Só com autorização da delegacia de jogos e costumes era possível realizar cultos de candomblé na Bahia, sob pena de serem considerados ilegais e, portanto, alvo de repressão. Essa era a prática corriqueira até a década de 1960. De lá para cá, muita coisa mudou e a Constituição de 1988 garantiu a liberdade religiosa, mas… o racismo religioso persiste.
Dividida em 13 episódios, a série “Agbára Dúdú – Narrativas Negras” é uma imersão na cultura e religião afro-brasileira a partir da trajetória de grandes líderes e suas comunidades. Ambientada nos terreiros de candomblé da Bahia, a série aborda temas como identidade, negritude, racismo, intolerância, história, cultura, religiosidade e gênero.
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No Curta!, a série estreia dia 5 de maio, com novos episódios semanalmente. Agbára Dúdú também estará disponível no streaming CurtaOn. Cada um dos 13 episódios será protagonizado por um líder de diferentes terreiros da Bahia.
Nossa religião é boa. A gente come, a gente dança. No candomblé, você vai à praia, ao Carnaval, bebe, veste a roupa que quiser … é uma das religiões mais democráticas
“O preconceito em relação ao candomblé é muito mais forte por conta da história dos nossos ancestrais, que vieram para cá como escravo e ninguém quer isso na sua memória”, comenta Maria Lúcia Neves, neta de sangue da mãe Mirinha do Portão, uma importante candomblecista do Candomblé Banto da Bahia e fundadora do Terreiro São Jorge Filho da Goméia, no município baiano de Lauro de Freitas.
Ao assumir o terreiro, Mameto Kamurici, nome que adotou como mãe-de-santo, Maria Lúcia deu continuidade ao engajamento político em prol de sua comunidade, como fez Mirinha do Portão. No Candomblé Banto, mameto é o título utilizado quando um líder religioso assume o mais alto posto de um terreiro. “Ela ajuda os pobres, não exige só dinheiro, dá consulta, faz trabalho, faz obrigação das pessoas e não cobra”, conta Valdete Maria da Conceição, também filha-de-santo de mãe Mirinha do Portão.
O BanKoma, bloco afro do Carnaval de Salvador, por exemplo, surgiu de uma oficina de estética criada no terreiro. Essa iniciativa promoveu um “levante de autoestima” na comunidade, comenta Jander das Neves, Tata Kitaluango, que significa filho-de-santo de Mameto Kamurici e sobrinho de sangue de Maria Lúcia. O BanKoma costuma tocar cabula, que originou um dos ritmos mais brasileiros de todos: o samba.
À medida que a oficina de estética foi crescendo, o impacto na comunidade foi imediato. A resistência a usar penteados afro foi cedendo e as meninas passaram a se enfeitar com fios de conta — colar, de miçangas ou contas, usado em religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda, onde predomina as cores dos orixás, voduns ou divindades a que o usuário está ligado. .
“Nossa religião tem uma tradição oral, conseguimos preservar muita coisa dessa oralidade. Se tivesse sido escrito, talvez tivessem queimados nossos livros”, analisa Maria Lúcia, acrescentando sua visão contra o preconceito que ainda impera sobre o candomblé: “Nossa religião é boa. A gente come, a gente dança. No candomblé, você vai à praia, ao Carnaval, bebe, veste a roupa que quiser … é uma das religiões mais democráticas”.