Vegetação nativa aumentou em quase metade dos municípios na Mata Atlântica

MapBiomas aponta avanço após novo Código Florestal, de 2008; ainda assim, 60% dos municípios do bioma têm menos de 30% de vegetação nativa

Por #Colabora | ODS 15 • Publicada em 27 de novembro de 2024 - 11:00 • Atualizada em 27 de novembro de 2024 - 11:03

Exuberante vegetação de Mata Atlântica na Floresta Nacional da Tijuca, no Rio: quase metade dos municípios do bioma registraram aumento de vegetação nativa depois do Código Florestal (Foto: Tomaz Silva / Agência Brasil – 14/12/2022)

Uma análise sobre ganhos e perdas de vegetação nativa relacionado à data de aplicação do Código Florestal, em 2008, mostra que dentre todos os municípios presentes na Mata Atlântica, 45% apresentaram algum ganho entre 2008 e 2023. Por outro lado, 18% perderam área de vegetação nativa no mesmo período. Apesar disso, 60% dos municípios possuem menos de 30% de vegetação nativa e mais da metade (53%) dos municípios com mais de 50% de vegetação nativa tem alguma Unidade de Conservação dentro dos seus limites (sem considerar as APAs). É o que mostram os mais recentes dados do MapBiomas, obtidos a partir da Coleção 9 de mapas de cobertura e uso da terra no Brasil, que foram divulgados nesta-terça (26/11).

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Com apenas 31% de cobertura vegetal nativa, a Mata Atlântica é o bioma brasileiro que mais sofreu transformações nos últimos séculos. Embora 67% de sua área tenha uso antrópico, a perda de vegetação nativa entre 1985 e 2023 foi de 3,7 milhões de hectares, ou 10% do total. Nos últimos 39 anos, apenas três estados tiveram aumento na área de vegetação nativa: Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e São Paulo.

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Em relação ao desmatamento no bioma em 2023, um destaque importante é a redução de 49% da área desmatada quando comparado ao que foi desmatado no ano 2000. Essa perda acontece principalmente em áreas de formação florestal e mais da metade ocorreu em áreas de vegetação secundária, que são áreas que já foram desmatadas anteriormente e estavam em processo de regeneração. Nas áreas naturais, a floresta foi o tipo de cobertura com maior queda entre 1985 e 2023: 2,7 milhões de hectares a menos. Essa classe, que inclui áreas de formação florestal, formação savânica, mangue e restinga arbórea, passou de 33,92 milhões de hectares para 31,06 em 2023.

A formação campestre foi a classe que, proporcionalmente, mais perdeu área em 39 anos, principalmente para a conversão em áreas de agricultura e pastagem, uma redução de 27% em relação a 1985, quando ocupava uma área de 2,45 milhões de hectares. Em 2023 essa área passa a ser 1,79 milhão de hectares. A diminuição na área de formação campestre foi observada em todos os anos da série histórica, porém entre 2003 e 2019 essa perda foi mais acentuada, com média de 28 mil hectares a menos por ano.

“A Mata Atlântica convive simultaneamente com o desmatamento e a regeneração, mas em regiões que não coincidem. Ainda perdemos matas nas regiões onde ainda há uma proporção relevante de remanescentes e ganhando onde a devastação ocorreu décadas atrás e sobrou muito pouco. O desmatamento zero e a restauração em grande escala vão garantir o futuro do bioma, contribuir para enfrentar as crises globais do clima e da biodiversidade, garantir serviços ecossistêmicos e evitar tragédias localmente”, afirma Luis Fernando Guedes Pinto, Diretor Executivo da Fundação SOS Mata Atlântica.

O bioma concentra 51,5% de toda a área urbanizada no Brasil, com um aumento de 2,5 vezes da área ocupada em 1985, cerca de 1,3 milhões de hectares a mais. Os estados com maior expansão em área foram São Paulo, Paraná e Minas Gerais, com 707 mil hectares, 294 mil hectares e 227 mil hectares de áreas urbanizadas em 2023, respectivamente.

Agricultura avança sobre áreas de pastagens

Entre 1985 e 2023, a área agrícola na Mata Atlântica teve um salto de 91%, passando de 10,6 milhões de hectares para 20,2 milhões de hectares – um ganho de 9,5 milhões de hectares. De toda a área de agricultura no Brasil, um terço (33%) encontra-se na Mata Atlântica. Os estados com maior aumento proporcional de agricultura nos últimos 39 anos foram Rio Grande do Norte, Mato Grosso do Sul e São Paulo.

Se a agricultura foi a classe de uso antrópico que mais cresceu no bioma desde 1985, a pastagem foi a que mais perdeu, principalmente pela conversão para cultivos agrícolas. Apesar disso, em 2023, a pastagem ainda representa o principal uso antrópico do território, ocupando 26,23% de toda a área do bioma, ou 29,02 milhões de hectares. As áreas de agropecuária, incluindo pastagem, mosaico de usos, agricultura e silvicultura, passaram de 69,81 milhões de hectares em 1985 para 71,99 milhões de hectares em 2023. Nesse último ano, 28% dos municípios da Mata Atlântica têm a agricultura como uso predominante.

A soja e a cana-de-açúcar somam 87% da área de lavoura temporária do bioma. Em 39 anos, o cultivo da cana-de-açúcar cresceu 225%, um ganho de 4,2 milhões de hectares. De toda a área de cana-de-açúcar do país em 2023, 66% ocorrem na Mata Atlântica e têm no estado de São Paulo seu maior destaque, com 71% de todo cultivo no bioma. A soja apresentou aumento de 4,5 vezes na área cultivada, passando de 2,4 milhões de hectares em 1985 para 10,6 milhões de hectares em 2023. Paraná e Rio Grande do Sul concentram 76% dessa cultura na Mata Atlântica. As lavouras temporárias incluem, além da soja e cana-de-açúcar, arroz, algodão e outras lavouras temporárias. A Mata Atlântica abriga 33% desse tipo de cultivo no Brasil.

A silvicultura teve sua área quadruplicada em 39 anos, passando de 900,39 mil hectares em 1985 para 4,51 milhões em 2023. Isso equivale a 50% da área de florestas plantadas em todo o país. Santa Catarina, Paraná e Bahia somam mais de 60% da silvicultura da Mata Atlântica.

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Texto produzido pelos jornalistas da redação do #Colabora, um portal de notícias independente que aposta numa visão de sustentabilidade muito além do meio ambiente.

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