ODS 1
Morte lenta
Chega de hipocrisia: mente quem diz que é uma livre escolha fumar ou parar de fumar
Enquanto escrevo, meu pai continua ancorado a mais de dez tubos que o ajudam a respirar, medir batimentos, pressão, controlam os antibióticos e administram no compasso de bipebipes os sistemas de seu corpo. Depois de um aneurisma torácico e uma cirurgia de seis horas, esse quadro é motivo de comemoração. Mais pessoas no mundo morrem de dissecção da aorta do que de AIDS. É como se um milagre tivesse acontecido. Só que o roteiro desse filme ainda não terminou.
[g1_quote author_name=”Stephen Dubner” author_description=”Âncora do podcast Freakonomics Radio” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]Nomeie uma atividade que milhões e milhões de pessoas fazem, de sua própria vontade – mas que 70% deles, pelo menos nos EUA, dizem que não querem fazer. Isso não faz sentido, não é? Que tipo de coisa poderia ser tão atraente e ainda tão pouco atraente ao mesmo tempo?
[/g1_quote]A elaborada trama que nos fez chegar até aqui começou numa primeira tragada. O aneurisma de agora é só uma de suas consequências mais graves. O que era para ser um raro prazer durou uma vida. Foram 50 anos fumando. Somente há dez, depois de um aneurisma da artéria ilíaca, uma ponte e duas UTIs, Carlton e meu pai deixaram a intimidade de lado. E eu aproveito e deixo para trás a minha hipocrisia.
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Veja o que já enviamosMente quem diz que é uma livre escolha fumar ou parar de fumar. Esses não sentiram (ou não querem confirmar) o prazer da nicotina e das outras milhares de substâncias (mais de sete mil) atuando rapidamente pelo corpo. Como disse certa vez Jacob Kligerman, cirurgião e ex-diretor do Inca, a nicotina atinge os mesmos receptores cerebrais que a cocaína. Eu soube o que era isso, quando fumante – agora estou há um ano sem fumar. Eu menti, porque acreditei no discurso da moderação, da geração de empregos dessa indústria, enquanto trabalhava com um dos maiores fabricantes de cigarros do país.
“Ok, aí vai uma charada”, provocou Stephen Dubner, autor e âncora do podcast Freakonomics Radio, num de seus episódios. “Nomeie uma atividade que milhões e milhões de pessoas fazem, de sua própria vontade – mas que 70% deles, pelo menos nos EUA, dizem que não querem fazer. Isso não faz sentido, não é? Que tipo de coisa poderia ser tão atraente e ainda tão pouco atraente ao mesmo tempo?”
Não é comer chocolate. É fumar.
Não sei até onde vai este texto. Eu não estou aqui para convencer ninguém a parar de fumar. É uma decisão muito pessoal e exige um tremendo esforço. Por muito tempo, enumerei vários motivos para parar, todos muito racionais. Mas foi uma crise aguda de bronquite e o medo de morrer sufocada pela fumaça que me afastaram, há mais de um ano – e espero que definitivamente –, do cigarro. Mudar um hábito desses é uma tarefa radical porque envolve mudar outros micro-hábitos ao redor: o combo bebida e cigarro, ou o primeiro cigarro da manhã, ou a combinação cigarro e café pós-almoço. Aquele fumar porque está estressado, ou porque quer tirar um minuto só seu. Abandonar o vício tem seu bônus: o paladar e o olfato ganham um upgrade, o cheiro do seu corpo muda, a disposição aumenta, sobra fôlego até para correr e brincar e muito mais.
Me lembro agora de um episódio da série Friends em que a personagem de Jennifer Aniston, Rachel, apavorada com a possibilidade de perder qualquer papo no trabalho, resolve encarar o fumódromo para saber das decisões tomadas enquanto o fumacê rolava. Esse conceito também está datado. Os fumódromos, que bom, são coisa cada vez mais do passado. Uma das piores invenções que já vi dessa indústria – vendida aos consumidores como uma grande vantagem – foi a chegada dos fumoirs de aeroporto. Uma espécie de super secador em forma de quioscão, onde os fumantes podiam se amontoar para ficarem, tipo assim, numa jaulinha ou num cinzeirão, como queira imaginar, enquanto os não-fumantes passavam rumo a seus destinos.
Ainda por cima, essa indústria é muito brega, temos que admitir.
Se meu pai foi da geração embalada pelo glamour da fumaça no cinema e dos aviões metade fumantes e a outra metade não, a minha geração foi levada no papo das propagandas impulsionadas por muito dinheiro e imagens de praia, esportes radicais, gente independente que sabia o que queria e tinha sempre alguma coisa em comum, rebeldia. Pelos eventos de música – associados a grandes nomes nacionais e internacionais – o cigarro voou por muito tempo e eu fiz parte disso. O que ainda surpreende, e é realmente sinônimo do poder dessa indústria, é o consumo de tabaco pelas gerações que nasceram depois do banimento de propaganda e patrocínio de esportes e eventos culturais, nos anos 2000. O que leva, em 2017, uma garota ou garoto de 13 anos a enfiar um cigarro pela boca?
Informação é o que não falta em todos os sites, nas embalagens, na obrigatória propaganda para alerta dos malefícios nos 300 mil pontos de venda que recebem os maços. Ainda assim, mais de 156 mil pessoas morrem ao ano no Brasil em consequência do tabagismo. Um número assustador e ainda maior do que outro dado estarrecedor no país: o de homicídios por armas de fogo , mais de 44 mil pessoas mortas em 2014 (segundo dados do Mapa da Violência 2016).
