo Horizonte é uma grande capital que apresenta menor volume absoluto e menor ritmo de crescimento dos casos e das mortes.
A situação atual é que a pandemia no Brasil tem reduzido o ritmo de forma lenta nas grandes cidades e nos grandes estados (especialmente São Paulo e Minas Gerais), mas mantém uma velocidade acelerada nos municípios fora das 27 capitais e nas cidades menores do litoral e do interior. Assim, o surto pandêmico vai se expandindo em círculos com centros cada vez mais espalhados. Tudo isto empurra o país, progressivamente, para o topo do ranking global e da liderança diária de novos casos e novas mortes. As semanas seguintes irão exigir reforços redobrados para conter o coronavírus.
Frase do dia 14/05/2020
“O ódio gera ódio, a violência gera violência, a hipocrisia é respondida pela hipocrisia, a guerra gera guerra e o amor cria amor”
Pitirim Sorokin (1889-1968)
Sociológico russo
José Eustáquio Diniz Alves é sociólogo, mestre em economia, doutor em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar/UFMG), pesquisador aposentado do IBGE, colaborador do Projeto #Colabora e autor do livro "ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século" (com a colaboração de F. Galiza), editado pela Escola de Negócios e Seguro, Rio de Janeiro, 2022.