A encantadora de bebês

Ex-babá viaja o Brasil todo ajudando pais desesperados

Por Laura Antunes | ODS 3 • Publicada em 6 de novembro de 2016 - 10:00 • Atualizada em 6 de novembro de 2016 - 13:08

Alguns a chamam de mágica; outros, de feiticeira. Lúcia exerce uma função nova e ainda desconhecida no Brasil. Foto de Divulgação
Alguns a chamam de mágica; outros, de feiticeira. Lúcia exerce uma função nova e ainda desconhecida no Brasil. Foto de Divulgação
Alguns a chamam de mágica; outros, de feiticeira. Lúcia exerce uma função nova e ainda desconhecida no Brasil. Foto de Divulgação

São nove meses de expectativa e, enfim, ele está em casa. Tão lindinho… Mas, em pouco tempo, o caos se estabelece: ele não para de chorar, não tem hora para mamar, passa as noites em claro e tira apenas uns cochilos de dia. Se recusa a sair do colo e se irrita ao ir para o berço. As semanas avançam, mas o estresse só aumenta. Sua Alteza, o bebê, reina absoluto! Alguns ainda criam o mau hábito de querer a cama dos pais. E quando a situação chega ao limite máximo do desespero e a mãe, exausta e deprimida, está prestes a surtar, é a hora de entrar em ação a toda poderosa “Encantadora de Bebês”, que atende pelo singelo nome de Lucia Wanderley. Uma carioca, de 51 anos, que virou a luz no fim do túnel para casais dos quatro cantos do país que não sabem o que fazer para botar nos eixos seus rebentos recém-chegados ao mundo.

[g1_quote author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”solid” template=”01″]

A tarefa de Lúcia é ir ao socorro de pais que pagam por uma visita à casa que, em geral, se estende por quase dois dias e não custa menos de R$ 1,8 mil. A julgar pelos relatos postados pelos clientes no site da Encantadora, ela consegue o impossível: acalmar o bebê.

[/g1_quote]

O título foi concedido pelas dezenas de casais que já contrataram seus serviços. Alguns a chamam de mágica; outros, de feiticeira. Lúcia exerce uma função nova e ainda desconhecida no Brasil. Segundo famílias que já passaram por apertos com suas crianças cheias de “personalidade”, daria para contar nos dedos de apenas uma das mãos quantas são as profissionais do gênero por aqui. Lúcia, pelo jeito, é a mais conhecida e requisitada. E para quem não tem como contratar uma assessoria ao vivo, outra opção é recorrer ao livro assinado por uma famosa especialista britânica, no qual ela ensina técnicas de “encantamento”.

Gostando do conteúdo? Nossas notícias também podem chegar no seu e-mail.

Veja o que já enviamos

A tarefa de Lúcia é ir ao socorro de pais que pagam por uma visita à casa que, em geral, se estende por quase dois dias e não custa menos de R$ 1,8 mil. A julgar pelos relatos postados pelos clientes no site da Encantadora, ela consegue o impossível: acalmar o bebê. Mas a profissional garante que não há qualquer mágica no que faz. Apenas apresenta aos pequenos uma rotina que, até então, desconheciam. Lúcia trabalha com recém-nascidos e bebês de até 18 meses, mas pode abrir exceção e atender crianças maiores, como ocorreu, recentemente com a filha dos atores Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso. Eles precisaram de ajuda em relação à alimentação e para desfraldar a menina. O casal famoso aparece sorridente numa foto no site de Lúcia. Sinal de que aprovaram as técnicas da profissional.

Do alto da experiência de três décadas como babá, a Encantadora reserva horário, semanalmente, para atender duas famílias. Embora a lista de espera seja grande, Lúcia conta não conseguir abrir mais espaço na agenda porque, embora more no Rio, a maioria da clientela está em São Paulo e outras grandes cidades, como Brasília, Curitiba, Belo Horizonte e Florianópolis, por exemplo. Ela afirma já ter prestado consultoria para bebês na França, nos Estados Unidos e na Inglaterra (onde fez curso com a encantadora britânica). Então, as viagens de avião fazem parte da rotina de trabalho.

Os atores Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso contrataram Lúcia para ajudar a filha que tinha problemas com alimentação. Foto do Álbum de família
Os atores Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso contrataram Lúcia para ajudar a filha que tinha problemas com alimentação. Foto do Álbum de família

Mas o que Lúcia faz exatamente? Ela passa dois dias (e uma noite) com a família em apuros. Nesse período, a Encantadora conversa com a mãe do bebê, acompanha a rotina da casa e, claro, interage com a criança.