O cigarro no Brasil ainda é muito barato. Um maço tem o preço médio de R$ 7,00. A arrecadação de impostos com a venda de cigarros é de R$ 12, 9 bilhões, contra um gasto de R$ 56,9 bilhões em saúde pública apenas com pacientes de doenças decorrentes do tabagismo. Faça as contas e veja o saldo negativo.
O custo dessa história tem de ser dividido com aqueles que mais lucram com a distribuição de um dos produtos mais condenáveis do mundo. Assim como sua prima-irmã, a indústria de armas, o setor tabagista é um dos mais lucrativos no mundo. De acordo com números publicados no jornal inglês The Guardian, as cinco empresas que dominam o mercado global de comércio de tabaco (com exclusão dos dados da China, onde o mercado é monopolizado pelo estado) – Philip Morris (PMI), British American Tobacco, Japan Tobacco, Imperial Brands e Altria – acumularam vendas combinadas de US$ 150 bilhões em 2016. Os lucros das cinco alcançaram US$ 35 bilhões. Não é à toa que os filmes que falam de uma (armas) acertam a outra (cigarros).
Em 2006, sorri amarelo e me identifiquei totalmente com o filme “Obrigado por fumar”. Eu já era mãe e trabalhava como assessora de imprensa desse setor, como o protagonista na tela. Cultivava uma vergonha latente da minha própria hipocrisia (e um instinto de sobrevivência no trabalho), que ficou calada comigo até agora, quando o silêncio do meu pai falou mais alto do que a minha preocupação em manter boas relações com um ex-cliente.
Não é porque uma indústria é lícita que então está tudo legal. Não está. É preciso ser uma indústria responsável, se é que é possível. Não existem meias palavras para justificar um produto que até a última tragada faz muito mais do que promete. O cigarro mata.
Em outro filme, O Júri, baseado num livro de John Grisham sobre a indústria de cigarros e roteirizado para o cinema como indústria de armas (olhe aí os dois juntos de novo), o advogado honesto diz: “Vamos fazer do problema da violência armada um problema da indústria de armas”. Pois é isso. Vamos fazer desse problema de saúde pública um problema de responsabilidade da indústria tabagista.
Simone Barreto
Jornalista e mineira de Juiz de Fora.
É MENTIRA, esses ativistas antitabaco são charlatães, nada mais que isso, simples charlatães. Quem faz muito charlatanismo com dados do cigarro, são ativistas antitabaco cariocas, e uma ONg antitabaco, também carioca. Vamos a prova de que esses antitabagistas são enormes de uns charlatâes? 1) perito médicos para a justiça declararam….1) cigarro é um simples e mero fator de risco, jamais causa unica e necessária para doenças, 2) não foram encontradas causualidades entre fumar e câncer, portanto, só isso prova o charlatanismo. 2)câncer de pulmão é o que mais mata não fumantes, e pior aumenta a niveis galopantes em NÂO FUMANTES, sempre mentiram que 90% era em fumantes, mais uma prova do charlatanismo. 3) Mentira que morrem 200 mil fumantes, basta acessar o DATASUS, que é o banco de dados, onde médicos de todo o Brasil, por formulário informam as causas mortis, e está la bem claro, morrem apenas 925 fumantes, ao ano no Brasil, pois de 2006 a 2010, foram a óbito 4625 fumantes, o alcool, esse sim é mortal, 90% dos óbito é pelo alcool, o que só prova que antitabagistas são charlatães mesmo. 4) o pulmão de não fumantes no Brasil, é totlamente preto e podre, fumaça do diesel, são milhoes de brasileiros morrendo cada ano, inclsive jovens, pela fumaça do diesel, fonte globoNews cidades e soluções, 18.01.2016, o que só prova que antitabagistas são charlatães, e o que meno interessa é saúde. Querem mais provas do charlatanismo de ativistas antitabaco??
Concordo com você , sou fumante estou tentando parar de fumar, estou usando adesivos e remédios antidepressivos e não está.e ajudando em nada essa é a verdade, até parece que é só o cigarro que desenvolve o câncer nas pessoas que fumam , como explicar o câncer em alguém que nunca fumou ? Bando de mentirosos e hipócritas isso sim
Morrem 156 mil fumantes, mas e cadê a idade? que eu saiba, é lógico que fumante um dia vai morrer, todo ser vivo morre. Afinal, aonde está a idade? vocês colocaram só o óbvio. Agradeço uma informação.
Perfeito. Não é uma livre escolha. Já parei 3 vezes. Adoraria não ser fumante. A última vez que parei, sentia tanta vontade de fumar, pensava nisso todo dia, o dia todo. Chegava do trabalho e só queria dormir para esquecer a vontade. Não sabia que seria tão difícil. Não sabia se isso passaria algum dia. Liguei para algumas pessoas, apenas para dizer isso, e todas me encorajaram a voltar a fumar, já que sentia muita vontade. Percebi que precisava de apoio. Apoio de verdade. Uma rede. E percebi que fica cada vez mais difícil largar. Das outras vezes que parei, não tinha sido tão difícil, acho que por isso mesmo voltei. Espero que eu consiga, antes de ter um treco.