Solidariedade: histórias do fundo ‘Estamos nessa juntos’, que combate os efeitos da Covid-19

Objetivo é ajudar 70 comunidades urbanas de baixa renda a enfrentar a pandemia

Por Telma Alvarenga | Conteúdo de marcaODS 10ODS 3 • Publicada em 4 de agosto de 2020 - 10:39 • Atualizada em 25 de agosto de 2020 - 09:58

Beneficiários do fundo ‘Estamos nessa juntos’: ajuda a 70 comunidades urbanas de baixa renda (Crédito: Arquivo pessoal)

A pandemia de Covid-19 avança pelo Brasil, provocando muito sofrimento e  impondo desafios enormes a toda a sociedade mas, principalmente, às comunidades mais vulneráveis. “Quando pensamos nos impactos de uma crise como essa, não podemos tirar da conversa a questão da desigualdade social, ainda mais em um país como o nosso, em que ela é gigante e estrutural”, diz Daniela Redondo, diretora-executiva do Instituto Coca-Cola Brasil (ICCB). Para ajudar as 70 comunidades urbanas de baixa renda onde atua a enfrentar este momento tão difícil, o ICCB criou, em parceria com a Coca-Cola Brasil, o fundo “Estamos nessa juntos”.

A partir de conversas com ONGs parceiras, o ICCB definiu três frentes de atuação: sensibilização e conscientização, com a propagação de informações sobre a doença e sobre formas de prevenção; proteção à saúde, com distribuição de máscaras e de kits de higiene e limpeza; e alimentação, com doação de cestas básicas. As ações vão impactar 2,8 milhões de pessoas. “Boa parte delas estava desempregada ou fazia parte do mercado informal. Então, o impacto da pandemia foi gigantesco”, observa Daniela.

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Quando pensamos nos impactos de uma crise como essa, não podemos tirar da conversa a questão da desigualdade social, ainda mais em um país como o nosso, em que ela é gigante e estrutural

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Cada organização decide como alocar os investimentos, de acordo com as necessidades de cada comunidade. Desde que as ações começaram, multiplicam-se pelo país exemplos de união, força e superação. A seguir, contamos algumas dessas histórias de beneficiados pelo fundo. Elas mostram que solidariedade gera solidariedade, e que a mobilização é uma das armas mais poderosas na luta contra esse inimigo invisível.

Gyselle Faustino recebe cesta básica
Aluna do Coletivo Jovem, Gyselle Faustino recebeu cesta básica. Ela é moradora de Caucaia, na região metropolitana de Fortaleza (Crédito: Arquivo pessoal)

Cesta que se transforma em solidariedade

Aluna do Coletivo Jovem, programa de empregabilidade de jovens do Instituto Coca-Cola Brasil, Gyselle Paulo Faustino, de 18 anos, recebeu com alegria os alimentos da cesta básica, já que, em casa, o dinheiro para as compras tem sido contado centavo a centavo. Mesmo com as adversidades, ela tem pensado se seria possível compartilhar a solidariedade: “Estou pensando em formas de ajudar outras pessoas, que estão passando por dificuldades, como os moradores de rua, por exemplo. Quem sabe não consigo colaborar de algum jeito?”, pondera a moradora do Conjunto São Miguel, em Caucaia, na região metropolitana de Fortaleza. Gyselle mora com a mãe, auxiliar de serviços gerais de uma empresa, que teve a carga horária reduzida por causa da pandemia, mas continua empregada.

Gyselle é aluna da unidade do Coletivo Jovem que funciona no Espaço Esperança, ONG parceira do ICCB há mais de dez anos, localizada em Autran Nunes, comunidade vizinha à em que ela mora. As aulas estão suspensas por causa da pandemia. Com a verba da iniciativa, a ONG está promovendo ações que impactam outras duas comunidades. “Colocamos um carro de som, cinco horas por dia, durante uma semana, percorrendo as ruas com maior circulação de pessoas. Estimamos que conseguimos sensibilizar cerca de 63 mil pessoas, que representam 60% da população dessas quatro comunidades”, diz Francisca Geracina Ferreira Viana, a Gera, diretora do Espaço Esperança. Também foram distribuídos 510 kits de higiene e limpeza e 406 cestas básicas.

Costureira Sirlei de Paula ajuda na confecção de máscaras
Em Sorocaba, a costureira Sirlei de Paula, moradora do Jardim Casa Branca, ajuda na confecção de máscaras (Crédito: Arquivo pessoal)

Máscaras que protegem e geram renda

Na sede da Associação Beneficente Antônio José Guarda, parceira do ICCB em Sorocaba, interior de São Paulo, quatro costureiras confeccionam oito mil máscaras de tecido, que estão sendo distribuídas entre a população mais vulnerável. Uma das voluntárias é a dona de casa Sirlei Veiga de Paula, de 50 anos, moradora do Jardim Casa Branca. Ela fazia aulas de ginástica na ONG, que está com os cursos suspensos, e foi convidada a reforçar o time de combate ao coronavírus. “Sempre gostei de costurar, e quando me chamaram para ajudar a combater a epidemia da Covid-19, fui com eles. É muito bom poder estar sendo útil, em vez de ficar em casa, sem fazer nada”.

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O projeto alia prevenção e geração de renda. As costureiras recebem uma ajuda de custo de 40 centavos por máscara. “Essa ajuda é muito bem-vinda”, diz Sirlei. “Meu marido é pedreiro e está praticamente parado, quase não aparece trabalho. Então, esse dinheiro está nos ajudando muito”.