“Normalmente, chego à casa e ouço queixas de que o bebê não dorme, chora sem parar, não larga o peito, não vai para o berço… Eu sei que o problema nunca está com o bebê e, sim, com os pais. Por isso, começo meu trabalho conversando com a mãe, que está muito fragilizada, porque bebê não sai da maternidade com manual”, conta Lúcia.

De acordo com a Encantadora, não raro, as mães choram e desabafam porque não sabem o que fazer.

“Elas dizem que, além de encantadora, sou psicóloga e pediatra. Na hora de me despedir, muitas não querem que eu vá embora, porque em uma noite eu consigo o que desejavam há tanto tempo”, brinca a ex-babá, contando que, certa vez, foi chamada à uma casa com gêmeas, de 11 meses, que acordavam 12 vezes durante as madrugadas. A mãe entrara em desespero.

Não há mágica na solução do problema, reafirma Lúcia:

“A criança, simplesmente, não tem rotina. Eu boto o bebê no berço e muitas mãee me dizem: ‘mas ele está chorando!’. Ao que respondo: ‘criança chora’. Na verdade, ele tem que aprender a ter rotina e eu estou ensinando.”

Com essa rotina introduzida em casa há poucas semanas, a monitora escolar Sara Mendes da Silva tem hoje Deus no céu e Lúcia na terra. A carioca recorreu à Encantadora para ajudá-la com o filho, Théo, de 7 meses, que não dormia e mamava quando tinha vontade, de dia e de madrugada… Sara estava à beira do esgotamento físico e mental, além de não conseguir dar mais atenção à primogênita, de 8 anos.

“Meu filho, até os 6 meses, não tinha horários para dormir ou mamar. E eu já estava ficando maluca porque não conseguia fazer mais nada. A Lúcia chegou e estabeleceu uma rotina. Nada mais de horários malucos. Agora, ele acorda 8h e, durante o dia, tem horários estabelecidos para alimentação e cochilos. Nossa vida é outra e voltei a ter tempo para a minha filha mais velha. Sou muito grata ao que a Lúcia fez por nós” – elogia Sara.

Segundo Lúcia, uma situação comum é encontrar crianças que choram porque estão com fome. Nada a ver com manha.

“A amamentação é necessária, mas não pode ser uma escravização. Muitas vezes, a mãe recorre ao pediatra dizendo que o bebê mama o tempo todo, mas não para de chorar. A orientação que ela recebe é insistir no peito. Só que o leite materno pode não ser suficiente e a criança chora, na verdade, de fome. E a mãe não sabe disso”, acrescenta.

Foi o que Lúcia “diagnosticou”, de imediato, ao chegar, recentemente, à casa da empresária Poliana Moraes Monteiro, mãe de Mathias, de 4 meses. A família vive em São Paulo. A mãe do bebê derrama elogios ao se referir à Encantadora, que contratou porque o menino mamava e chorava sem parar.

“Mais do que o cansaço que tomava conta de mim, eu estava muito preocupada com o meu filho, que não dormia de dia nem à noite. Eu li um livro de uma Encantadora de bebês britânica e tentei sozinha aplicar o método. Não consegui. Então, recorri à Lúcia, que chegou aqui em casa e já pediu que eu tirasse o leite na bomba elétrica para saber o quanto eu produzia. Descobri que era bem pouco. Eu queria dar, exclusivamente, leite materno até os 6 meses dele, mas acabei tendo que entrar com complemento e tomar remédio para aumentar a minha produção. Sempre ouvi falar que o leite materno era suficiente para os nossos filhos e, por isso, ficava irritada quando as pessoas me diziam que o problema do Mathias podia ser fome. Mas vi com os meus próprios olhos: era”, relembra Poliana.

Hoje, mãe e filho encontraram uma rotina.

“Entramos com a mamadeira e Mathias passou a dormir como um anjo. Nos primeiros dias, ele chorou um pouco, pois estava acostumado a dormir no peito e no colo. Às vezes, até na minha cama. Agora, fica no quarto dele e no berço. Ele nem chora mais. Dorme sozinho, super-rápido. A ajuda da Lúcia foi fundamental. Hoje, meu filho é outro bebê. Dá mais risadas e está mais gordinho. Ele tem rotina”, conta, aliviada, a mãe, que escreveu, numa rede social, um longo e agradecido relato sobre a Encantadora.

