Pai deve ajudar na amamentação do bebê, afirmam pediatras

Na Semana do Aleitamento Materno, que começa nesta quinta-feira, profissionais destacam a importância de prolongar a licença-paternidade para não sobrecarregar a mãe e aumentar elos familiares

Por Barbara Lopes | ODS 3ODS 5 • Publicada em 1 de agosto de 2019 - 08:03 • Atualizada em 1 de agosto de 2019 - 22:45

‘Mamaço’ em Brasília: mães brasilienses chamam a atenção da sociedade para a importância do ato de amamentar (Valter Campanato/Agência Brasil)
Grupo de mães brasilienses se reúne para amamentar seus bebês simultaneamente, em público, e, com isso, chamar a atenção da sociedade para a importância do ato de amamentar (Valter Campanato/Agência Brasil)

Em 2019, o tema da Semana do Aleitamento Materno, que começa nesta quinta (1/08), será “Empoderamento de mães e pais para fortalecer a amamentação”. Entra em pauta, portanto, um assunto ainda pouco falado no Brasil, a licença-paternidade. A presença e o apoio do pai é considerada essencial no período de adaptação, tanto para a mãe quanto para a criança e a formação de vínculo familiar. “Estamos pensando algo em torno de 30 dias, o primeiro mês é muito importante para a família ficar unida, para a mulher se sentir apoiada”, avalia a médica Carmen Lúcia Leal Ferreira Elias, presidente do Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro (Soperj).

Diferente de alguns países desenvolvidos, onde o pai chega contar com 52 semanas para dedicar aos cuidados com o filho, no Brasil a licença-paternidade é de cinco dias, mas pode chegar a 20 dias para servidores públicos e funcionários de companhias ou outras instituições que aderiram ao Programa Empresa Cidadã. 

A pediatra e neonatologista Rafaella Leal, membro do Departamento de Aleitamento da Soperj, afirma que o curto tempo de licença-paternidade dificulta o envolvimento dos pais nos cuidados com os recém-nascidos, sobrecarregando as mães. Dificulta também a construção de uma relação do pai com o bebê, o vínculo demora a se formar. A presença do pai para a criação de uma rede de apoio para a mãe e criança é fundamental desde o pré-natal. “O papel do pai é apoiar, nem que seja para segurar um pouquinho o bebê depois que mamou”, afirma. O apoio paterno permite que o bebê amplie seu tempo de aleitamento materno exclusivo.

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O fotógrafo Bernardo Ferradeira, de 34 anos, acha essencial fazer bem mais que isso. Pai de Theo, de 3 meses, ele conta participar ativamente da amamentação do filho e compartilhar o trabalho com a esposa Gabriela. “A madrugada é toda minha”, diz. Theo passou por duas cirurgias e a produção de leite da mãe caiu muito. Por isso, passaram a complementar a alimentação do bebê com amamentação artificial. “Mas a gente está insistindo no peito. Já tentamos até relactação (técnica que torna possível voltar a amamentar) para estimular. Mas, como a mamadeira acaba sendo mais fácil, ele acaba querendo peito só quando está cheio”, conta o pai. 

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Quando o pai precisa levar a criança a uma consulta, ele não interage com o pediatra. Vai ficar olhando o celular ou vai ligar para a esposa fazer as perguntas. Eles não se sentem participantes

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Mas Bernardo parece ser exceção. Rafaella observa, entre seus pacientes, que entre 90 a 95% dos pais comparecem à primeira consulta, quando o bebê tem de 10 a 15 dias. Mas, já na segunda, que ocorre até os 30 dias de vida, 60% das mães vão sozinhas, com a avó ou outra pessoa próxima. Até o sexto mês, que seria o final da amamentação exclusiva (período em que o bebê é alimentado somente com leite materno), o número de pais que comparecem às consultas não chega a 5%. “Geralmente quando o pai precisa levar a criança a uma consulta, ele não interage com o pediatra. Vai ficar olhando o celular ou vai ligar para a esposa fazer as perguntas. Eles não se sentem participantes”, afirma a pediatra.

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A prevalência do aleitamento materno exclusivo em menores de seis meses foi de 41% no conjunto das capitais brasileiras, o que é muito pouco

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Tudo isso pode contribuir para que o período de aleitamento materno exclusivo menor do que o indicado (seis meses). No Brasil, aponta Carmen Lúcia, o desmame costuma começar aos 120 dias de vida, quando termina o período obrigatório de licença-maternidade (nas “empresas cidadãs” chega a 180 dias). “Muita gente acha que a amamentação no mamífero é uma coisa instintiva. E ela é em todos os animais, menos nos humanos. O ser humano precisa de apoio, proteção, estímulo, para que tenha êxito. A prevalência do aleitamento materno exclusivo em menores de seis meses foi de 41% no conjunto das capitais brasileiras, o que é muito pouco”, destaca Carmen Lúcia. 

