ODS 1
Diário da Covid-19: líderes em casos e mortes espalham incerteza pelo mundo
Diretor da OMS avisa que, sem coordenação entre países (e dentro deles), pandemia vai piorar e se prolongar; Brasil caminha para o Maracanã de cadáveres
Metade dos seis países mais populosos da Terra atravessa a pandemia de maneira descontrolada, com a doença ainda ascendente – e o mundo inteiro paga a conta, para mostrar que o calvário está muito longe do fim. Puxada por Estados Unidos, Brasil e Índia (nesta ordem), a covid-19 bateu novo recorde no número de casos num período de 24 horas, passando das 230 mil ocorrências neste domingo. A marca anterior, 228 mil, fora aferida dois dias antes, na sexta-feira (10). Há muito em comum no trio de líderes do ranking trágico.
Assim, Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial de Saúde OMS), anunciou, em pronuciamento dramático, que falta muito até a humanidade poder respirar aliviada. E o único remédio eficaz é a conscientização global. “Se as medidas básicas não forem seguidas, a única direção que essa pandemia pode seguir é piorar, piorar e piorar”, enfatizou, referindo-se, obviamente, ao isolamento social e à coordenação entre os países e dentro deles.
O etíope mira, no seu clamor, em duas regiões: as Américas e o Sudeste Asiático, endereço da maior quantidade dos casos que formam o recorde. “Deixe-me ser direto: muitos países estão na direção errada. O vírus permanece como inimigo público número 1, mas a ação de muitas pessoas e governos não reflete isso”, apontou ele, numa crítica direta a negacionistas como Donald Trump, Jair Bolsonaro e Narendra Modi, o primeiro-ministro da Índia. “Não tem atalhos nessa pandemia. Todos queremos uma vacina, mas precisamos usar as ferramentas que temos”, acrescentou, falando, claro dos princípios básicos, aqueles que nunca será demais repetir: distanciamento social, higienização constante das mãos, uso de máscara, etiqueta respiratória e permanência em casa.
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Veja o que já enviamosNa tragédia específica do Brasil, o capítulo atual mostra a heterogeneidade do contágio em seu território desigual. O país teve a segunda-feira com maior registro de mortes – 733 – desde 25 de maio. Chegará a 80 mil óbitos (pouco mais do que um Maracanã lotado de cadáveres) até o fim da semana, e a 2 milhões de casos antes de julho terminar.
Enquanto Rio e São Paulo aferem, respectivamente, queda e estabilização de doentes e mortes, o Sul e o Centro-Oeste sofrem com o crescimento nas duas medições. Na variação dos últimos 14 dias, o Paraná teve subida de 79%, Rio Grande do Sul de 72% e Santa Catarina de 42%; Mato Grosso do Sul de 114% (a pior do país), Distrito Federal de 82% e Goiás de 66%; Tocantins (67%), na Região Norte, e Minas Gerais (57%), na Sudeste, amargam os piores resultados. As quedas mais significativas estão no Acre, Amazonas, Amapá, Pará e Roraima, no Norte; no Rio Grande do Norte, no Nordeste; e no Rio de Janeiro.
Na terra carioca, o relaxamento das medidas de isolamento ressuscitou cenas como os engarrafamentos nas vias expressas. Segundo os cálculos do Cyberlabs, por volta de 13h desta segunda-feira, estava em 46%, com todos os bairros abaixo dos sonhados 60%. Na semana passada, ficou em 43%. Está, numa palavra, ruim.
O duro cenário brasileiro se alimenta da falta de coordenação nacional no combate à pandemia. Sem ministro da Saúde há quase dois meses, o país segue à deriva, com medidas aleatórias, de prefeitos e governadores. Além disso, testa pouco, tornando impossível entender o caminho do vírus. A pneumologista Margareth Dalcolmo, da Fiocruz, alertou, no Jornal das 10, da Globonews, para “o momento de muita preocupação, pela heterogeneidade como a pandemia se dissemina e pela interiorização”. A cientista lamentou ainda os problemas de logística que impedem a testagem. “Temos um luto insuperável, pelas milhares de mortes que não precisavam ter acontecido. Há milhões de testes estocados no Ministério da Saúde que não podem ser usados pela falta dos kits de extração. O trabalho de diagnóstico precoce e mesmo de identificação dos portadores da doença é fundamental. Era o momento de estarmos finalmente com uma coordenação centralizada, harmônica, em que não perdêssemos tanta energia com tratamentos inúteis e outras discussões desnecessárias”.
Nos EUA, incerteza da NBA ao Zoológico
Academia de ginástica em Redondo Beach, na Califórnia: fechamento diante do aumento de casos da covid-19. Foto de Frederic J. Brown (AFP)
Primeiro lugar no número de casos e mortes por covid-19, os Estados Unidos sofrem enquanto tentam reabrir as atividades, num quadro inquebrável de angústia e incerteza. Estado mais rico do país, a Califórnia encara o fracasso na flexibilização do isolamento, diante do aumento nas ocorrências da doença. O governador (democrata) Gavin Newsom, determinou nesta segunda-feira a proibição de refeições em restaurantes fechados e o fechamento de bares, igrejas, academias, salões de beleza e zoológicos nos condados mais atingidos, por causa dos 8 mil novos casos diários, registrados semana passada, o dobro dos números de um mês atrás. “Estamos voltando ao modo do nosso pedido original, de estadia em casa”, ordenou Newsom. “Esta continua a ser uma doença mortal”.
Do outro lado do país, a Flórida, um dos destinos amados pelos brasileiros, segue na reabertura das atividades, ignorando o crescimento de casos da Covid-19. Os parques temáticos da Disney foram liberados em capacidade reduzida, mesmo com o recorde nacional novas notificações em 24 horas – 15 mil – registrado no fim de semana.
Ainda na Flórida, em Orlando, a NBA, a bilionária liga de basquete, entra na reta final para retomar a temporada, paralisada em março. Os jogos recomeçam dia 30, mas nesta segunda-feira um dos astros do esporte, o armador Russel Westbrook, anunciou que testou positivo para a covid-19. “Estou me sentindo bem, em quarentena e ansioso para me juntar aos meus colegas de equipe quando for liberado. Obrigado a todos pelos votos de felicidades e apoio contínuo. Por favor, leve o vírus a sério. Fiquem a salvo. Usem máscaras”, publicou o jogador em seu perfil no Twitter.
No duro campeonato da covid-19, tem time precisando trocar de tática e de técnico.
Frase do dia 14 de julho de 2020
Liberdade, igualdade, fraternidade
Lema da Revolução Francesa, que teve na Queda da Bastilha, a 14 de julho de 1789, seu momento central. A frase se tornou o grito de ativistas pela democracia liberal ou constitucional e da derrubada de governos opressores.
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Niteroiense, Aydano é jornalista desde 1986. Especializou-se na cobertura de Cidade, em veículos como “Jornal do Brasil”, “O Dia”, “O Globo”, “Veja” e “Istoé”. Comentarista do canal SporTV. Conquistou o Prêmio Esso de Melhor Contribuição à Imprensa em 2012. Pesquisador de carnaval, é autor de “Maravilhosa e soberana – Histórias da Beija-Flor” e “Onze mulheres incríveis do carnaval carioca”, da coleção Cadernos de Samba (Verso Brasil). Escreveu o roteiro do documentário “Mulatas! Um tufão nos quadris”. E-mail: aydanoandre@gmail.com. Escrevam!