ODS 1
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Veja o que já enviamosEspírito de Natal contaminado pelo cheiro de pizza queimada do PL da Dosimetria
Colunista pede a Papai Noel que a vergonha na cara seja distribuída em Brasília; e também a Xangô que faça justiça com o fogo da verdade
Chegamos aos últimos dias de 2025 e, enquanto você decide a cor da roupa para a virada, o Congresso e o Senado em Brasília decidem a cor da impunidade. Não há espírito natalino que mascare o cheiro de pizza queimada que sai deste novo projeto de lei sobre a dosimetria. Uma manobra técnica, cínica, desenhada sob medida para diminuir penas, aliviar consciências e, na prática, anistiar golpistas que, não faz muito tempo, tentaram implodir a nossa democracia.
Para quem existe justiça neste país? A pergunta é retórica, mas a resposta é estatística.


Esse PL é a prova cabal de que, no Brasil, a régua que mede o crime é elástica, dependendo de quem está no banco dos réus. Se o crime é cometido por quem veste verde e amarelo para pedir intervenção militar, o Legislativo corre para criar um “cálculo suave”, um desconto na pena, um afago jurídico.
Leu essa? Milhares em atos de protesto contra PL da Dosimetria e outros retrocessos do Congresso
Agora, olhe para a base da pirâmide. Quem tem cor e classe social “menor” paga a tarifa cheia, com juros de humilhação. Para o jovem preto da periferia que furtou um celular ou foi pego com gramas de droga, não tem PL de revisão de pena. Para ele, a caneta do juiz pesa toneladas. Ele é jogado numa masmorra superlotada, sem direito a perdão, sem direito a futuro.
Enquanto discutem como salvar a pele de quem tramou contra o estado democrático, o Estado Policial continua operando a todo vapor nas favelas. É 2025, mas o Brasil vai terminar o ano sem fechar a porta da ditadura. Ela persiste no modo operacional da Polícia Militar, que não precisa de anistia porque já atua com carta branca. O pé na porta sem mandado, o esculacho na viela, a bala “perdida” que sempre acha um corpo negro… Para a favela, o golpe é diário e a pena é, muitas vezes, a capital.
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Veja o que já enviamosEu queria encerrar este ano com um texto leve, falando de esperança e renovação. Mas sigo cético. É difícil falar de renovação quando o poder público insiste em reciclar os entulhos do autoritarismo para proteger seus aliados.
Ainda assim, como a teimosia é a marca da nossa gente, escrevo minha carta ao “Bom Velhinho”, mas sei que o presente que peço não cabe no saco de brinquedos:
“Querido Papai Noel,
Neste Natal, o meu pedido é que a vergonha na cara seja distribuída em Brasília com a mesma fartura com que distribuem emendas. Que a justiça deixe de ser um privilégio de casta. Que a gente consiga ver um país onde roubar a liberdade de um povo seja punido com mais rigor do que roubar um pote de margarina”.
Se o velhinho do Norte não puder me atender neste Natal, que a justiça divina não falhe. Recorro a quem detém o machado de lâmina dupla, aquele que não aceita a mentira e não negocia com a injustiça. Que o equilíbrio seja restaurado, não pela caneta viciada dos homens, mas pelo fogo da verdade.
Kaô Kabecilê, meu pai Xangô.
Que venha 2026. A luta não para.
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