ODS 1
Receba as colunas de Júlia Pessôa no seu e-mail
Veja o que já enviamosFecho com Dona Ivone: não me comove o pranto de quem é ruim
Hei de comemorar cada lágrima rolada no penar da família Bolsonaro
Eu não sei de onde veio a ideia torta de que ser de esquerda, feminista e defender direitos humanos faz da gente automaticamente um saco de pancadas sempre preparado para o próximo golpe. Mesma coisa com os feminismos, sempre tem alguém para dizer, quando uma mulher feminista critica atitudes de outra mulher: “ué, mas cadê a sororidade”?
Existe uma concepção muito equivocada de que não querer que as pessoas sejam violadas em seus direitos fundamentais e sua integridade faz de nós, “a turma dos direitos humanos”, automaticamente um bando de otários. Como se tivéssemos que engolir toda sorte de violências a seco. Afinal, defendemos a liberdade e somos antipunitivistas, certo? Errado.
Leu essa? Seu Jair, é assim que todos os brasileiros deveriam ser tratados
Receba as colunas de Júlia Pessôa no seu e-mail
Veja o que já enviamos
É claro que só posso falar por mim. Embora eu realmente acredite que o sistema prisional não reabilite, e a sanha pela criminalização de tudo acabe se abatendo sobre as pessoas mais vulnerabilizadas, não consigo espantar o desejo de que criminosos hediondos sejam punidos por seus crimes. Punidos mesmo. Como castigo, que sofram pelo mal que infringiram. Claro que não defendo tortura física, psicológica ou qualquer tipo de agressão ou violação. Mas não consigo admitir que pessoas que causem o mal deliberadamente possam viver em paz.


Quando eu acordei no último sábado com a notícia de que Jair Bolsonaro estava em prisão preventiva, meu primeiro impulso foi correr para os portais de notícias. Para poder acreditar que, finalmente, depois de anos zombando das instituições, debochando da vida das pessoas e brincando com a própria tornozeleira eletrônica como quem manuseia sucata de ferro-velho, aquele homem mambembe em tudo, tinha, enfim, encontrado a primeira parede concreta da Justiça brasileira que não fosse de sua casa.
E aqui eu falo de Justiça no sentido mais amplo da palavra: não apenas as decisões de Moraes, ou o desespero da madrugada em que a Polícia Federal foi acionada porque o condenado, no auge do seu voluntarismo infantil, resolveu passar um ferro de solda na tornozeleira “por curiosidade”. Seu voluntarismo burro, vale lembrar, sempre custou caro para os outros, nunca para si. Foi assim na pandemia, quando debochou, com aquele riso crepitante, da falta de ar de quem estava intubado; quando ridicularizou pessoas LGBTQIA+, mulheres, negros, indígenas; quando incitou milhares a atentarem contra a democracia brasileira, só para depois se acovardar, como de costume.
Eu hei de comemorar cada lágrima rolada no penar da família Bolsonaro. Porque não esqueço que, em plena pandemia vimos mais de 700 mil brasileiros morrerem ao som de gargalhadas, de imitações, de jargões de desprezo. Comemoro porque não esqueço que nossos mortos têm história, que nossas dores têm nome. Porque as vítimas de violência, de assédio, de racismo, de fome, de abandono, todas aquelas que foram ridicularizadas por esse clã, merecem um dia de respiro, enfim. Cobrado com juros, juro. “Apesar de você.”
E também porque nossa alegria, essa alegria, é política. É uma alegria que não pede desculpas. O que a gente sente diante da prisão de Bolsonaro e das lágrimas performadas por seus filhos não é sadismo, não é sede de punição, é só a sensação tão rara de que, por um breve momento, a estrutura que os protegeu vacilou. Que a democracia que eles tanto tentaram golpear triunfou. Que não somos otários só porque recusamos a barbárie.
E, principalmente, porque não ouso contrariar Dona Ivone Lara, que sintetiza o sentimento melhor do que ninguém, em samba: “não me comove o pranto de quem é ruim”.
Apoie o #Colabora
Queremos seguir apostando em grandes reportagens, mostrando o Brasil invisível, que se esconde atrás de suas mazelas. Contamos com você para seguir investindo em um jornalismo independente e de qualidade.















