Do alto da experiência de três décadas como babá, a Encantadora reserva horário, semanalmente, para atender apenas duas famílias. Divulgação
Do alto da experiência de três décadas como babá, a Encantadora reserva horário, semanalmente, para atender apenas duas famílias. Divulgação

Mas alguma vez Lúcia falhou? Ela admite que sim. Duas vezes porque, segundo ela, as mães resistiram à disciplina. Num dos casos, a Encantadora alega ter se arrependido de aceitar a missão. E confessa: costuma declinar do serviço se a mãe da criança for psicóloga.

“A criança precisa de rotina. Se a mãe resiste, discorda e prefere recorrer a teses de psicologia, eu prefiro não ir. Um dos casos no qual não tive sucesso foi o de uma menina, de 4 anos, que não tinha qualquer rotina. Quando cheguei na casa, descobri, por exemplo, que ela ainda usava fralda, o que dava uma ideia do posicionamento dos pais em relação à criança. Se soubesse desse detalhe, nem teria ido, pois saberia que haveria resistência”, afirma.

Dona de um site (encantadoradebebes.com.br) repleto de fotos de bebês e pais sorridentes (que deixam relatos elogiosos), Lúcia está com a agenda lotada. Os preços das consultorias não incluem as passagens aéreas. Atualmente, ela também oferece cursos de treinamento para babás, gestantes e de preparo de alimentação, além de prestar assessoria às mães por vídeo conferência também.

Por mais que cresça a demanda de clientes, os fins de semana são de descanso para a Encantadora, criada em orfanato e que viveu parte da adolescência nas ruas. Aos 16 anos, Lúcia foi morar com uma família para trabalhar como babá. Por três décadas, nunca mais mudou de profissão e fez cursos de especialização e enfermagem. Com tanta experiência, decidiu partir para as assessorias. Ela tem quatro filhos (o primeiro, uma gravidez na adolescência, entregou para adoção). O mais novo, de 13 anos, ela adotou quando era bebê. Agora, Lúcia diz planejar adotar, em breve, mais três. E se prepara para ser avó.

“Se precisar, eu dou assessoria para meu filho e minha nora”, brinca.

Laura Antunes

Depois de duas décadas dedicadas à cobertura da vida cotidiana do Rio de Janeiro, a jornalista Laura Antunes não esconde sua preferência pelos temas de comportamento e mobilidade urbana. Ela circula pela cidade sempre com o olhar atento em busca de curiosidades, novas tendências e personagens interessantes. Laura é formada pela UFRJ.

Newsletter do #Colabora

A ansiedade climática e a busca por informação te fizeram chegar até aqui? Receba nossa newsletter e siga por dentro de tudo sobre sustentabilidade e direitos humanos. É de graça.

15 comentários “A encantadora de bebês

    • Natália disse:

      Triste porque?? Eu fui mãe super nova e se não tivesse tido clareza suficiente (que eu não sei de onde veio, provavelmente de minha mãe) para cria-lo estabelecendo rotinas eu jamais teria sido capaz de retornar aos estudos e me formar. Mais ainda, eu adoro bebês e crianças e seria extremamente feliz trabalhando igual a ela. Duas vezes por mês penso em largar tudo e virar babá. Crianças são mais simples do que parecem.

  1. Flavia disse:

    Essa matéria é um desserviço completo! Uma ex babá não tem competência para diagnosticar baixa produção de leite, muito menos prescrever complemento. Para isso existem consultoras de aleitamento e pediatras, que estudam bastante pra isso.
    Sem contar outros absurdos ao tratar bebês como se fossem máquinas que só precisam estar alimentados e limpos. Bebês choram também porque precisam de afeto e acolhimento. Rotina é bom? Sim, mas bom senso e cuidado mais ainda.

  2. Alba disse:

    Deprimente saber que as pessoas acreditam nesse tipo de tratamento para um bebê! espero que essas crianças não sofram os danos de uma educação prematura e castradora, já que bebês choram não apenas por fome, e necessitam de contato e calor humano! Bebês tem sentimentos e quando se deixa um bebê chorando no berço pra ele aprender que ali é seu lugar, a única coisa que ele aprende é que não pode contar com aqueles que deveriam lhe dar acolhida!
    E essa matéria presta um desserviço a todos quando compactua com afirmativas como a de que o leite materno não seria capaz de sustentar o bebê ou que é algo fora do normal acordar 12 vezes pra mamar…

  3. Roberta disse:

    Que PÉSSIMO!!! Vai na contramão de tudo o que é bom para os bebês! Bebês precisam de peito, de colo, de mãe, de carinho!! Essa senhora é a favor do desmame precoce, prega o mito do leite materno “fraco”, acha normal deixar um bebê chorando, acha que bebês fazem manha…chegou ao CÚMULO de dizer que bombinha mede quanto leite a mãe tem!! Só propaga mitos inexistentes!! Que absurdo, ela presta um desserviço à humanidade! Rezando muito por esses bebês! E o pior é que muitas mães, fragilizadas, acreditam nessas bobagens!