Algumas empresas já oferecem às funcionárias o acesso a salas de apoio, onde a mulher retira o seu leite durante o horário de trabalho e, no final da jornada, leva para casa. Dessa forma, é possível o bebê continuar se alimentando somente com leite materno, mesmo quando a mãe já voltou ao trabalho. 

‘Mamaço’ em Brasília: mães brasilienses chamam a atenção da sociedade para a importância do ato de amamentar (Valter Campanato/Agência Brasil)

Bancos de leite

Quando o leite falta ou sobra, é possível recorrer a um banco de leite. Danielle Aparecida da Silva, gerente do Banco de Leite Humano (BLH) do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), afirma que nunca conseguem alcançar 100% da demanda, mas nesta época, por causa da divulgação Semana Aleitamento Materno, há um considerável aumento nas doações. No período de férias, entretanto, do Natal até o Carnaval, a queda nas doações chega a 70%.

Os bancos de leite atendem UTIs neonatais, mas são abertos a toda sociedade. “A mãe pode ligar e terá o primeiro cuidado pelo telefone mesmo, conversando com uma enfermeira. Em casos mais complexos, quando essa mãe apresenta febre, pedras de leite, mastite, é preciso ir ao banco de leite para ser atendida pessoalmente”, diz Danielle.

‘Mamaço’ mundial

A Semana do Aleitamento Materno é promovida em mais de 170 países pela Aliança Mundial para Ação em Aleitamento Materno (Waba, na sigla em inglês), a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). No Brasil, desde 2017, é realizado também o Agosto Dourado, lançado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). O alimento “padrão ouro de qualidade” será celebrado neste mês com uma variada programação, incluindo o Mamaço, evento que será realizado no sábado (03), em diversas cidades do mundo. Nesse encontro as mães se reúnem para amamentar e dialogar sobre o aleitamento com profissionais da saúde e pediatras. 

Para conscientizar também os médicos, no dia 13 de agosto a Soperj organiza um workshop com pediatras. “Hoje não é modismo. Vemos, nas redes sociais, grupos de mães escolhendo os pediatras de acordo com aquilo que ele preconiza. Você passa a ser um formador de opinião”, afirma a Carmen Lúcia. A médica chama a atenção para um ponto: muitos pediatras não deixam espaço da consulta médica para observar e analisar a mamada e orientar a mãe sobre a forma correta de segurar o bebê, o tempo certo da mamada e os sinais de fome. Isso se deve ao tempo elevado de cada mamada – que pode durar entre 30 e 40 minutos -, mas a falta das orientações corretas pode interferir a alimentação do bebê e na sua aceitação do leite materno.

No Agosto Dourado, ‘mamaços’, como este em Brasília, estão programados para várias cidades do mundo (Valter Campanato/Agência Brasil)

O mito do ‘leite fraco’

Um dos mitos sobre amamentação mais difundidos é o do “leite fraco”. A confusão se dá porque o primeiro leite é mais denso, perfeito para a saúde do recém-nascido porque protege a mucosa intestinal. O segundo leite é mais aquoso e dá a ideia errada de ser mais fraco, entretanto, é mais calórico e alimenta o bebê. “O primeiro leite é aquele que a gente diz que mata a sede do bebê. O segundo leite em diante já vai matar a fome. Por isso, dizemos que a amamentação é de livre demanda, amamentar na hora que o bebê solicitar o deixa bem nutrido”, diz Carmen Lúcia.

O leite materno reduz em seis vezes o risco de morte por diarreia nos bebês, além de prevenir outras infecções e reduzir o risco de desenvolver doenças alérgicas. Amamentar também cria um forte vínculo afetivo entre a mãe e o bebê, faz o organismo da mulher se recuperar de forma mais rápida, além de reduzir o risco de câncer de mama. Não há contraindicações.

Barbara Lopes

Formada em Letras/Literaturas pela Universidade Federal Fluminense, carioca que não vai à praia, mas vive na floresta e na selva da cidade. Cursando graduação em Jornalismo na UFRJ. Acredita que a leitura e o diálogo transformam o mundo.

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