As costureiras trabalham na oficina de corte e costura da associação, das 8h às 17h, e também recebem o almoço e um lanche, à tarde. “As máscaras estão sendo distribuídas em uma embalagem de plástico, com um folheto, explicando, passo a passo, como higienizá-las”, garante Antonio Celso do Amaral Silva, presidente da Antônio José Guarda. Com a verba do fundo “Estamos nessa juntos”, a associação também está adotando outras medidas de conscientização e prevenção, como a colagem de 50 cartazes e a distribuição de cinco mil frascos de detergente. Além disso, um carro de som rodou 53 bairros da Zona Norte da cidade, durante 40 horas, dando informações sobre a pandemia e sobre formas de combater o coronavírus. “É uma região extremamente carente e vulnerável”, afirma Antonio Celso.

Educador Maykson orienta Millene Silva, mãe de um dos alunos do Coletivo Jovem, Fadson
Na comunidade de Coelhos, no Recife, educador Maykson orienta Millene Silva, de 40 anos, mãe de um dos alunos do Coletivo Jovem, Fadson (Crédito: Arquivo pessoal)

A informação chega de bicicleta

Uma bicicleta com som percorre os becos e vielas mais estreitas da comunidade de Coelhos, no Recife, onde carros não conseguem entrar, levando informações sobre a pandemia e dicas de prevenção contra o coronavírus. Para alertar a população, também são colados cartazes em pontos de maior circulação de pessoas, como vendas e mercadinhos. Júlia Zidanes, gestora operacional da Pró-Criança, parceira do ICCB, já percebe que essas ações têm surtido efeito. “A maioria das pessoas está usando máscaras”, diz. “Mas a gente ainda vê muita gente nas ruas”, lamenta. “As casas são pequenas, não têm muita ventilação, as pessoas vão para a porta… É difícil”.

Além das ações de prevenção, já começaram a ser distribuídas cestas básicas, com uma bandeja de ovos (30 unidades), feijão (2kg), arroz (2kg), açúcar (2kg), fubá (2kg), farinha (1kg), sal (1kg), óleo (1 garrafa), além de um pacote de macarrão, café, leite e bolacha. As cestas são acompanhadas de kits de limpeza (detergente, sabão em barra e água sanitária). “São produtos que, muitas vezes, as pessoas não têm no dia-a-dia. Algumas moram em palafitas, sem água encanada”, acrescenta Júlia.

Até a semana que vem, serão doadas 450 cestas e 450 kits, só com a verba do fundo. “Nossa equipe fez um levantamento das famílias com maior vulnerabilidade social, entre as cadastradas na ONG”.

Uma das beneficiadas é Millene Cristine Freitas de Farias Silva, de 40 anos, mãe de um dos alunos do Coletivo Jovem de Coelhos. Manicure, ela atendia nas casas das clientes, e se viu sem trabalho, por causa da necessidade de distanciamento social. “Estou perdendo clientes. As pessoas estão com medo e eu também”, conta. “Essa cesta básica apareceu em ótima hora, sou muito agradecida, porque a situação está muito difícil”, relata ela, que mora com três filhos, entre 13 e 22 anos, e um neto, de dois anos.

Diego Barros prega cartazes criados pelo Instituto Coca-Cola Brasil com dicas para evitar a propagação do coronavírus
Diego Barros prega cartazes criados pelo Instituto Coca-Cola Brasil com dicas para evitar a propagação do coronavírus na comunidade Capadócia, em Brasilândia, zona norte de São Paulo (Crédito: Arquivo pessoal)

Brasilândia unida contra o inimigo invisível

Vestido com uma capa de TNT e usando protetor facial, Diego de Melo Barros, de 33 anos, percorre as vielas estreitas da Capadócia, com chão de barro e saneamento básico precário, pregando cartazes criados pelo Instituto Coca-Cola Brasil com dicas para evitar a propagação do novo coronavírus. “Colamos mais de 300 na favela quase inteira”, diz Diego, presidente da associação Grande Vitória Capadócia. Naquela, que uma das comunidades mais pobres de Brasilândia, distrito na zona norte da capital paulista, vivem cerca de 1.500 famílias, em condições precárias.

Diego mora ali há nove anos, onde é dono de uma venda e criou um projeto social para ajudar os moradores mais necessitados. Sua associação faz parte de uma  rede formada pela ONG Mensageiros da Esperança, parceira do ICCB em Brasilândia, para propagar as ações contra o coronavírus na região, com verba do fundo. “Apoiamos mais de 21 instituições de pequenas comunidades do distrito, que é dividido em 41 bairros”, explica Verônica Machado, fundadora da Mensageiros da Esperança.

Entre as ações, ela enumera: distribuição de 4.500 cartazes; entrega de 325 kits de limpeza e 350 cestas básicas; e um carro de som que percorreu o distrito durante cinco semanas, duas vezes por semana, três horas por dia. Sessenta das cestas básicas foram para a Capadócia, ofertadas a pessoas mais vulneráveis, como idosos, pessoas com doenças graves, como câncer, e moradores de rua. “Também recebemos 100 kits de limpeza para distribuir”, conta Diego. A luta contra o inimigo invisível continua, com reforço na informação. Ainda com verba do fundo “Estamos nessa juntos”, estão previstas, até junho, mais duas semanas de carro de som percorrendo a Brasilândia e a distribuição de mais dois mil cartazes, com dicas de prevenção e um apelo: “Vamos cuidar uns dos outros”.

Conteúdo publicado originalmente no site da Coca-Cola Brasil.

Telma Alvarenga

Jornalista formada pela PUC-Rio. Tem passagens pela revista Veja, Veja Rio, Jornal do Brasil, O Globo, Correio (BA) e Projeto #Colabora, desempenhando funções de editora, colunista e repórter. Professora no curso de Comunicação Social da Faculdade Social da Bahia em 2010, está finalizando seu mestrado no Programa de Pós-graduação em Literatura, Cultura e Contemporaneidade da PUC-Rio

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