  4. Bruna disse:

    Além de triste, é um absurdo! Para a comodidade dos pais, bebês são deixados de suprir suas necessidades quando estão no peito ( pq eles não só mamam pq tem fome: podem estar inseguros e no peito encontram a calma que precisam). Leite materno não é fraco. Esse é apenas um dos pontos! Muita luz para os próximos pais! Informação é tudo!

  5. Luciana Silva disse:

    As pessoas que falaram mal não entendem o seguinte.
    Cada método de qualquer coisa na vida, como dietas, políticas etc, é individual e funciona de um jeito para cada um.
    Você não concordar, não gostar, desaprovar, tem seu direito, mas dizer que “não funciona” que é um “desserviço” etc, chega à ser engraçado de tal idiota.
    Sou mãe de dois, diferença de 6 anos entre os dois que hoje estão com 22/16. E gostaria de ter tido uma ajuda personalizada.
    É isso que ela faz.
    PERSONALIZA O CUIDADO PARA AQUELE CASAL, PARA AQUELE BEBÊ, como ela falou, nem sempre dá certo, mas ela dá o melhor dela.
    Eu amamentei até os 9 meses minha filha, já o Pedro somente 1 mês e 30 dias por conta de íngua, e dei “sangue ” para ele beber por conta das feridas e eu não desistia de amamentar. Fiquei internada, bla bla bla….a gente quer ajuda sim, precisa de ajuda sim, mas especializada.
    Crime seria a mãe ler algo na internet que funciona para muitas mães e aplicar no seu bebê sem ajuda.
    Menos mimimi, menos bla bla bla e mais ajuda, cuidar de um bebê realmente não é fácil e sabemos.
    Mas desmerecer o cuidado dessa mulher também é um absurdo.
    Não concorda? Não faça…
    Continue tratando seus filhos como “SEMI DEUSES” que nunca serão.
    E quando eles estiverem chorando por um emprego e machucando coleguinhas na escola com SEU AVAL, tente explicar por que o mundo gira SOMENTE EM TORNO DELE, na cadeira pública, Fundação Casa….vai lá queridinha, tenta a sorte.

  6. Catarina disse:

    Que horror! Deixar chorar bebês tão pequenos em nome da rotina é desumano. Bebê que mama no peito e ainda tem fome é porque certeza está usando chupeta, mamadeira ou bico de silicone.

  7. Thais disse:

    Lamentável um projeto que se diz no slogan por um mundo mais tolerante e generoso publicar um artigo desses. Pessoal do Projeto Colabora, estejam atentos para o tipo de material que publicam no site.

  8. bruna disse:

    “São nove meses de expectativa e, enfim, ele está em casa. Tão lindinho… Mas, em pouco tempo, o caos se estabelece: ele não para de chorar, não tem hora para mamar, passa as noites em claro e tira apenas uns cochilos de dia. Se recusa a sair do colo e se irrita ao ir para o berço. As semanas avançam, mas o estresse só aumenta. Sua Alteza, o bebê, reina absoluto! Alguns ainda criam o mau hábito de querer a cama dos pais.”
    Vontade de VOMITAR na cara de quem escreveu essa m*. Não quer trabalho? Compra uma boneca!

  9. Raphaela disse:

    Gente chata! Se você não quer, simplesmente não contrate, não precisa desmerecer o trabalho alheio. Em nenhum momento a matéria ou ela diz que substitui os pais. Eles são e sempre serão fundamentais para qualquer filho. Mas só quem está esgotada sabe quão precioso é uma ajuda, um olhar de fora para ajudar a colocar tudo nos eixos. Nem todos ainda tem mãe, pai ou irmãos para ajudar a criar uma rotina própria com o bebê, o que claramente não é ruim. Ninguém vai deixar de dar carinho ou se atentar às necessidades da criança, mas esse serviço é uma ajuda a pais e bebês acharem um caminho próprio. Entendo a posição de alguns, e concordo, a babá não substitui o médico, psicólogo, muito menos os pais, mas também é muita ignorância não dar mérito ao conhecimento prático da vida. Nossos bisavós e avós criaram nosso avós e pais, muitas vezes, nessa base e, certamente era uma geração de adultos melhor que a de hoje, cheia de gente chata, intolerante, maldosa e imatura. Parabéns pela matéria! Interessante, curiosa e colaborativa.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *